Capítulo Onze

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Se nascêssemos com a habilidade de ler pensamentos.

Estaríamos preparados para viver com a verdade?



— Pode repetir? — disse Cecília. — Acredito que meus ouvidos estejam sujos, pois ouvi você dizer que irá para o povoado acompanhada pelo arquiduque? Só posso ter ouvido errado!

— Bell... — Drystan resmungou choroso em um canto do quarto.

— Não há engano algum — respondi pela terceira vez. Desde que eu voltei do escritório do arquiduque com os planos formados para pequena viagem, Cecília e meu adorável irmão mantinham-se em negação. — Amanhã, o senhor Ambrose e eu iremos para o povoado cuidar da biblioteca.

— Não pode! — Cecília se alterou, indignada. — Não tem a obrigação de atender as ordens do arquiduque, nem ao menos recebe para isso!

Eu gostaria de concordar com ela e lançar todas as minhas obrigações para o alto sem me importar com quem quer que estivesse embaixo, mas eu não posso sequer cogitar fazer algo assim.

— Creio que não seja possível, eu moro nas terras do arquiduque e independente de trabalhar para ele ou não eu tenho que seguir suas vontades como meu mestre. E eu vou ser remunerada — completei, ignorando o olhar afiado que ela lançou sobre mim.

— Mesmo assim, não é bom que você vá com ele!

— Se incomoda que eu esteja a sós com o arquiduque?

— Sim, me incomoda que você esteja com ele! — falou, caminhando pelo quarto.

— Não precisa se preocupar! Eu jamais olharia para o arquiduque com olhos gananciosos!

— O quê? — Ela parou de andar e me olhou com estranheza. — Não, não, não, não é isso! Definitivamente não é por isso que eu estou preocupada! O arquiduque não poderia me importar menos, é verdade.

Eu acreditava nela. Não porque seus olhos brilhavam com a sinceridade, e muito menos porque ela e o arquiduque apenas compartilhavam de encontros frios e educados — quando raramente se encontravam — mas, porque eu havia visto as marcas em seu corpo.

E se um dia houve um homem em sua vida, provavelmente não haveria outro...

— Então o que a esta incomodando? Eu sinceramente não compreendo.

— Eu estou preocupada com você, Mabel! Estar com ele é perigoso! — E como fez uma vez, ela tampou a boca com as mãos, como se as palavras saltassem dos seus lábios sem seu consentimento.

Drystan se aproximou de mim e como de costume, abraçou minhas pernas. Afaguei os cachos de seu cabelo para tranquiliza-lo.

— Por que é perigoso? — Ela me olhou perplexa.

— Eu preciso responder? — falou com a voz mais branda. — Não viu por si mesma, as coisas que acontecem nesse palácio? Ou você confia nele? Confia, Mabel? — disse com os olhos arregalados.

— Não, como poderia? É tudo tão estranho e sem forma nesse palácio, nada faz sentido. — Me sentei na ponta da minha cama, chamando Cecília para sentar-se ao meu lado enquanto aninhava meu irmão em meu colo. — Por isso, decidi quebrar a maldição!

Esperei alguns minutos enquanto assistia à expressão da minha dama mudar incontáveis vezes. Primeiro surpresa, conturbação, medo e por fim, entendimento. Acalmei meu irmão enquanto conversava em voz baixa com ele.

Persona - A Maldição de AmbroseOnde histórias criam vida. Descubra agora