Capítulo 22

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P E T E R
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A Chloe sobreviveu, a Chloe sobreviveu, a Chloe sobreviveu... A frase continua se repetindo como um mantra na minha cabeça, e mesmo assim ainda não sou capaz de acreditar. Acabei de desligar o telefone após falar com minha noiva, mas ainda não tive coragem suficiente para revelar, além do mais, não é uma coisa qualquer para dizer de qualquer jeito. Preciso de cautela.

- Você está bem? - minha irmã pergunta pela trigésima vez desde que a Davina foi embora.

Depois da grande revelação aconteceu muitas coisas: Jessie derrubou a bandeja de xícaras na qual levava o café, Abby caiu da janela depois de tentar escapar para brincar na neve do jardim, e eu quase tive um treco. Precisei de dois copos de água e vários gritos antes de voltar a realidade. A Sra. Evans foi embora quando tive que levar minha sobrinha até o hospital, mas me deu um cartão com seu número de telefone para que eu pudesse ligar e marcar um novo encontro. Ainda estou confuso, não pude tirar todas as dúvidas que queria, saber se a Chloe estava bem e onde morava. É loucura ainda estar viva depois de ter pulado de um penhasco. Um penhasco!

Que porra está acontecendo na minha vida?

- Peter?

- Eu estou bem. - murmuro, estacionando na garagem da Jessie.

Sem dizer nada, saltamos do carro e eu retiro a garota adormecida no banco de trás, que agora ostenta quatro pontos no queixo. Espero a mulher abrir a porta e subo diretamente pelas escadas, levando Aubrey para o quarto e depositando-a na sua cama de lençóis cor-de-rosa. Ela resmunga um pouco, sonolenta por causa do analgésico que deram, mas não acorda. Deixo o cômodo que acho grande demais para uma criança, e volto para a entrada. Preciso sair daqui, caminhar um pouco ou até mesmo dirigir para espairecer sem que ninguém fique no meu pé.

- Aonde você vai?

- Só preciso sair um pouco. - Jess me olha com apreensão, tentado não demonstrar, mas é impossível não perceber. - Não se preocupa. - acrescento.

Deixo a casa, tentando ter uma vaga ideia de para onde ir enquanto enfrento o pequeno engarrafamento. Acho que ainda não estou pronto para conversar com a Helena, então o melhor a se fazer é esfriar os neurônios. Depois de minutos pensando e dirigindo, decido fazer a coisa mais louca que me vem à cabeça: ligo para a Sra. Evans.

O celular toca algumas vezes antes que ela atenda:

- Alô? - sua voz é suave do outro lado da linha.

- Sou eu... O Peter. Desculpa, sra. Evans, mas preciso saber do resto da história ou... - ela me interrompe.

- Mas é claro, eu sabia que você não esperaria, afinal, já esperou até demais por isso. Estou hospedada no hotel...

Não penso duas vezes ao fazer o retorno, indo em direção ao Sul, meu novo trajeto. Depois de vinte e cinco minutos que mais pareceu uma hora, o lugar chique e de fachada moderna não demora muito a surgir, com o grande letreiro prata e dourado no topo. Um manobrista de meia idade pega meu carro e me entrega o ticket assim que paro na frente do hotel, e dois seguranças abrem as portas de vidro para eu entrar. Puta merda, quanta pompa! O lobby é enorme, mas não fixo muito nos detalhes extravagantes; apenas me apresento na recepção e espero que a moça do terninho com as cores do hotel interfone para o quarto da Davina, que não demora ao liberar minha entrada. Aciono o elevador e subo até o nono andar, batendo na porta de número 356, encontrando a mesma mulher de horas atrás.

Ela me recebe em silêncio e depois passa por mim, se acomodando no enorme sofá de couro, indicando o outro da frente.

- Gostaria de beber alguma coisa? - me oferece, mas educadamente balanço a cabeça em recusa. Estou aqui com apenas um objetivo.

Depois do AcasoOnde histórias criam vida. Descubra agora