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Parei para ler uma inscrição em uma lápide quando Saulo pulou atrás de mim e me deu um susto. Eu gritei tão alto que aquele cachorro escavador se assustou também e saiu correndo. Meu rosto esquentou absurdamente quando uma família olhou na minha direção com uma raiva esmagadora. Dei um soco no ombro de Saulo para não ter que falar um palavrão. Ele ria enquanto continuávamos a andar, enquanto eu tentava a todo custo evitar olhar para aquelas lápides que tinham fotos, ou só nomes, ou flores ou só galhos mortos. Só de pensar que passamos pelo portão de ferro me deixa arrepiado demais. A grama alta passava pela barra da minha calça e aposto que meu calcanhar estaria todo arranhado se eu não estivesse de calças. O outro par de portões enferrujados está do outro lado, bem perto agora.

—Aonde vamos de verdade? Acho que mereço saber já que estamos passando por um cemitério.

—A um lago.

—O quê? Se eu soubesse não teria tomado banho.

—Mas —ele fala rápido logo depois —não vamos tomar banho nele.

—Então o que vamos fazer lá? Sério, odeio estar tão curioso.

Ele me olha de um jeito estranho que me faz ficar incomodado por um segundo antes que minha mente me acalmasse quando pensei: Você não precisa ficar incomodado com ele por perto, muito pelo contrário Samuel, ele te faz se sentir ao parecido com segurança, só que com mais excitação.

Aparentemente tudo estava relacionado à excitação, seja de uma forma sexual ou não.

—Você é sempre sincero? —Pergunta.

—O que quer dizer? —Realmente não sei o que ele quer dizer, não quero parecer mais idiota do que já aparento ser.

—Você sempre fala o que pensa. Quase. Quando não fala fica fazendo aquele negocio com os olhos e com a boca.

—Fazendo o quê?

—Você sabe. Mexendo assim. —Ele faz uma imitação terrível minha olhando para todos os lados com um olhar assustado e depois abrindo e fechando a boca para não sair som nenhum.

—Não sou assim. —Rebato fingindo chateação mesmo que esteja apreciando como os olhos caramelos dele rolando pelas órbitas e a boca fazendo movimentos.

Chegamos aos portões e parece que um peso sinistro foi tirado das minhas costas e agora posso me esticar de novo sem me preocupar em esbarrar nas lápides.

—Para que lado fica o lago? Não tem medo que roubem sua moto?

—À direita. E não. Não tenho. Vamos, Rapunzel.

Enquanto ele andava eu pensei em milhões de formas de ofendê-lo, o que não resultou em absolutamente nada, pois não consigo pensar em ofender alguém que quero desesperadamente estar perto. Talvez seja a pressão porque Saulo é o primeiro amigo que faço desde que fui adotado e ninguém nunca me deu uma aula sobre como é ter amigos e como faço para manter essa amizade firme e forte, ninguém me deu um manual com letras bonitas que formam a palavra AMIZADE. Então estou pulando muros de incertezas para tentar acertar porque não quero perder essa amizade mesmo que eu possa estar confundindo com outra coisa. Não posso estar atraído por Saulo, eu só não quero perder essa amizade estranha que começou por um acaso, um acidente.

Já li livros de romances sobre amigos que se apaixonam, mas quem disse que isso realmente acontece? É nojento pensar em beijar um amigo tão ardentemente. Seria como pensar em beijar David!

Balanço a cabeça ligeiramente e apresso o passo para acompanha-lo. Que ideia idiota; beijar um amigo, até parece.

—Então, basicamente, viemos aqui apenas para nos sentar e ver patos nadando?

Pontos Prateados em um Céu Azul Escuro (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora