Capítulo 15

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P E T E R
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A chuva fina não dá trégua no caminho para o apartamento da Helena.

Ohio está cinzento e congelante; o breve sol que apareceu minutos antes não foi capaz de nos aquecer, talvez ele só estivesse ali para sabermos que era dia. O trânsito é horrível, principalmente no horário em que chegamos e com neve espalhada por toda a rodovia, fazendo com que o motorista do táxi dirija cautelosamente.

Talvez tenha sido uma ótima ideia eu não ter deixado o meu carro no estacionamento do aeroporto; não sei se estaria com toda essa paciência para nos levar para casa.

Repasso os últimos acontecimentos na cabeça e mesmo assim não consigo chegar a uma conclusão do que está por vir daqui pra frente. Um turbilhão de pensamentos e sentimentos me invadem, deixando-me mais ansioso a cada minuto que o relógio no meu pulso conta.

A impaciência só pode estar estampada na minha cara, porque a Ellie pousa a mão sobre minha coxa inquieta e pede que eu me acalme, o que é quase impossível.

- Hey, Peter Pan, você está bem? - a voz infantil do Noah me tira do transe.

- Hã, sim, estou. - respondo, aéreo. Ali, a conversa se encerra.

Meia hora depois estou enfiando a chave na porta da minha noiva, que puxa uma mala para dentro. Ajudo-a com o restante. O ambiente ainda tem o mesmo cheiro leve de lavanda que da última vez em que estivemos aqui, porém, está gelado. Sem mais delongas, ajusto o termostato e acendo a lareira, torcendo para que a casa aqueça logo. Noah volta minutos depois com algumas mantas, jogando tudo no sofá.

Ninguém ainda disse nada, mas o silêncio não é tão desconfortável quanto parece. Acho que todos estão inertes em suas próprias bolhas; mas Helena logo quebra isso.

- Vocês estão com fome? Talvez possamos pedir comida... - ela sugere.

- Não! - o garoto e eu falamos em uníssono.

- Tudo bem.

Palavras silábicas e contidas, sem mais perguntas.

- Bom, estou indo tomar um banho. - a mulher anuncia para ninguém em especial e sai em direção ao quarto.

Noah e eu nos olhamos e damos de ombros antes dele seguir para o próprio quarto. Ainda assim, penso se não fomos grossos ao responder a sua mãe. Espero que não.

Preciso ir na casa da Jess o quanto antes, mas, por mais que eu queira, estou me sentindo esgotado para fazer agora. Acho que um cochilo antes me daria um pouco de energia para enfrentar a bomba, seja lá qual for.

Pretendo especular o por quê dela só me procurar agora, preciso saber o real motivo da Davina não ter me ligado antes. Sei que me afastei dela e do seu marido depois de tudo que aconteceu, mas eles também foram embora poucos meses após o ocorrido. A família da Chloe não queria me ver; eu praticamente fui o principal motivo da morte dela. Por minha causa ela acabou cometendo suicídio.

Por muitas noites pensei se teria sido diferente se... Idiota! Mas é claro que sim, fui um estúpido, filho da puta e...

Meu telefone vibra no bolso traseiro da minha calça, me arrancando um xingamento baixo. É da delegacia.

- Lins falando.

- "Lins falando". Quanta formalidade, garanhão! - a voz melódica e engraçada da minha amiga retumba pelo celular.

- E aí, Mad-Mad! O que tá pegando?

Nos sentimos à vontade para nos tratarmos dessa forma desde a primeira vez que nos vimos, e a garota já era policial. Começou muito mais nova que eu.
Me ajudou com várias coisas, desde a empunhar uma arma até como conseguir que a máquina de bebidas da delegacia soltasse mais de um refrigerante por vez.
Dormi com a Mad uma vez, ambos não queríamos compromisso, mas logo depois ela saiu do armário e se assumiu lésbica. Não tem nada a ver com o Peter atual, mas o antigo topou ser seu namorado de fachada por um período. O Ed tentou investir nela tarde demais; a mulher já estava em outra.

Depois do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora