Se nascêssemos com a habilidade de ler pensamentos.
Estaríamos preparados para viver com a verdade?
— Pode repetir? — disse Cecília. — Acredito que meus ouvidos estejam sujos, pois ouvi você dizer que irá para o povoado acompanhada pelo arquiduque? Só posso ter ouvido errado!
— Bell... — Drystan resmungou choroso em um canto do quarto.
— Não há engano algum — respondi pela terceira vez. Desde que eu voltei do escritório do arquiduque com os planos formados para pequena viagem, Cecília e meu adorável irmão mantinham-se em negação. — Amanhã, o senhor Ambrose e eu iremos para o povoado cuidar da biblioteca.
— Não pode! — Cecília se alterou, indignada. — Não tem a obrigação de atender as ordens do arquiduque, nem ao menos recebe para isso!
Eu gostaria de concordar com ela e lançar todas as minhas obrigações para o alto sem me importar com quem quer que estivesse embaixo, mas eu não posso sequer cogitar fazer algo assim.
— Creio que não seja possível, eu moro nas terras do arquiduque e independente de trabalhar para ele ou não eu tenho que seguir suas vontades como meu mestre. E eu vou ser remunerada — completei, ignorando o olhar afiado que ela lançou sobre mim.
— Mesmo assim, não é bom que você vá com ele!
— Se incomoda que eu esteja a sós com o arquiduque?
— Sim, me incomoda que você esteja com ele! — falou, caminhando pelo quarto.
— Não precisa se preocupar! Eu jamais olharia para o arquiduque com olhos gananciosos!
— O quê? — Ela parou de andar e me olhou com estranheza. — Não, não, não, não é isso! Definitivamente não é por isso que eu estou preocupada! O arquiduque não poderia me importar menos, é verdade.
Eu acreditava nela. Não porque seus olhos brilhavam com a sinceridade, e muito menos porque ela e o arquiduque apenas compartilhavam de encontros frios e educados — quando raramente se encontravam — mas, porque eu havia visto as marcas em seu corpo.
E se um dia houve um homem em sua vida, provavelmente não haveria outro...
— Então o que a esta incomodando? Eu sinceramente não compreendo.
— Eu estou preocupada com você, Mabel! Estar com ele é perigoso! — E como fez uma vez, ela tampou a boca com as mãos, como se as palavras saltassem dos seus lábios sem seu consentimento.
Drystan se aproximou de mim e como de costume, abraçou minhas pernas. Afaguei os cachos de seu cabelo para tranquiliza-lo.
— Por que é perigoso? — Ela me olhou perplexa.
— Eu preciso responder? — falou com a voz mais branda. — Não viu por si mesma, as coisas que acontecem nesse palácio? Ou você confia nele? Confia, Mabel? — disse com os olhos arregalados.
— Não, como poderia? É tudo tão estranho e sem forma nesse palácio, nada faz sentido. — Me sentei na ponta da minha cama, chamando Cecília para sentar-se ao meu lado enquanto aninhava meu irmão em meu colo. — Por isso, decidi quebrar a maldição!
Esperei alguns minutos enquanto assistia à expressão da minha dama mudar incontáveis vezes. Primeiro surpresa, conturbação, medo e por fim, entendimento. Acalmei meu irmão enquanto conversava em voz baixa com ele.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Persona - A Maldição de Ambrose
FantasiTodos do Império de Grifo conhecem o arquiducado de Ambrose, o lar do Arquiduque amaldiçoado. Alvo das histórias mais terríveis, ele é conhecido por ser o príncipe assassino que recebeu como castigo uma maldição que nenhuma das suas quatro noivas...