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Acordar cedo não era tão bom como eu me lembrava. Demorei uns bons dois minutos para me levantar antes de ir para o banheiro. Me perguntei porque acordei cedo e que dia é hoje. Então lembre que a resposta para estas duas perguntas é a mesma. Escola. Meu corpo todo recebeu uma descarga elétrica de animação e me apressei.

Roberta e Ailton estavam à mesa quando cheguei à cozinha; eles colocaram um copo de suco para mim e duas torradas de manteiga. Comi tudo tentando não mostrar como estou ansioso, tentando fazer minha perna parar de balançar.

—Vamos sair daqui a pouco, pode esperar lá no carro se quiser. —Ailton diz. Assenti. Aposto que estou tão ansioso que ele não está suportando ficar perto de mim agora. É melhor obedecer de qualquer jeito.

Fui para perto do carro e esperei por meus pais.

Então ouvi risadas vindo à direita.

Valter, Cauã e Zaqueu. O novo trio, os mesmo que fizeram aquela competição de pedras. Eles estão usando camisas comuns, jeans. Poderiam estar indo para qualquer lugar eu apostaria se não tivesse visto a mochila nas costas de cada um. Meu peito deum solavanco violento quando percebi isso. Na mesma hora, meus pais saíram de casa e entrei no carro em direção à escola.

Acho que estava esperando algo parecido com as salas de aula da Bela Bênção: ensolarado, animado e mesmo assim comportado. Nas salas de aula do orfanato todos sabíamos o que fazer quando chegávamos e nada era tão complicado. Entretanto, agora, este prédio é um cenário triste e está nublado! Chegar ao ensino médio nunca foi e nunca será algo simples e organizado. É uma confusão tão grande quanto aterrorizante. Eu não estava preparado para ver como era.

Mesmo não tendo tantas expectativas eu senti que todas foram quebradas. Meus pais me deixaram aos portões com Vini e perguntei onde ficava cada coisa. Para um garoto de sete anos ele era um ótimo instrutor. Minha sala é no primeiro andar e tive que subir exatamente 16 degraus para chegar à sala 16. Que coisa.

Meu peito acelerou e pensei em fugir, mas para onde eu iria sem a chave de casa? Entrei na sala e tive que suportar olhares me seguindo até uma das cadeiras vazias no canto da parede. Eu queria ter algo para me distrair mais do que só olhar para minhas próprias mãos. Todos parecem ter um celular com que se protegiam, as telas se tornaram mais interessantes do que olhar para os lados...

Foi olhando para os lados que me deparei com Saulo. E com uma garota extremamente linda segurando seu braço direito. Eles entraram na sala despreocupadamente e por um segundo desejei que ele não me notasse estando de braços dado com ela. Ele me viu no momento em que piscou pela primeira vez.

Vi seu rosto se contrair em uma careta por um segundo. Talvez só eu tenha notado isso, nem mesmo a mulher ao seu lado notou que seu rosto se contraiu como se tivesse provado algo azedo. Não sei desvendar as pessoas, não consigo olhar para os olhos delas e saber exatamente o que sente. Entretanto, agora consegui por que os olhos dele parecem refletir em uma placa onde DESESPERO está escrito. Temi que Saulo pudesse decifrar meu rosto tão fácil quanto eu decifrei o seu; ele pode ouvir meu coração estando perto do quadro e eu quase no canto da parede oposta?

Suas mãos desprenderam da garota imediatamente. Tentei não notar no jeito que ela olhou dele para mim, depois para ele de novo. Saulo veio até mim e se jogou na carteira vazia ao meu lado.

—Não sabia que íamos ficar na mesma sala.

—Você... Ainda está no segundo ano? Você tem vinte. —Sussurro. Não sei se quero que todos saibam do que estamos conversando. Principalmente a mulher bonita que chegou com ele.

—Repeti muitas vezes.

Assinto. Repetiu de ano... Estamos na mesma sala. Isso devia ser uma coisa que me fizesse sentir bem —porque agora posso vê-lo mais vezes do que estou acostumado, ele não precisaria pular uma janela para me ver —, no momento, entretanto, estou sentindo que queria afundar na cadeira até sumir; fazer meu corpo engolir a si mesmo até não sobrar mais nada, nada que eu possa sentir.

Pontos Prateados em um Céu Azul Escuro (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora