Capítulo 3 - Herói, Culpa e Preocupação.

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Após a breve conversa que Camélia teve com Alberto naquela madrugada, ela se sentia mais leve. Conseguiu dormir tranquilamente, precisava estar descansada para receber seu ex tutor.

Na tarde daquele mesmo dia, Tales
chegou na mansão, e Camélia fez questão de recebe-lo.

- Já fazia muito tempo que eu não vinha aqui. Parece que mudou as cores. - disse Tales enquanto abraçava sua afilhada de coração. Trajado com seu terno azul escuro casual, e seu inseparável relógio de bolso.

- Eu quis dar um ar mais... De casa. - Camélia sorri com as mãos na cintura como se olhasse o lugar pela primeira vez.

- Isso é ótimo! - Ele se vira ao notar passos se aproximando.

- Trabalhando até no domingo, rapaz? - Tales sorri, Alberto se aproxima e o cumprimeta.

- Estou "morando" aqui as vezes. - Alberto sorri de volta e olha de relance para Camélia.

- Você está explorando esse menino não é, filha?!

- Que absurdo... - Ela ri olhando para Alberto. - Vem, vamos para jardim!

Alberto trocou apenas algumas palavras ao se sentarem na mesa que ficava no Jardim, os deixando a sós. Uma grande árvore fazia sombra sobre a mesa, e ao lado havia uma fileira de arbustos que funcionava como uma divisória entre o lugar. Caminhos de pedra se fendiam para vários lados.

- O senhor ficou tanto tempo fora, estava ficando preocupada.

- Com um cassino daquele para cuidar e ainda se preocupa com um velhote como eu? - Tales ri estentendo a mão e Camélia a segurou. Uma mão um tanto áspera mostrando os sinais da idade e dos anos que ele serviu a marinha.

- O senhor é mais importante, eu garanto!

- Fico lisonjeado!

- Com licença! - Diz Muriel se aproximado com o chá.

- Espero que essa menina não esteja te causado problemas, senhora Muriel...

- Vez ou outra me assusta, senhor Tales, no mais está tudo bem! - Muriel sorri gentilmente e se retira.

- O problema deles é se preocuparem demais comigo... - Disse Camélia enquanto olhava sua governanta caminhar.

- Agora você é uma mulher que bebe chá? - Tales ri pegando a xícara.

- Tenho meus momentos... 

- Eu também me preocupo com você, filha... Reger um cassino daquele, ter uma vida como a sua... Não é para qualquer um.

- Tem mais algum motivo para o senhor ter vindo além da sua ilustre aluna? - Camélia sorri, mas Tales se mantém em silêncio por um tempo com o olhar na xícara. 

- Os últimos acontecimentos tem chamado atenção, principalmente pela mídia. Jornais de vários lugares estão falando sobre o assassinato do desembargador.

- Entendo... - Um semblante sério surge e rapidamente se vai do rosto dela.

- Esse é um dos motivos do porquê alguns oficiais foram chamados.

Camélia bebe seu chá tranquilamente. Tales a olha colocando a xícara sobre a mesa.

- Camélia, você... Se envolveu nisso? - Ele suspira e a encara seriamente.

- Acredito que saberia se fosse...

- Não foi para isso que eu a treinei, Camélia!

- Está do lado daquele sujeito então... - Ela estava começando a se irritar.

- É claro que não! Mas ver essas coisas me assusta. Você já é uma mulher e independente, não deve satisfação a um velho, mas querida... Pense bem.

- Eu já pensei muito nessa vida.

- O que esse tipo de coisa vai mudar? ... Camélia, é arriscado. Se alguém sonhasse em suspeitar de você, eu não sei o que aconteceria.

- Qualquer um que entrar no meu caminho será eliminado, é simples! - Ela coloca a xícara na mesa bruscamente, suspira de forma profunda e continua.

- Não estou bancando a heroína, eliminando os vilões por ai, mas existe pessoas que só podem ser lidadas dessa forma... Sem contar que o Eurico atrapalhava meus negócios.

- Crimes graves para um desembargador foram expostos, ele com certeza ficaria preso por muitos anos.

- E ainda assim conseguiria movimentar os esquemas afundando a cidade e o Estado. Quem sabe até o país!

- Você tem um senso de justiça duvidoso... Apesar de me lembrar muito o seu pai nisso.

- Não... - Ela sorri. - Meu pai servia esse país as claras, dentro das leis. Não posso ser comparada a ele... Ele sim era um herói.

- Eu sei disso mais que qualquer um!

Tales sorri com pesar ao pegar um pequeno pingente em forma de âncora, que guardava no bolso esquerdo, parte interna do terno.

- Camélia, eu só peço que não se envolva com essa gente. Foi por causa desse tipo de pessoa que seus pais sofreram...

- É exatamente por esse tipo que eu faço o que faço. Mesmo que eu tenha me aposentado da "agência", esse é o único jeito que as vezes posso resolver. Estava quase certa que me deixariam em paz...

- Também estou longe de ser um herói. Saber de tudo isso é como...

- Você está totalmente fora das minhas ações, sequer alguma influência. Eu faço por conta própria! - Camélia levanta e se abaixa próximo a ele pegando sua mão.

- Sou eternamente grata pelo o que o senhor fez por mim, mas essas questões eu vou resolver sozinha!

Tales suavemente desliza a mão no alto da cabeça dela.

- Que bom que você tem o Alberto, não é?

- Sim...

- Eu só espero que essas coisas não te machuquem mais, minha filha. - O olhar de Tales estava tão triste e preocupado. Ver a criança que um dia ela foi, para a mulher que é hoje, ainda era difícil para ele assimilar.

- Eu sei me cuidar, não se preocupe!

Camélia NegraOnde histórias criam vida. Descubra agora