capítulo oito.

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Ano: 2015
(18 anos)

Perspectiva Harry:

Não tenho conversado com Louis. Não trocamos mensagens. Nem nos encontramos nos corredores da faculdade. Talvez o universo esteja fazendo questão de inibir nossos encontros para que algo estrondoso não ocorra.

Sinto falta dele como um peixe anseia por água. Mas talvez sejamos dois teimosos que não passam por cima do orgulho para dar o braço a torcer. Talvez nós dois precisemos de um tempo.

Já passava das duas da manhã e eu era terrivelmente acompanhado por uma insônia quando meu celular apitou.

@Lou:
etou na freNte DA SUA CaSa, por favOrrrrrr avre a porTa

Desci na ponta dos pés, evitando fazer barulho para não acordar minha mãe. Neguei com a cabeça ao me deparar com um Louis completamente bêbado, exalando álcool misturado à nicotina e completamente molhado da garoa forte que insistia em cair naquela madrugada. O guiei para o meu quarto me certificando que ele não fizesse barulho.

Retirei sua blusa molhada pegando uma camisa minha para o vestir. Com uma toalha sequei os cabelos úmidos mesmo sabendo que havia grandes chances dele pegar um resfriado por ter pegado friagem.

"O que aconteceu, Lou? Porque está nesse estado?" Sussurrei, me sentando na cama e o virei para ficarmos sentados frente a frente.

"Sol, eu te amo. Você sabia disso?" Ele disse embolando as palavras enquanto agarrava meu rosto com as mãos.

Por mais que soubesse, eu nunca tinha ouvido aquelas palavras da boca dele e senti meu coração recuperar o tamanho, como se aquelas palavras fossem o combustível para fazer meu coração entrar no eixo.

"Eu sei, Lou. Eu também te amo." Disse baixo, para que apenas ele pudesse ouvir.

"Você me desculpa?" Em um tom tímido, ele desviou os olhos marejados dos meus, olhando para baixo.

"Eu sei que você não teve intenção. Eu te desculpo, mas no fundo, eu sei que algo está acontecendo." Eu peguei suas duas mãos e cobri com as minhas. "Me conta o que está acontecendo. Somos amigos, não somos?"

Louis então me olhou nos olhos. Uma lágrima grossa e pesada rolou pelo seu olho e eu soube naquele instante que algo não estava bem. Ele, então, se permitiu chorar, extravasando todos os sentimentos que tinha guardado em si. Eu o puxei para um abraço para tentar acalmá-lo de alguma forma. Depois de muitos soluços desferidos sobre meu peito, ele finalmente se abriu.

"Meu pai está doente, Harry. Ele descobriu em um exame de rotina que está com leucemia em estado avançado." Ele soluçou. "Eu não quero perder meu pai, sol. Eu não sei o que fazer." Ele se desvinculou do meu abraço pra me olhar de uma maneira desesperada. "Me diga o que fazer, Harry. Me diga!"

Louis estava tão vulnerável buscando algum tipo de milagre em mim, que eu nunca me senti tão impotente em toda a minha existência.

No instante em que sabemos que há o risco de morte, nós já morremos um pouco. Ali se aniquila um pouco da esperança, um pouco do otimismo, um pouco da lucidez e um pouco do futuro. Todos nós temos algum receio perante a morte. Nós nos preparamos para ela uma vida inteira, e mesmo assim nunca estaremos preparados de fato.

Louis tão novo, não estava preparado para perder o pai, e mesmo se tivesse no auge dos seus cinquenta anos, também não estaria. A dor seria a mesma. A recuperação eu não posso dizer o mesmo…

A única coisa que me restava naquele momento era lhe confortar com um abraço. Gostaria de ter algum tipo de super poder para transferir um pouco de sua dor para mim. Não seria fácil enfrentar o tratamento. Não seria fácil assistir o definhar da vida. Não seria fácil dizer um possível adeus.

all shades of BLUE [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora