— Você está falando? – a garota perguntou assustada, olhando para sua mãe esperando que a mesma lhe tirasse daquela situação, mas a mesma desviou o olhar como se não tivesse envolvimento nenhum.
— Você sabe que estou, Yizhuo. – a avó falou — Precisamos manter nossos status de alguma forma, e é assim que resolvemos esse tipo de problema.
A garota tornou a olhar os papeis que lhe foram entregues, assustada por ter a foto de seu amigo e de um completo desconhecido, sendo um cinco anos mais velho e outro quase uma década respectivamente.
— Mas sou muito jovem para isso! Ainda estou na escola, nem tenho quinze–
— Isso não é justificativa. Eu me casei com dezesseis anos, conhecia meu pretendente desde os dez. Para você a oportunidade é ainda melhor, é apenas ficar com ele e se casar quando quiser. De preferência, antes dos vinte e quatro.
— Mamãe, diga que é brincadeira. – a garotinha pediu novamente, dessa vez a figura materna se retirou do cômodo — Vó, eu tenho como recusar isso? – perguntou com a voz baixinha, beirando o choro.
— Não. Ambas as famílias estão cientes do acordo, estão apenas esperando sua decisão.
Olhou novamente para os papeis em sua mão, seus pais vinham a enrolando com esse tipo de assunto já fazia uns meses, e mesmo sendo jovem ela já tinha plena ciência de como funcionavas as coisas no ambiente em que vivia e sempre deixou claro que queria um relacionamento por amor, não algo como todas as gerações de sua família teve.
Sentiu os olhinhos arderem e notou então que estava chorando. Sua avó não prestou nenhum amparo, apenas esperou por uma resposta na neta silenciosamente.
— Então pode ser o Dong Sicheng. Já somos amigos a muito tempo... O namoro é como uma amizade mais carinhosa, não?
— Pense como quiser. Você tem até amanhã pela manhã para mudar de ideia, e então poderemos decidir o que será das famílias.
Ningning tinha as sobrancelhas arqueadas. Estava sentada sobre o tecido que a separava da grama e completamente confusa com o que lhe foi dito.
— Sicheng, você tem certeza? – perguntou para o melhor amigo, que para os familiares de ambos tinha que chamar de namorado.
— Mas é claro! Se vou continuar relações internacionais, que seja em uma faculdade internacional. – sugeriu sorridente — E outra, vamos ficar longe de nossas famílias assim! Vamos poder viver mais tranquilamente sem a pressão e os olhos deles na nossa cola.
A garota sentia-se empolgada com a notícia agora. Começava a pensar em diversos cenários, com diversas escolhas e palavras que poderiam ser ditas.
— Não vai ter problema terminar meu ensino médio por lá? E outra, onde eu vou morar?
— Você começa morando comigo, provavelmente vai ser ordem de nossos pais isso inclusive. Depois de um tempo, procuramos algum apartamento próximo e você passa a morar lá com sua própria privacidade.
— Isso seria... Incrível! – empolgada se jogou nos braços do amigo, abraçando-o com força e um imenso sorriso que cobria de orelha a orelha — Eu sei de uma tia minha que mora lá também. Se não me engano ela é a "rebelde" que fugiu desse negócio de casamento arranjado e agora tem uma padaria.
— Uma ótima oportunidade de mostrar seus dotes culinários.
Talvez sua avó não fosse um monstro tão cruel assim. Ela basicamente fez com que a garota saísse do controle maluco e possessivo da família para poder viver uma liberdade ao lado do melhor amigo.
Assim, se alguém perguntasse eles eram namorados e iriam se casar o quanto antes. Mas nem sequer tinham se beijado ainda para fingir isso corretamente para as famílias.
O Dong gargalhava antes de e após bloquear o celular, fazendo a garota voltar da cozinha com as sobrancelhas arqueadas.
— O que aconteceu? – perguntou enquanto se sentava no sofá do apartamento do rapaz.
— O bocó do Yuta! Quem mais seria? – sorriu empolgado ao ver que a garota tinha feito bolinhos de chocolate — Ele estava falando sobre aquela banda de novo, Absynth se não me engano. Estava falando sobre como o vocalista estava incrível e tal, até que o Shotaro chegou e removeu ele do grupo.
— Mentira! – a garota pegou o próprio celular e abriu o grupo que tinha com os amigos, vendo que realmente tinha acontecido tal conversa — Eu não acredito!
Ambos gargalhavam da situação, mas é claro que separavam os bolinhos que iriam comer enquanto isso.
— Ainda não entendo onde arranjou esses dois para fazer amizade. Em um circo?
— Se fosse no circo, o Yuta seria mais divertido. – Sicheng respondeu — Foi em um bar desses que tem bandas se apresentando, e coincidentemente era essa mesma banda. Ele chegou meio bêbado na minha mesa, sorriu e falou "seu super-herói favorito é a tempestade".
— Como ele sabia disso?
— Eu não faço a menor ideia. Mas infelizmente não cortei a conversa naquele momento, agora sou amigo dele até hoje.
— Pois isso é ótimo! O Yuta me trata como se fosse filha dele, acho a maior diversão.
E assim ficaram rindo e comendo por um bom tempo. Até ligaram a televisão para procurar algum filme para assistir, no fim acabaram escolhendo "Sempre ao seu lado" pois Yizhuo adorava ver como o namorado chorava muito, muito, muito mais que ela. E ele nunca teve um cachorro para se sentir tão afetado.
Já passava das três da manhã e ainda estavam acordados, dessa vez o Dong estava deitado e Ningning sobre ele, o usando como se fosse um travesseiro gigante que ainda tinha o bônus de ser quentinho e poder a abraçar.
— Ei, Sisi. – cochichou ao notar o longo silencio — Está dormindo?
— Como eu vou dormir com um elefante em cima de mim? – soprou um risinho ao sentir a garota desferir um tapinha em seu braço — O que foi, amor?
— Já parou pra pensar que, quando nossas famílias decidirem nos casar de vez, vai chegar um momento em que vamos precisar... Você sabe... Ter filhos?
— Yizhuo, fica quieta por favor. Te beijar já não é o suficiente?
— Beijos não vão deixar nossas famílias satisfeitas.
— Garota me deixa dormir em paz.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Eu tenho escolha?
Hayran KurguOnde Yizhuo não tinha como fugir da tradição de sua família. Mas tinha um melhor amigo que poderia lhe dar uma liberdade sem que os outros soubessem. [WinNing | crossover | absynth!au]