Já passado três dias desde que Alberto havia falando com Camélia por telefone, mas ele não ligou ou sequer apareceu na mansão depois disso.
Ele decidiu que o melhor jeito de tirar sua chefe da cabeça, era com o seu outro trabalho.Após a morte de Eurico, muitos na área judicial da cidade e do Estado ficaram resseosos. Isso porquê mesmo com os crimes expostos, alguns não acreditaram nas acusações, alegando que o homem havia sido silenciado simplesmente pela posição que ocupava de desembargador.
Coisa que não agradou Camélia,mesmo depois de arriscar a vida dela e de Alberto reunindo provas e eliminando Eurico.
Na mansão, Estela chegou por volta das 10:00 da manhã, estava prestes a voltar as suas andanças dentro e fora do país. Apesar de ter um grande apartamento em São Paulo, ela vivia como se fosse livre de qualquer responsabilidade.
O dinheiro investido das vinhas que comprou no Rio Grande do Sul, estava a todo vapor.
Dinheiro esse "herdado" depois de tanto sofrimento que passou nas mãos de um cafetão, tudo com a ajuda de Camélia anos atrás.- Estou voltando para São Paulo... - Estela disse setanda com as pernas esticadas na cadeira da piscina. Camélia estava na cadeira ao lado bebendo o vinho que ganhou da amiga.
- Eu vou estar lá daqui uns dias...
- Mesmo? Me avise quando for.
- Achei que você iria para Norte.
- Talvez eu vá mês que vem. - Ela sorri. - Tem um moreno lindo por lá com uma plantação daquele... Como se chama? Aquela frutinha roxa que fazem até sorvete.
- Açaí?
- Sim!!
- Tentei fazer o Beto comer isso, ele parece não ter gostado. A carinha que ele fez dizendo que parecia terra foi muito engraçada. - Um largo sorriso surge no rosto de Camélia ao se lembrar.
- Menino de cidade, criado a leite com pera, não sabe o que é bom. - Estela olha para trás em direção a mansão e se volta para a amiga. - Por falar no abençoado, onde ele está?
- Espero que no apartamento dele... Falei com ele apenas na terça por telefone.
- Que tipo de assistente é esse que some três dias? - Estela ri.
- Eu deixo ele livre, só isso.
- Livre demais... O que houve, brigaram?
- Não. Mas desde o dia que fomos ao Camarott ele não voltou aqui... Será que ele ficou chateado por ter provocado a Natalie aquele dia? - Apesar de aparentar preocupação, Camélia exalava deboche.
- Você sempre fez isso, deve ser outra coisa... Bom, talvez ele queira ficar mais... a sós com a namorada.
- ...... Com aquela lá?
Camélia olha seriamente para a amiga e finge ignorar o comentário, se servindo com mais uma taça de vinho. Estela sorri de um jeito travesso quando viu que sua provocação fez efeito.
- Por acaso... Está com ciúmes dele? - Ela ri tapando os lábios com a mão.
- Você ficou maluca? - Camélia ri alto imaginando o quanto isso parecia ridículo.
- E eu acertei em cheio mais uma vez!
- Não crie suposições ao meu respeito.
- Se eu pudesse eu registraria a cara que você fez agora. - Estela continua a rir e Camélia ignora com semblante sério.
- Não é problema nenhum você se sentir assim por ele. O Alberto é uma ótima pessoa!
- Ótimas pessoas também me magoaram... - Camélia suspira terminando sua taça. Mesmo que para ela, Alberto fosse a melhor das pessoas.
- Então isso não é sobre os outros, é sobre você. É você que tem medo de se machucar de novo.
- Estou errada em pensar assim?
- Em parte não. Mas você cria uma casca, se protege, e não se da uma chance... Já imaginou como seria bom compartilhar sua vida com ele, além dos negócios?
Um longo silêncio surge com essa pergunta.
- Não faz ideia... - respondeu Camélia se arrependendo logo em seguida, fazendo Estela ficar surpresa.
Os olhos da loira se enchem de lágrimas. Seria o álcool fazendo efeito ou felicidade pela amiga ainda conseguir sentir esse tipo coisa?
- VIU! Então sua boba, para de perder tempo.
- Ele tem namorada.
- Que se dane aquela sonsa! E desde quando isso foi empecilho para você?
- ... Achei que estava com pena dela.
- NÃO! Reconheço uma cobra criada quando vejo, aquela mulher não me engana.
- Eu também não sou a melhor das pessoas... - Camélia sorri, mas com tristeza.
- Não se compare de jeito nenhum. - Estela pega na mão da amiga. - Você é VOCÊ! Eu quero que pare de pensar que merece menos ou que não tem direito de viver isso.
- É mais fácil na teoria. Não é como se eu não soubesse de tudo isso... Só quero evitar sofrimento, para nós dois.
- Evitar sofrimento é deixar de amar o homem que você quer?
- Que eu quero? ... Estela, é só olhar para a minha situação. Ex-assassina de aluguel, sou conhecida no submundo dessa área. Tenho inimigos que arranjei nesses anos, pelos corruptos e bandidos que já matei. - Camélia suspira e continua.
- Eu já perdi tudo o que eu tinha, não quero ver isso acontecer de novo.- Pelo menos pense sobre isso... É sério! Você mesma disse que já se desligou daquela "agência". Até quando vai deixar isso te atrapalhar?
- Isso é consequência das escolhas que fiz. Pelo bem ou pelo mal, esse foi o resultado. Construí meu império... - Ela ri com uma angústia profunda enquanto seus olhos ficam carregados de lágrimas.
- E nada disso trouxe meus pais de volta. Isso é o que vou ter que carregar para o resto da vida.Camélia começa a chorar ao falar dos pais. Estela se levanta e se senta junto a cadeira abraçando a amiga.
Por trás de toda aquela armadura, ainda havia uma Camélia mais humana como qualquer outro.E apesar de Estela saber disso, ver esse lado frágil da amiga, partia seu coração. Porque mesmo ela estando ali, mesmo existindo pessoas que se importam com Camélia, no fundo ela se sentia vazia e um tanto sozinha. Coisa que as vezes nem mesmo a amizade e o amor de Estela, Alberto e Tales conseguia preencher.
Traumas de um passado que ainda feria Camélia, e impedia sua paz.
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Camélia Negra
General FictionEm um mundo onde muitas pessoas vivem de futilidade, existe uma mulher sagaz, independente e belíssima. Seu nome é Camélia! CEO de um luxuoso hotel-cassino, que obteve com a fortuna recebida de seu outro "trabalho". Ficou órfã ainda muito cedo, a m...