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POV BIANCA

Eram exatamente sete horas da manhã quando o meu despertador me acordou. Hoje é sábado, mas eu teria um dia cheio. A semana toda tem sido muito corrida. Reunião atrás de reunião, uma loucura. O dia do lançamento dos meus primeiros produtos de maquiagem estava chegando, eu estava ansiosa, eufórica, feliz. 

Levantei e fui ao banheiro, tomei um banho gelado, fiz meu skin care, escovei meus dentes e saí dali a caminho do meu closet. Vesti uma calça jogger bege, uma blusa rosada e uma jaqueta quase da mesma cor da calça. Prendi uma parte do meu cabelo e deixei o restante solto, fiz uma maquiagem leve e estava praticamente pronta para o meu dia.

- Bom dia, Prin. - cumprimentei a B2 assim que cheguei na cozinha, onde ela terminava de preparar o nosso café. A Bianca Venturotti é uma das minhas melhores amigas e também faz parte da minha equipe. Nós moramos juntas a alguns anos. 

- Bom dia, Maria Julia. - ela falou fazendo a voz de neném que a gente costuma usar uma com a outra. - Pronta para o dia de hoje?

- Prontíssima. Tenho reunião agora pela manhã com a Payout, depois pausa pro almoço, consulta com a psicóloga, reunião com a equipe e por fim, sabadou. 

-Não tá esquecendo de nada não, minha rosan? - ela retrucou com a sobrancelha arqueada.

-Tenho a impressão que sim, mas a semana foi tão corrida que as vezes é difícil ter certeza de tudo. Vou olhar na agenda.

Peguei o celular para confirmar o que eu tinha programado para o dia de hoje. 

- Sete de agosto. SETE DE AGOSTO. PUTA QUE PARIU O MEU ENCONTRO COM A BOAZUDA DAS CARTAS É HOJE, PRIN. 

- Muito me estranha você ter esquecido. Ficou falando disso sempre que tinha uma brecha, desde que recebeu a carta. - Ela falou rindo.

- Nem me fale, estou muito ansiosa pra ver a carinha dela. - Suspirei e comecei a tomar o meu café.

O dia seria longo e muito cansativo, mas no horário marcado estarei em casa, pronta para conhecer a mulher que tem alegrado os meus dias. 

POV RAFAELLA

É hoje! Foi a primeira coisa que eu lembrei assim que acordei. Estou esperando ansiosamente por esse dia, desde que enviei a última carta. Os meus dias eram cheios, mas ao mesmo tempo vazios. Como eu estou sozinha em outro país, me limito a ir as minhas aulas e voltar para a solidão do meu quarto.  Nesses momentos, eu geralmente leio, pratico diálogos, escuto música e quando nada disso me ajuda a passar o tempo, eu vou ao Central Park. Lá é um lugar lindo, tem bastante verde, muita gente e muitos doguinhos. Respirar ao ar livre me ajuda nos meus momentos mais complicados. 

Enfim, hoje é sábado. Sete de agosto, dia do meu encontro com a Bianca. Na verdade, não é bem um encontro, já que não vamos nos ver, vamos apenas conhecer o rosto uma da outra, o que pra mim já é muito incrível.  Não vejo a hora de saber como ela é.

Olhei o relógio e eram seis horas da manhã, eu só teria aula as dez, mesmo assim não consegui ficar na cama. O dia hoje estava frio, então tomei um banho morno e vesti uma calça e uma blusa preta, calcei meu coturno da mesma cor e escolhi um sobretudo cinza. Decidi que tomaria café da manhã na Starbucks que tem próximo a Juilliard School, onde eu teria aula até as quatro horas da tarde. Eu teria tempo suficiente para voltar para casa e me preparar para ver o rostinho dela pela primeira vez. 

NARRADOR POV

7 de agosto de 2021 - 19 horas (horário de Brasília)

Quem não quer encontrar a tampa da sua panela ou a metade da sua laranja que atire o primeiro coração! E nessa empreitada -curiosa e até mesmo incerta- para se completar e se somar vale de tudo. Existe quem acredite na sorte, e ache que encontrar aquele alguém vem do acaso, um leve esbarrão em um dia agitado, seguido daquele olhar que se declara. Existe quem vê o destino como determinante e o precursor de uma bela história, "há de acontecer não importa o que aconteça", confiantes esses. Existe quem se tornou descrente e vê relacionamentos como acordos, esses não precisam de nota. Existe até quem passa a responsabilidade toda para as flechas dos cupidos, os incumbindo de serem certeiros, pobres querubins. Sorte ou azar, destino ou acaso, querubins ou não, Vinícius já cantava, com certa malícia e tristeza: A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. Para todos esses, há quem diga - e elas dirão- que não se vive só uma vida, e então, se alguém perguntar como elas se conheceram, dirão apenas que se reconheceram.

COM CARINHO, BIA.Onde histórias criam vida. Descubra agora