Capítulo 10

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      "Nós temos aquilo que realmente amamos, se não temos medo de perder é porque não amamos verdadeiramente".

     Marcel me embalava em seus braços de forma calma e sem pressa. Eu não queria que ele parasse e nem queria sair tão cedo dos braços dele.

     Após ele ter declarado-se publicamente, nós não havíamos comentado sobre o assunto. Nós voltamos em silêncio para casa e não tivemos notícias de Ângela ou Luka, eles saíram sem que ninguém os visse. Eu pude imaginar a vergonha dos dois, Ângela rejeitada por um homem e Luka que apanhara feio e por isso eu não conseguia esquecê-lo. Ele estava tão ferido...

     E o pior de tudo, eu até gostei do beijo, mas o Luka não se comparava ao Marcel.

     Marcel recebeu o prêmio em uma categoria na qual eu não sabia e que devido a confusão necessitou recebê-lo em casa. A euforia dele ao receber foi como uma criança com um presente novo de aniversário. Naquela noite Marcel até cozinhou para nós em comemoração.

     As palavras trocadas entre Marcel e eu tinham sido as mínimas possíveis, mas eu não suportei isso por muito tempo, e após quatro dias eu fui atrás dele mudar isso. Marcel estava no escritório.

      - Até quando vamos agir assim como se nada estivesse acontecido? Sei que fui errado em ter retribuído o beijo do Luka, mas e tudo o que você disse lá na premiação? Foi em vão? Da boca pra fora? - ele estava sentado em uma espécie de mesa/escrivaninha com um caderno de partituras e uma caneta nas mãos. Usava somente uma cueca preta, Marcel andava sempre seminu em casa e eu já começara a me acostumar com isso. - Eu sei que deve estar irritado e com razão, mas você acha mesmo que se eu quisesse o Luka eu estaria aqui com você durante esse tempo?

     Marcel não fez nenhum sinal de que fosse me responder, ele estava completamente concentrado em seus rabiscos, porém eu sabia uma das formas de chamar a atenção dele para mim.

      - Acho que já dei trabalho demais aqui. Arrumei a minha mala e estou partindo, obrigado por tudo Marcel.

     Quando eu estava prestes a me virar para sair, vi de relance que Marcel pousara sua caneta de lado e me encarava de forma profunda. Cheguei a achar que me encontrava nu em frente dele, o que foi um erro pois ruborizei imediatamente.

      Indo embora? - Marcel continuou a me olhar,- E para onde pensa ir? Voltar para o seu pai? O mesmo que te vendeu a mim? Ou para casa da sua amiga, a que foi traída pelo próprio namorado com você?

     O choque foi eletrizante, me senti aberto e lido por Marcel. Como ele sabia sobre a Julie?! Ou pior, como ele descobriu que ela era namorada do Luka...

      - Isso mesmo, talvez volte a morar com meu pai, talvez eu arrume um emprego, -por mais que qualquer uma dessas alternativas me causasse náuseas, eu tinha começado aquela discussão, mas como todas as outas eu não sabia como acabá-la.- talvez eu volte a estudar e viva na rua, em uma esquina qualquer. Contudo, não terei que morar com alguém que me ignora todos os dias, alguém que só quer de mim o sexo, alguém que...

      - Alguém que te ama? - Marcel bateu na mesa com com punho cerrado e o sangue pulsando visível em sua jugular.- Alguém que goste tanto de você a ponto de brigar em uma das festas mais importantes, sem se importar com reputação ou com qualquer repercussão posterior? Então é isso Seth? É o que prefere? Então depois de tudo o que eu vi não tenho o direito de me irritar? E foda-se o Luka ou qualquer outro.

     Marcel levantou e veio em minha direção, seu rosto estava vermelho com uma raiva que era preocupante, eu sabia que sua irritação tinha um motivo concreto e que ele tinha todo o direito de se sentir traído, eu não podia culpa-lo por aquele ataque de fúria. Como ele mesmo havia retratado em suas palavras, ele me defenderia com unhas e dentes sem ligar para qualquer consequência. Marcel sabia muito em amar, mas eu estava em um tornado de sentimentos e não sabia demostrar os meus sentimentos por ele.

Shades of hysteria ( Romance gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora