capítulo dez

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Ano: 2016
(19 anos)

Perspectiva Louis:

Quando perdemos alguém tendemos a questionar o inquestionável, compreender o incompreensível, e aceitar o inaceitável. Foi tudo tão rápido, desde a descoberta da doença até sua partida. Nada mais seria igual.

Eu queria que esse Deus ㅡ que tanto as pessoas falam ㅡ me levasse no lugar dele. Meu pai merecia ter vivido. Ter bebido mais do seu vinho preferido. Viajado mais, trabalhado menos. Deveria ter visto os netos. Deveria ter tido a oportunidade de ouvir o novo CD da sua banda preferida. Ele merecia mais tempo, e isso foi roubado dele.

Tenho a minha mãe, que está tentando segurar as pontas e se manter forte. Eu não posso dizer o mesmo de mim. Sou um amontoado de cacos espalhados por aí, e sei que jamais poderei juntar minhas peças novamente. Eu fui trincado permanentemente por sua falta.

No dia do enterro do meu pai, todos estavam presentes. Liam, Niall e Zayn vieram de Londres e ficaram na minha casa durante três dias, fazendo de tudo para tentar amenizar um pouco do meu luto.

Harry não me largou por um segundo sequer. Ele parecia minha sombra. Até para ir ao banheiro ele ia junto. Sabia que ele estava aterrorizado. Sabia que o estava sobrecarregando, mas mesmo se eu implorasse para ele se afastar e me dar espaço sei que ele não faria. Harry é a pessoa mais cuidadosa e preocupada que eu conheço. Ele ameniza minhas dores, ele cura onde está ferido, e preenche todas as minhas lacunas. E eu sabia que qualquer que fossem nossos caminhos eu jamais deixaria de amar Harry com todo o meu coração.

...

Estou voltando de uma feira de adoção depois de passar a manhã inteira à procura de um presente para Harry. Sei que talvez essa não seja a melhor coisa a se fazer já que provavelmente a tia Anne irá surtar, mas eu estou levando um cachorrinho para Harry.

Quando o encontrei no cercadinho, ele estava sozinho, afastado de todos os outros cachorros que estavam ali, o que me fez lembrar de Harry no primeiro dia de aula, quando o conheci. Ambos talvez só precisassem de carinho, e eu soube naquele instante que era aquele cachorrinho que seria de Harry.

Passei no petshop, comprei ração, petiscos, tapetes higiênicos, uma caminha e alguns brinquedos e fui direto para a casa de Harry. Escondi a pequena ferinha atrás de mim ao perceber que Harry destrancou a porta.

"Oi Lou." Ele disse, sorridente.

"Parabéns, sun!" Eu retribuí o sorriso. "Antes de te abraçar para te desejar feliz aniversário, gostaria de te dar um presente. Por favor, não me mate." Bem lentamente, fui tirando o braço das costas revelando o lobinho raivoso ㅡ que não tinha nada de lobo, e muito menos raivoso. Ele parecia mais o Chewbacca depois de um porre.

"Meu Deus!" Harry levou as mãos à boca em espanto. "É um doguinho, Lou."

Ele sorriu, deixando as duas covinhas à mostra e estendeu as mãos para pegar o chewbaquinha.

"É um doguinho, amor."

"Ele é lindo. É um rapazinho mesmo?" Harry o levantou inspecionando suas partes íntimas e eu ri daquela cena. Harry era encantador.

"Acho que sim. Mas lembre-se que ele é nosso. A guarda fica com você, mas esse monstrinho também é meu."

"Obrigado, Lou. É o melhor presente que eu já ganhei." Percebi sua voz embargada, e logo senti seus braços me rodeando.

all shades of BLUE [L.S]Onde histórias criam vida. Descubra agora