Capítulo X

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22 de fevereiro de 2019
(Quarta-feira)

Anaju on:

Abri meus olhos e uma luz forte machucou eles. Olhei ao redor e vi equipamentos hospitalares e um relógio na parede que marcava 16:00; presumi que estava em um quarto de hospital pelo cheiro de álcool e remédio que invadiram minhas narinas.

-Tem... alguém aí? -Falei com dificuldade, tentando me lembrar de como eu fui parar nessa cama de hospital.

-Ela acordou!! Doutor!! -Ouvi murmúrios vindo do outro lado do quarto branco, e no mesmo instante a porta se abriu.

Um médico de aparência serena, que mostrava ter entre seus 40 á 50 anos entrou no quarto sendo seguido por minha avó e meu pai.

-Olá Anaju! Como está se sentindo? -Ele falou parando do meu lado e colocando as mãos dentro dos bolsos do seu jaleco branco.

-Estou bem. Mas...como eu vim parar aqui mesmo? -Perguntei, dirigindo meu olhar para meus familiares que estavam do lado oposto do médico.

-Me conte do que você se lembra minha querida. -Meu pai falou fazendo um leve carinho no meu joelho.

Me forcei a lembrar de alguma coisa e tive alguns flashes:

"Depois que Mareara me abraçou eu me senti um pouco tonta, e saí da escola tão rápido que o porteiro nem me viu.
Fui correndo para floresta ao lado da escola e senti às lágrimas caindo no meu rosto.
Estava pensando em como eu não conseguia entender o que está acontecendo comigo; essa velocidade toda em que estava correndo, a intensidade dos cheiros e sons que estou sentindo, e em como eu tive vontade de morder a minha melhor amiga.

Parei no meio da floresta em um espaço parecido com uma clareira; me sentei e abraçei os meus joelhos e me pus a chorar; não estava chorando pelos meus pensamentos, e sim pela queimação que estava sentindo em minha garganta; meu estômago estava se revirando, parecia que eu estava sem comer a anos, essa sensação fez a minha visão ficar turva e as árvores pareciam girar ao meu redor.
Mas antes de eu cair lentamente na grama suja de lama, eu vi um rapaz, não sabia de onde, mas eu o conhecia; Quando ele estava vindo em minha direção, a minha cabeça finalmente alcançou o chão e tudo escureceu.
Depois disso eu não me lembro de mais nada."

Contei este pouco que lembrei para as pessoas ao meu redor,  e então a minha avó com um certo desespero perguntou:

-Rapaz? Como ele era? Você viu o rosto dele?

-Não a force Linda! Não vê como minha filha está fraca! -Papai falou fazendo agora carinho em meu cabelo. -Me desculpe filha. Não deveria ter te feito lembrar de nada. Agora descanse; você parece cansada.

-Vou por mais um pouco de sang...soro pra ela. -O médico disse dando um sorriso atrapalhado e saindo do quarto.

-Foi impressão minha ou ele falou que ia me dar mais sangue? Eu me machuquei de alguma forma quando caí? Foi grave? -perguntei assustada; Eu realmente não me lembrava de muita coisa.

-Por favor Anaju fique calma! Não precisamos que você tenha um piripaque. Durma, e depois lhe explicaremos oque lhe aconteceu. -Minha avó falou com aquele jeito mandão dela.

-Tu...tudo bem... Mas eu vou cobrar... -Falei sonolenta.

E então eu adormeci.

Anaju off.

~Quebra de Tempo~

Linda on:

-O que vamos falar pra ela? -James perguntou.

Depois que Anaju dormiu, nós fomos esperar a Flora chegar na recepção do hospital.

-A verdade. -Falei num tom meio óbvio.

-Você tá de brincadeira não é Linda? -Ele perguntou abismado.

-Não estou James. Vamos falar pra Anaju, que depois que ela desmaiou um homem que estava andando pela floresta a viu e ligou para a ambulância. E diremos a mesma coisa para Flora. -Disse simples e calmamente. (Mesmo que por dentro eu estivesse muito nervosa.)

-E essa é a verdade? -Perguntou debochado. -E se ela perguntar o porquê dela ter desmaiado? E se ela quiser agradecer o rapaz que a "salvou"? Eu acho que ela percebeu como você ficou nervosa quando citou esse tal rapaz.

-Se ela perguntar o porquê de ter desmaiado, falaremos que foi apenas uma intoxicação alimentar. E diremos que o rapaz esperou a ambulância chegar e foi embora. Apenas isto! A verdade. -Disse dando um ponto final na história. E James fez uma cara de indignação.

-Oi gente!

-Olá Flora. -respondi à minha filha que tinha acabado de chegar e se sentar ao meu lado.

-O que aconteceu com meu neném? - ela perguntou.

Então me levantei e pedi para que James a explicasse tudo pois eu iria em casa tomar um banho.

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