Capítulo 7

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Gillian



Começamos a gravar numa manhã quente em Los Angeles.
 Felizmente contratei uma babá, embora não estivesse nem um pouco segura em deixar Ruby sozinha com ela.
 Michael dizia que eu estava exagerando.


— Ela é de uma agência confiável, Gillian.


— Mas será que ela é confiável?


— Claro que sim.


— Eu não sei...


— Eu ficaria com ela se não estivesse gravando.


— Eu sei. — Eu o fitei, por cima da minha xícara de café e segurei sua mão. — Obrigada por estar aqui, Michael.

Ele sorriu.

— Eu sempre estou, não é?


Acenei positivamente, enquanto ele se afastava, sentindo um vazio estranho. Alguma coisa errada com aquele cenário que criei ali, como se fosse a roteirista da minha própria vida.

Eu achava que estava fazendo o certo quando gritei "Ação" há pouco mais de um ano. Agora, parecia um filme fadado ao fracasso sem que eu conseguisse impedir.

Seria normal se sentir infeliz de vez em quando? E se estes momentos começassem a fazer parte da sua vida? 
Seria normal?
 Escutei os gritinhos de Ruby enquanto me aproximava do seu quarto e sorri.
 Claro que eu não era infeliz. Não podia ser infeliz com meu bebê. 
Era tudo o que eu tinha.

O meu mundo só passou a fazer sentido de verdade quando ela nasceu.

— Estou indo — avisei, entrando no quarto e a babá sorriu.

Brittany, era uma moça que chegou a pouco à cidade vinda de Chicago e que trabalhou com famílias importantes por lá... E que parecia muito competente e foi muito bem indicada. Porém, eu não conseguia deixar a preocupação de lado.

Ruby estendeu os bracinhos pra mim com seu sorriso banguela e eu a peguei no colo, a apertando contra mim.

— Se acontecer qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, pode me ligar.


— Fique tranquila, senhora.

Beijei Ruby e a passei para a mulher, sentindo uma vontade imensa de desistir de tudo e ficar ali com ela.

Quando cheguei no estúdio estava com os olhos inchados e vermelhos.


— Meu Deus, o que aconteceu? — a maquiadora indagou e eu ri.


— Deixei minha filha com uma babá pela primeira vez hoje.

Ela sorriu indulgente.

— Sei como é isso. Mas você se acostuma.

— Espero que sim.

Uma hora depois eu era de novo Aurora, a personagem criada por Mel Blake que conquistou uma legião de fãs adolescentes no mundo todo.

Senti certa nostalgia em andar pelo set, pelos cenários do que seria um casarão em Nova York, para encontrar Louis também caracterizado como seu personagem, o que me deixou ainda mais nostálgica.

Parecia que de novo eu era aquela menina tentando não se deixar levar pela química mais poderosa que eu já tinha sentido, uma química que eu sequer entendia.

Só que agora eu era adulta. Não precisava mais implicar com Louis por qualquer coisa, apenas porque não sabia como lidar com aquela atração proibida.

A merda era que a atração proibida ainda estava ali, em algum lugar sob a superfície. Porém, era lá que ia continuar.

Soterrada por todas as escolhas que fiz.

Nosso último segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora