capítulo dois.

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Ano: 2014
(17 anos)

Perspectiva Louis:

Eu tenho almoçado todos os dias com Harry desde que almocei com ele pela primeira vez. Chegamos à cafeteira juntos em silêncio e nos sentamos na mesma mesa escondida ao fundo. Eu falo pelos cotovelos e acredito que Harry saiba quase toda a minha vida, sem eu ao menos saber um por cento da dele.

Acho que estamos em progresso, já que agora ele consegue me encarar por mais de cinco segundos consecutivos e eu já ouço o leve som de sua risada.

"Você é bo-bobo!" Ele disse, me olhando timidamente.

"Bobo nada, Harry. Eu juro que tinham monstros no meu guarda roupa quando eu era pequeno. E juro que só fazia xixi na cama por medo."

"Talvez os m-monstros eram a desculpa para a incontinência urinária q-que você tinha." Ele riu, baixo. 

Percebi que mesmo estando mais descontraído, Harry ainda gaguejava, então, comecei a perceber que a timidez não era o único motivo da sua gagueira. 

"Ah!" Exclame, dando de ombros, estreitando os olhos. "Você é muito sem graça, sabia? Eu tinha pesadelos à noite e fazia xixi. Qual o problema disso?" Fingi aborrecimento.

"Até os q-quinze anos?" Ele insinuou, de forma divertida. 

"Shiu!" Bufei. "Você está tirando sarro de mim, senhor Harry? Quem diria que você ia se tornar essa pessoa tão atrevida." 

Ele soltou uma risada mais alta e sorria com os olhos. Percebi naquele instante que eu estava ganhando um amigo.

Harry poderia passar despercebido por qualquer pessoa desse colégio, menos por mim. Eu não entendia como as pessoas não conseguiam ver o brilho desse garoto. Como não reparavam na sua voz suave e calma. Como eram capazes de desviar o olhar de uma criatura tão doce e inocente como ele. 

Harry não tinha amigos, até então. 

Eu fiz questão de ser um.

E em pouco tempo de convívio, ele havia me contado algumas pequenas coisas de sua vida:

Sua única irmã se chamava Gemma, era mais velha e já estava na faculdade. 

Sua cor preferida era azul.

Seu hamster se chamava: hamster. (O que me fez gargalhar)

E que ele gostava muito de pirulito de cereja.

Essas foram as únicas coisas que ele sentiu confiança em me contar, mas eu não me importava. Naquela mesma semana comprei um pacote de pirulitos e o entreguei quando o vi de manhã. Pela primeira vez, o sorriso dele foi tão largo que pude observar duas crateras ㅡ conhecidas como covinhas ㅡ adornando as suas bochechas. 

Como se pudesse ficar mais adorável.

Ele não soube agradecer e se embolou nas palavras tentando. O seu sorriso era o agradecimento. E pra mim era mais que suficiente.

Não entendo porque me apeguei tanto a ele, mas Harry era frágil ㅡ frágil até demais. Era tão delicado que poderia se quebrar facilmente, e eu, por algum motivo, me fiz a promessa que não permitiria que ninguém no mundo o quebrasse. 

"Podemos fa-fazer o trabalho juntos?" A voz doce e calma de Harry se fez presente quando ele apontou o dedo para o quadro. 

"Claro! Podemos ir para a biblioteca. Tenho certeza que nesse horário ela vai estar vazia."

Ele assentiu minimamente, pegou sua mochila e com delicadeza a colocou no ombro. Eu fiz o mesmo e fomos caminhando para a biblioteca ㅡ que como eu havia imaginado, parecia deserta. 

all shades of BLUE [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora