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― Chefinho tá querendo te ver! ― disse Tenten aparecendo na porta da minha sala. ― Acabei de descer de lá e ele mandou te chamar.
Ela era minha colega de trabalho com quem eu tinha mais afinidades. Uma mulher incrível, de cabelos castanhos sempre trançados, e olhos grandes. Éramos quatro gerentes de contas especiais, sendo a minha conta a maior e mais importante, pois eu detinha quarenta por cento do faturamento bruto da empresa.
Neji , outro colega e grandessíssimo filho da puta, que tentava a todo custo ocupar meu lugar, tinha mais clientes que eu, mas os meus eram os mais importantes, e os mais rentáveis também.
O Lee cuidava de pequenas contas, pois era o mais novo da equipe, estando com a gente há pouco mais de seis meses.
Eu tinha acabado de entrar no setor de Gestão de Contas Especiais, cumprimentado meus colegas e assim que me sentei à minha mesa, que ficava no fundo do corredor de paredes de vidro, Tenten entrou pela porta, sem bater.
― Credo, mal me sentei! ― Eu estava ligeiramente atrasado...
―  E se prepara, porque sua reunião com o chefinho vai ser junto com o Gaara , e pela cara dele...
― Reunião? ― Imediatamente verifiquei meu e-mail para ver se tinha perdido alguma informação importante, mas não havia nada da empresa desde o dia que tinha saído de férias.
― Não tenho nenhuma reunião marcada pra hoje.
― Modo de falar, Sasuke.
― Ah! ― Recostei-me na cadeira e sorvi um gole do meu café.
― Provavelmente o mala do Gaara  tá querendo roubar algum cliente meu. ― Dei uma risadinha perversa, pois se tinha uma coisa que me motivava era a tal da competição, e ser o número um da empresa, e ainda poder esfregar isso na cara do Gaara , era uma massagem no ego.
― Sendo assim, vai logo e me conta a resenha depois. ― Ela piscou o olho e saiu batendo seu salto agulha no chão de porcelanato. Não tive muita pressa, terminei meu cafezinho e fui ter com meu chefinho, ou melhor, com sr. Jiraya, o CEO da H&H Co..
Assim que cheguei no andar da presidência, um acima do meu, a secretária do sr. Jiraya me mandou entrar sem precisar me anunciar, pois minha presença já estava sendo aguardada.
― Bom dia! ― falei quando entrei na sala, mas ninguém respondeu. Meu chefinho, que estava sentado atrás da sua enorme mesa de madeira maciça, apenas acenou para que eu entrasse.
― Sente-se, por favor.
Ao lado, outra cadeira, e eu só conseguia ver o braço de Gaara, que nem se deu ao trabalho de se virar para me ver minha beleza estonteante entrando no recinto.
Eu teria feito uma piada ou coisa parecida, mas logo entendi que o assunto era sério, pois tanto sr. Jiraya quanto Gaara  estavam com caras de poucos amigos.
Meu chefinho, um homem na casa dos seus cinquenta e poucos anos, grisalho, mas sempre com um sorriso gentil no rosto, me encarou como quem quer me fuzilar com os olhos.
Gaara  apenas me observava pelo canto do olho e quando olhei para ele, ele bufou de raiva, como se minha presença fosse uma ofensa à sua existência. Estou ferrado! Pensei de imediato.
― Tudo bem aqui? ― Sorri de lado, minha marca registrada.
― Sasuke, você sabe por que saiu de férias, certo? ― Sr. Jiraya, que tinha os braços apoiados sobre sua imponente mesa, cruzou os dedos.
― Porque... Eu fui obrigado? Gaara  soltou uma risadinha. Ele, ao contrário de mim, nunca vendeu ou parcelou suas férias para a empresa, pelo contrário, se ele puder fazer uma maracutaia para estender seus trinta dias de férias em um ou dois dias, ele o faz.
Tudo bem, é direito dele, mas eu não sou assim, porque amo o que faço, meu estilo é workaholic, e procrastinação não faz parte do meu vocabulário. Se eu puder me manter cem por cento do meu tempo ocupado, então assim eu faço.
― Exatamente, você foi obrigado, porque no Japão nós temos que seguir as Leis trabalhistas. Nós temos regras. E essas regras precisam ser respeitadas.
― Claro! ― confirmei, pois ainda não estava entendendo aonde iria aquela conversa.
― Isso significa que você não pode trabalhar nas suas férias, Sasuke. ― Ele me encarou, como se esperasse de mim uma resposta. Olhei do seu Jiraya para Gaara , que me encarava com ira, e voltei a olhar para seu Jiraya, foi só então que eu entendi que, o que ele tinha dito, não era uma afirmação e sim uma acusação.
― Oh! ― Foi então que eu relaxei, afinal, não tinha feito nada de errado.
― Não, sr. Jiraya, eu não trabalhei nas minhas férias. Eu fui pra praia... ― Um sorriso rasgou meu rosto e eu suspirei, pois a lembrança de Naru veio imediatamente à minha mente, mas eu já estava recuperado da paixonite que nutri por ele por dias, que naquele momento não passava de uma lembrança gostosa, ou melhor, uma foda gostosa.  
Mas sr. Jiraya não sorriu, e continuou me encarando com aquele olhar acusatório e desconfiado, mesmo que minha pele ainda denunciasse a verdade das minhas palavras, pois ainda carregava um leve bronzeado.
― Eu juro, sr. Jiraya. Eu passei minhas férias mudando de apartamento e em Suna. Nem abri meu notebook nem nada... Pelo contrário, só verifiquei minha caixa de entrada hoje, quando entrei na minha sala.
― Mentiroso do caralho! ― Gaara  abriu a boca pela primeira vez no dia, justamente para me xingar.
― Meu Kami, que absurdo! ― Levei a mão ao peito, como se estivesse ofendido pelo xingamento, mas na verdade eu só queria xingá-lo de volta, ou dar um soco na sua cara, tanto faz.
― Sr. Jiraya, eu não trabalhei nesse período, inclusive antes de sair de férias enviei e-mails pra todos meus clientes avisando que estaria ausente durante duas semanas, e que, se eles precisassem de alguma coisa, era pra falar com a Tenten.
― Não trabalhou, é? ― Gaara  se virou para mim.
― E o que o nome Uzumaki significa pra você?
― Nada... ― Dei de ombros. Na verdade, eu conhecia bem a Uzumaki, uma empresa que há tempos a H&H Co. vinha tentando incorporar no seu hall de clientes. E quando a Uzumaki nos enviou uma carta convite para participarmos da licitação para convocação de uma nova empresa de gestão de TI, Gaara  logo se colocou à frente da negociação, pelas minhas costas, alegando ao sr. Jiraya que tinha espaço em sua carteira para gerir essa nova conta, diferentemente de mim, que tinha uma agenda lotada, e a Uzumaki, por ser uma grande corporação, precisava de atenção especial, algo que eu não poderia dar.
Grande mentira, pois ele tinha mais clientes que eu, que daria conta facilmente, pois sou muito comprometido com meus clientes, mesmo que isso signifique horas e horas extras de trabalho. E apesar de não gostar muito do Gaara , e ter achado sua atitude pouco profissional, eu jamais passaria por cima dele, e simplesmente abri mão da concorrência.
― Nada? ― Gaara  riu com sarcasmo.  ― Você é um idiota, Sasuke. Meu queixo caiu.
― O senhor tá vendo isso? Ele tá me xingando, pela segunda vez! ― Fiz queixa ao seu Jiraya.
― Gaara, por favor, mantenha a compostura.
― Me desculpa sr. Jiraya, mas não dá pra manter a compostura quando um filho da puta como o Sasuke simplesmente age pelas costas e rouba uma conta que deveria ser minha.
― Hei! Calma aí, rapaz. Eu não roubei nada de ninguém, e não sei do que você tá falando. ― Elevei o tom de voz, mas sem desrespeitar meu chefinho, um cara eu tinha um apreço enorme.   
― A Uzumaki é nossa, Sasuke. ― disse seu Jiraya com toda a calma do mundo.
Um silêncio se fez por segundos.
― Oh! Uau! ― Um sorriso de felicidade apareceu em meu rosto, não por mim, mas pelo seu Jiraya, pois eu sabia o quanto essa conta significava para a empresa.
― Porra! Parabéns, cara! ― Apertei o braço de Gaara.
― Vai pra merda! ― Ele puxou o braço, se levantou e saiu da sala, batendo a porta em seguida. Que malcriado!
― O que deu nele? ― Apontei para a porta, olhando para seu Jiraya.
― Eles querem você, Sasuke.
― O quê? ― Senti um baque com a notícia.
― O próprio Uzumaki Naruto me ligou na sexta-feira dizendo que nossa empresa tinha vencido a licitação, mas que ele quer você pra gerir a conta, não o Gaara.
― Mas como? Isso não faz o menor sentido... Sexta-feira eu ainda estava de férias... ― Meus olhos cresceram e foi então que eu entendi toda a acusação de estar trabalhando no meu recesso.
― Chefinho, pelo amor de Kami, eu juro que não tenho nada a ver com isso. Eu nem conheço o CEO da Uzumaki.
― Chefinho? ― Ele cerrou o cenho, mas tinha um sorrio divertido nos lábios.
― Quer dizer, sr. Jiraya... Meu Kami, me desculpa, é que estou atônito...
― Tudo bem. E não se preocupe com Gaara, que eu mesmo lido com ele. Agora você precisa preparar sua equipe porque Uzumaki Naruto estará na sala de reuniões às dez horas da manhã.
― Minha nossa, eu preciso correr então, porque só falta... ― Peguei meu celular para verificar as horas.
― Uma hora. Vai lá... E parabéns!
― Obrigado, senhor. ― Eu queria sorrir, mas tinha pressa, e muita coisa para aprender sobre a Uzumaki, começando pelo edital de licitação, que eu precisava ler o quanto antes.

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