Houve um tempo em que eu te deixei pensar que meu coração seria o lar dos desabrigados, como você tanto sonhou que seria. E houve um tempo que eu te mantive perto o suficiente para acreditar que jamais iria partir quando percebesse que estar ao seu lado era frio demais.
Eu mal tive outra opção que não fosse te fazer acreditar que mesmo que meus olhos já não brilhassem tanto, eu ainda te amava. Costumava tomar meu café forte demais durante os dias em que precisava de energia o suficiente para poder encarar em seu rosto, todos os medos que me assombravam.
Eu estive por tempo suficiente me escondendo, evitando esbarrar em tudo que me fazia lembrar de quando eu estava ao seu lado. De quando eu vivia para ver que todas as coisas ao meu redor tinham virado pó depois de um grande incêndio que você provocou.
Todas as portas se fecharam, não havia ninguém me esperando do outro lado e eu mal podia respirar quando te via no centro da cidade, caminhando despreocupado, como se não houvesse alguém cruelmente machucado pelos seus toques.
O tempo em que meu coração foi seu e você me fez esperar por horas todas as noites em que você dizia por mensagem que queria me ver, me fez entender que o meu amor era valioso demais para ser despedaçado por alguém como você.
E durante as noites em que aqui você estava, eu acordava com a lembrança de seu abraço e o cheiro de seu perfume em meus lençóis e a promessa de me ligar, quando desse.
Meu coração foi o abrigo perfeito para um sem teto como você. Você chegou e fez morada e quando percebeu que havia um lugar melhor para colocar o seu corpo, você me fez partir como se estivesse fugindo de algo terrivelmente perigoso.
E quando suas palavras não passavam de sussurros e monossílabas, eu peguei todo o orgulho que ainda me permitia ter e arranquei as raízes que você estava criando ao redor do meu peito.
Fiz meu coração de moradia para você e se fez esquecer que um dia esses braços te aqueceram como se não passasse de um objetivo que você tanto queria alcançar. Houve um tempo em que te deixei pensar que meu coração seria o lar dos desabrigados, como você tanto sonhou que seria.
Houve um tempo em que meu dias eram seus, como você tanto queria.
Há um tempo que meus dias têm sido meus, meu coração já não abriga sem tetos, como eu sempre sonhei que seria.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O que um garoto de 20 e poucos anos tem a dizer
Romance"Em um mundo novo de descobertas e reflexões, um garoto se encontra ao perceber que já não é mais o mesmo que costumava ser e ver com os próprios olhos o que é se tornar adulto. 'O que um garoto de 20 e poucos anos tem a dizer' está disponível agora...