Capítulo 3

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Gillian




Ouvi o carro sair cantando pneus e soltei o ar lentamente.
 Minhas mãos tremeram levemente. Ruby choramingou no meu colo e eu me obriguei a relaxar.


— Shi... precisa dormir — murmurei tentando acalmá-la. 
Afastando meus pensamentos de Louis por um momento, até que ela dormiu.
 Coloquei-a no berço e passei os dedos levemente por seu cabelo aloirado.


Então peguei o celular e disquei para Joy, que atendeu com voz de sono.

— Ei, já dormindo? Achei que estaria curtindo suas férias — brinquei

— Gigi? Que merda aconteceu? — ela ficou mais alerta quando percebeu que era eu.

Joy Sullivan era minha assistente há alguns anos e na verdade eu a considerava uma boa amiga, ou ela era o mais próxima disso que eu tinha.

Nunca fui boa em fazer amigos de verdade. Desde criança eu tinha a impressão de que as pessoas se aproximavam de mim com algum interesse. Gente que queria embarcar na minha boa sorte em Hollywood, por exemplo. Ou gente que já brilhava muito, cujos egos eram do tamanho do universo e que sempre pensam primeiro em suas carreiras, com cada passo calculado para manter o sucesso intacto. Sem contar que nunca se sabia o que as pessoas seriam capazes de espalhar por aí. Manter segredos em Hollywood era bem difícil, então eu mantinha as pessoas a uma certa distância segura. E mesmo Joy, não sabia de tudo sobre mim.

— Eu aceitei participar de Vampiros de Nova York.

— Cala a boca! — gritou. — Achei que tivesse recusado? Como assim só estou sabendo agora?

— Estava de férias do outro lado do mundo.

Joy havia tirado férias indefinidas que já duravam três meses. Eu havia insistido nisso, já que ela nunca tirava férias e costumava ficar a minha disposição quase o tempo todo. Depois do nascimento de Ruby, decidi não me comprometer com nada por um tempo e pude dizer a Joy que estava livre também.

Agora ela estava indo para a África, pelo o que eu me lembrava.

— Tinha que ter me contado!

— Não queria atrapalhar você, está de férias.

— Mas se me ligou é porque precisa de alguma coisa.

— Sim, me desculpe. As filmagens vão começar muito em breve e eu preciso arranjar uma babá para Ruby.

— Claro que sim, mas achei que não ia querer uma pessoa estranha na sua casa.

Desde que engravidei de Ruby, decidi tirar um tempo do trabalho, mesmo porque não estava a fim de ter paparazzi correndo atrás de mim grávida o tempo todo se estivesse envolvida em algum projeto ou divulgação. E depois que ela nasceu, eu queria cuidar da minha filha — sem interferências. Seja do público ou da mídia, que às vezes achava que tinha direito de meter o bedelho na nossa vida pessoal, ou de pessoas estranhas na minha casa, mesmo uma babá. Minha mãe gostava de me criticar, perguntando se eu ia virar uma dessas artistas excêntricas. Mas ela sabia que eu detestava toda a atenção que minha profissão trazia pra mim. Não era a parte mais divertida de atuar em Hollywood. Sim, eu gostava de ter bom salário e não me preocupar com dinheiro. Gostava de poder fazer um trabalho que eu amava. Mas não curtia ter minha vida pessoal devastada.

Quando era jovem, não me importava muito com a atenção da mídia e público. Acho que até curtia um pouco, me sentia lisonjeada pelo interesse.

Porém, isso mudou com minha experiência em Vampiros de Nova York.

Desde aquela época não tive boas experiências com a mídia, o que inclusive, me fez escolher projetos mais discretos, digamos assim, o que fazia o interesse do público arrefecer um pouco.

Nosso último segredoOnde histórias criam vida. Descubra agora