PRÓLOGO

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Existem mais versões de nós do que pessoas no mundo. Uma encruzilhada de pensamentos e emoções que por vezes são mutáveis, sujeitos a incontáveis incoerências. Algumas, para não dizer a maioria, estão tão enterradas e enraizadas que nem ao menos temos a ciência da existência. Medos e desejos entrelaçados na infinitude humana.

Afinal, o que realmente sabemos sobre nós e sobre o outro?

Todos do Império de Grifo conhecem o arquiducado de Ambrose. Não por seu amplo terreno e diversidade de frutas exóticas, ou pela chuva de estrelas que acontece anualmente a cada começo de inverno. Nem mesmo a fronteira com a Floresta Osíris, lar de terríveis demônios, era o que fazia dessas terras tão conhecidas. Mas sim seu próprio Senhor, o Arquiduque Ambrose. O amaldiçoado.

Ele vivia afastado do povoado, mas as paredes negras de seu castelo eram visíveis mesmo de longas distâncias. O aspecto tenebroso do seu próprio lar ajudava a fomentar os inúmeros boatos que o circulavam. O príncipe assassino que há duzentos anos foi amaldiçoado por um bruxo maligno a mando do próprio pai, o Imperador Ignell. Essa é a história que todos nascidos em Grifo conhecem, mas o que não sabemos é sobre a própria maldição. Uma condenação que fez um príncipe perder seu título e posses, mas que o manteve vivo para que acendesse novamente como um nobre em menos de dois séculos.

Um acordo com o Imperador Magnus havia sido feito há cem anos, em troca do título e das terras, acordo que permanece vigente até os dias de hoje. Parte do tratado era bem óbvio, afinal essas terras já foram à casa de bestas e demônios e somente graças à intervenção do Arquiduque com seu exército de Inquebráveis que podemos viver nesta província. E claro, o Senhor destas terras mantém a todo o império salvo das invasões dos monstros. Mas o que deixa a todos assustados, o que faz os pais usarem o nome de Ambrose como histórias de terror para assustar seus filhos, é o que acontece a cada vinte anos. A parte obscura do acordo com o Imperador.

A cada vinte anos, uma jovem dama é enviada como noiva para o Arquiduque Ambrose. Uma noiva que após adentrar as paredes escuras do Palácio Negro, nunca mais é vista novamente. O que faz com que os olhos de todo o reino estejam voltados para Ambrose, a terra do imortal amaldiçoado.

Mesmo agora, faltando duas semanas para a chegada da próxima noiva, as pessoas não podiam conter seu assombro em torno do assunto.

- Mabel? - Ana, a empregada chefe parou ao meu lado. - Por que está parada olhando para a janela? - perguntou rispidamente.

Ela seguiu a direção dos meus olhos e observou através das longas janelas de vidro que eu estava limpando anteriormente. Não demorou para ela perceber o que prendeu minha atenção, e como todos que olhavam para o Palácio Negro, seu corpo estremeceu com um calafrio.

- Como será que ele é? - eu não sabia dizer se ela falava sobre a aparência ou sobre a personalidade. Já era estranho ela estar falando comigo sem gritar ordens.

- Velho - respondi sem pensar muito.

- Eu soube que a próxima noiva já foi escolhida. A segunda ou terceira filha de um visconde. Dizem que o pai a vendeu.

- Como sabe dessas coisas? - diferente da Ana com seus quase cinquenta anos essa era a primeira vez que eu iria assistir a chegada da noiva. Por isso eu estava curiosa, todos estavam.

- Um conhecido meu é próximo de uma pessoa que trabalha no Palacio Negro. - me surpreendi com a revelação. Os servos do Arquiduque eram tão misteriosos quanto ele.

- E essa pessoa disse mais alguma coisa para seu conhecido? - ela me olhou consternada e negou com a cabeça.

- Mas ele me disse uma vez que segundo esse servo, as coisas que acontecem no palácio não passam nem perto do que imaginamos - foi a vez do meu corpo de estremecer. - Bom, isso não é da nossa incumbência de toda forma. Não me importo com o que aconteça dentro daquelas paredes escuras desde que permaneçam lá.

- E que as bestas permaneçam fora das nossas terras - completei.

E essa era nossa realidade. Existem tantas versões sobre o assassino amaldiçoado que as pessoas entorpecidas pelo medo esquecem que graças a ele que nós estamos seguros. O Palácio Negro é uma construção monstruosa não apenas na aparência, mas em tamanho e poder. As paredes altas e extensas do palácio ficavam na borda da floresta Osíris, impedindo a entrada das bestas famintas. Periodicamente o arquiduque sai em caçada juntamente com seu exército para impedir que elas aumentem de número. Um controle de praga sangrento, mas necessário.

Contudo, quanto mais se aproxima da vinda da noiva mais as pessoas ficam amedrontadas. A cada dia, novas especulações em torno da maldição do Senhor de Ambrose são formadas e não tem absolutamente ninguém para confirmar ou refutá-las. Talvez apenas o próprio Ambrose...


NOTA DA OUTONNO:

Olá migles!

Voltei com mais uma história para vocês aos sábados! Sentiram falta?

Esse livro é um projeto solo que não está vinculado com a Série Reencarnações Fantásticas, mas espero que apreciem e recebam esse projeto que foi escrito com todo o carinho para vocês!

Bjooos e até breve...

Persona - A Maldição de AmbroseOnde histórias criam vida. Descubra agora