Capítulo 8

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Gillian

Dez anos antes

Toda noite em que me sentava em frente a TV para assistir mais um filme com Louis, em vez de me levantar e ir embora depois que ensaiávamos, eu me perguntava o que diabos estava fazendo.

Quando ele disse que íamos assistir filmes, achei que estava zoando com a minha cara, mas Louis falou sério e eu já perdi a conta de quantos filmes assistimos. Alguns que eu já assisti com Michael e outros que nunca vi antes.

Eu tentava não ficar comparando aqueles momentos com Louis com os momentos com Michael, mas era inevitável.

Na verdade era inevitável comparar os dois.

Michael era lindo, com seus cabelos escuros sempre arrumados como um astro da Hollywood antiga. Se vestia bem e nunca o vi com uma barba por fazer. Comia alimentos saudáveis, malhava e fazia yoga e meditação. E vivia para sua carreira, sempre estudando e almejando dar um passo à frente.

Michael me inspirou a querer ser melhor, mas também me deixava insegura às vezes, como se eu nunca fosse estar a sua altura, por mais que tentasse.

Louis era o completo oposto.

Ele era desleixado, com os cabelos sempre precisando de um corte na barba por fazer quando tínhamos dias de folga de gravação. Suas roupas pareciam ter acabado de sair de uma mala e ele não se importava com a opinião alheia sobre isso, já que vários veículos da mídia e até os fãs comentavam de sua aparência desleixada. Ele bebia além da conta, fumava e sabia Deus o que mais fazia quando estava em uma de suas festas.

Sim, Louis era festeiro e eu sempre ouvia os comentários de Madison e Audrey com quem ele parecia andar bastante. Sem contar que não parecia levar a carreira a sério, aliás, eu duvidava que Louis pensasse sério sobre qualquer coisa. Ele vivia o momento como se não houvesse amanhã e isso era ao mesmo tempo fascinante e assustador.

Quando eu disse aos meus pais que queria ser uma atriz, eles me fizeram prometer que manteria os pés no chão e seria responsável. Com apenas 14 anos, jurei que nunca os decepcionaria. Nem mesmo quando descobri as traições do meu pai, quando mamãe o mandou embora de casa, eu ousei me rebelar, embora o esfacelamento da minha família tenha me magoado muito. Namorar Michael, aquele cara tão maduro e responsável, embora só tivesse 20 anos, me fez acreditar que era possível viver em Hollywood sem perder a linha.

Então veio Louis, o completo oposto. Tudo o que eu não queria ser. Tudo o que eu temia. E embora soubesse que devia me manter longe dele, me via cada vez mais próxima e fascinada pelo jeito que ele levava a vida.

E comecei a sentir como se eu fosse apenas uma espectadora em um cinema, vendo outras pessoas viverem plenamente seus filmes. Na verdade, tentava refrear aqueles pensamentos, porque não era sensato almejar viver como Louis. Porém, a cada dia que passava em sua companhia, aceitando a bebida alcoólica que ele oferecia, ou o refrigerante com açúcar que minha agente tanto abominava, sentindo vontade de saber como seria fumar um daqueles cigarros ou, o mais vergonhoso, como seria beijar Louis de verdade, mais confusa eu ficava.

Talvez isso tivesse a ver com o fato de Michael estar longe. Eu sentia falta dele, de como ele me mantinha equilibrada e grata pelo o que tínhamos. Queria que Michael voltasse e eu parasse de compará-lo a Louis e de me questionar se meu relacionamento com Michael era mesmo tudo o que eu queria.

E para completar, andava tendo pesadelos com as cenas que teria que gravar com Louis.

As malditas cenas românticas. Quer dizer, cenas românticas eram um eufemismo. Apesar de ser um filme baseado num livro para jovens, Catherine e Matt queriam que fosse bem sensual, ou pelo menos até o ponto de não se transformar num filme para maiores de 18.

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