♫ - Carta à Park (ou à Pan)

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"Querido  ̶P̶e̶t̶e̶r Jimin,

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"Querido ̶P̶e̶t̶e̶r Jimin,

Estou aqui, em pleno século XXI, onde existe acesso à internet e milhares de redes sociais, te escrevendo uma carta. Putz. É que eu não tenho nada além do seu endereço, Park, que mesmo assim, não sei está certo.

Eu também não teria como pegar e ligar para o número de telefone da loja do seu avô no Google Maps, ou sequer entrar em contato com Namjoon para pedir o seu número, porque no momento eu estou impossibilitada de usar meu celular e eu nem posso falar que acho isso injusto, porque eu mereço estar sem ele agora.

Eu não fiquei de castigo pelo resto da vida, como eu te disse, mas serão 1 ou 2 meses — dependendo do humor da minha mãe —, sem usar celular ou notebook para qualquer coisa que não seja crucial, tipo, estudar para a prova de transferência para o curso de Música.

Sim, eu decidi que não dava mais para me obrigar a continuar em um curso que eu odiava e que eu só iria reprovar mais e mais. Se no primeiro semestre eu já fiquei em dependência em mais da metade das matérias... Era óbvio que isso não daria certo.

Hm... Tá, calma, vou contar do começo.

Meus pais, diferente do que eu estava esperando, não surtaram. Tipo, nem um pouquinho mesmo! Nós viemos o caminho inteiro de Busan à Seul em silêncio, o que deixou tudo mais esquisito ainda. Aí nós chegamos em nossa casa, no caso casa mesmo, não meu quarto na república, e eles apenas me falaram para ir para o meu quarto descansar. Juro que eles só falaram isso mesmo! Minha irmã estava nos esperando sentada no alto da escada e subiu comigo. Quando fechamos a porta, ela me perguntou quantas broncas eu levei e quando eu disse que nenhuma, ela também estranhou.

Enfim, eu achei que ia demorar para pegar no sono, e que ficaria pensando e pensando sobre tudo o que aconteceu, mas assim que eu cai na cama, não fiquei muito tempo olhando para as paredes amarelas e logo apaguei.

No dia seguinte eu acordei com meu gato andando em cima de mim e Mina me chamando, falando que nossos pais queriam conversar comigo e estavam me esperando no andar de baixo.

Naquele momento eu fui com Deus, Jimin. Mesmo.

Mas eles não gritaram, não choraram, nem nada do tipo. Só me mostraram as passagens que eles compraram há meses para irmos para Busan no final do ano para visitarmos o orfanato, em busca de mais informações sobre os meus pais biológicos. E ah! Eles disseram também que eu poderia ter falado antes que não gostava de ADM, porque eu não era obrigada a cursar uma faculdade que odiava, apenas para agradar eles dois.

Sim, eu sou uma piada, eu sei disso, Jimin.

Minha mãe disse que apesar de entender o que eu fiz, eu agi muito errado ao fugir — a coisa ficou toda mais pesada quando ela usou ela palavra, sabe? Eu estava pensando em algo como "viajei escondido", "fui rapidinho até outra cidade", esse tempo todo. — e que eles ficaram muito preocupados quando souberam que eu não estava nada na república, como a minha irmã tinha me protegido. Caramba, a pestinha até que me acobertou, mesmo! Fiquei chocada.

Tá... Hm... Então, eles me perguntaram se eu queria procurar mais coisas sobre os meus pais biológicos e eu sinceramente, disse que não. No caso, pelo menos não agora, neste momento. Que eu queria na verdade, era saber mais sobre a minha infância no orfanato, porque sobre eles eu sabia que eles estariam comigo ali em cada informação genética do meu DNA, e que a minha principal pergunta já foi respondida graças aquela fita que ouvimos juntos. Sobre eles, o que mais me incomodava era o pensamento de que eu poderia ter sido abandonada, mas a fita não deixava dúvidas de que não era nada disso, então estava tudo bem.

Eu perguntei se meus pais queriam ouvir a fita também e a princípio, minha mãe conseguiu arrumar um toca fitas emprestado da vovó e ouviu, mas meu pai não quis ainda. Eu entendo ele, não deve ser fácil e tudo mais, ele pode ter o tempo dele.

Já minha mãe, ao terminar, disse que eles pareciam pessoas ótimas e que ela era muito grata por eles terem me trazido a vida e esperava que de onde estivessem, se sentissem felizes ao ver que eu tinha uma família que me amava muito.

Choramos pra caramba depois que ela disse isso, mas agora está tudo bem. Tão bem que ela pediu meu celular e meu notebook e me colocou de castigo bem depois de falar isso. Risos.

Enfim... Eu estou te escrevendo porque depois da situação toda, acho que não tive a oportunidade de te dizer algumas coisas. Principalmente, porque depois da nossa conversa, eu não tive como não ir atrás de conhecer um pouco mais da história da Terra do Nunca.

No livro, fiquei sabendo que Wendy se apaixonou pelo jeito de Peter enxergar o mundo, e partindo do princípio que você se auto intitulou o Peter, e que eu tive mais de quatro horas sem fazer nada no carro silencioso dos meus pais, eu pensei e percebi que talvez a vida tenha imitado a história. Eu senti, mesmo, meu coração bater mais forte aí em Busan, e acho que posso sim ser uma ótima Wendy, e que talvez eu saiba mesmo como contar histórias.

Consegui convencer meus pais que se eu passar na faculdade de Música, eles irão me deixar voltar aí no próximo feriado. Mas dessa vez, sem ser escondido. Aceito sua ajuda para procurar mais informações sobre minha infância aí.

Me fale como estão as coisas na T̶e̶r̶r̶a̶ ̶d̶o̶ ̶N̶u̶n̶c̶a̶ , digo, Busan.

Da menina perdida, que você ajudou a voltar a sonhar.

̶W̶e̶n̶d̶y̶, Sora."


Jimin sorriu ao terminar de ler. Olhou para a parede com várias fotografias do avô com as crianças do abrigo, e ao se localizar com 4 anos em uma delas, fitou a garotinha de maria chiquinhas, jardineira e dentes de coelho segurando um gato de pelúcia, ao seu lado.

Ele não via a hora de contar para Sora.

Dobrou a carta novamente, tirou uma das canetas do porta lápis sobre o balcão da loja e no verso escreveu uma citação de seu livro favorito.


"Você conhece aquele lugar entre dormir e acordar, o lugar onde você ainda pode lembrar de sonhar? É onde eu sempre te amarei. É onde eu estarei esperando."



yesterday. today. • Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora