♪ - Cada dia é uma nova história

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Rolei preguiçosamente pela cama e bocejei antes de abrir os olhos e encarar o teto

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Rolei preguiçosamente pela cama e bocejei antes de abrir os olhos e encarar o teto. Um sorriso apareceu em meu rosto ao me lembrar de tudo o que aconteceu no dia anterior e do quanto ele, apesar de inesperado, foi extremamente significativo.

Me recordei com calma sobre todos os sentimentos e em como eles ainda pareciam tão vivos dentro de mim. De que foi preciso eu me afastar de tudo para eu me encontrar de novo. E de como eu sentia que aos pouquinhos, eu voltava a me enxergar mais uma vez naquela menina que acreditava em alguma coisa.

Na Sora.

Senti meus braços se arrepiarem ao me lembrar da sensação do que foi ouvir os acordes do violão de perto. De como foi ouvir minha própria voz ecoando pelos ares e chegando nas pessoas. As fazendo sorrir, bater palmas e cantar junto comigo.

E eu sabia que ter me encontrado foi graças a coragem de me arriscar e tentar de novo, mas não poderia negar que quem tinha me mostrado o caminho, havia sido Jimin. Ele toda aquela alegria que havia nele e que me contagiou desde o primeiro momento.

No fim, valeu a pena vir até aqui e levar a fita... Peraí.

Ai meu Deus.

Me virei para o lado, em busca do meu celular sobre a mesa de cabeceira e arregalei os olhos ao ver que já passava de meio-dia.

Saí do quarto alugado tentando me equilibrar enquanto ajeitava os tênis em meus pés. Meus cabelos estavam meio úmidos ainda, já que os lavei de qualquer maneira e mal consegui os secar, e eu já imaginava o ninho de passarinhos que se formaria ali com o vento que bateria nele mesmo com pouco tempo pedalando.

Resmunguei impaciente, atrapalhada demais para conseguir encaixar a chave no miolo da porta para a trancar. AAAAAA.

Combinei com Jimin de buscar a fita no dia seguinte, pela manhã, mas aparentemente por conta de todo o cansaço eu nem sequer ouvi o despertador, e agora eu corria até lá, mesmo sabendo que não adiantaria de nada, porque já estava mais que atrasada.

Quase passei direto pela recepção, mas ao ver Namjoon e outra hóspede, acabei parando para os cumprimentar. Me curvei aos dois e eles me sorriram, Namjoon com seu sorriso fofo e que nos fazia sentir bem só de estar perto dele, e a mulher com um sorriso discreto e educado, um pouco formal demais. Ela usava camisa de botões, calças formais e saltos, e o cabelo longo estava preso em um rabo de cavalo na nuca. Ela era literalmente o oposto do dono da pousada, que estava de jardineira e moletom.

— Sora! — ele me cumprimentou com um sorriso. Sabe aquela sensação que você interrompeu algo? Então... — Conseguiu falar com o senhor Park?

— Consegui sim. Estou indo lá, inclusive.

— A bicicleta está no lugar de sempre — ele sorriu gentil e eu assenti. Me curvei novamente aos dois e voltei a correr minha maratona até o lado de fora, parando só para pegar a bicicleta.

Dessa vez quem iria voar, seria eu.

Suada e de cabelo espalhado, ultrapassei a porta da loja dos Park e a fechei com cuidado. Vaguei o olhar pelo lugar em busca de Jimin, mas não o encontrei. Percebi que daquela vez, além de mim, havia um rapaz alto e de cabelos castanhos mexendo em alguns livros e uma senhora explicando para dois outros jovens sobre os móveis de estofados vermelhos.

A porta azul na parede cheias de fotografias atrás do balcão de atendimento se abriu e vi um senhor de óculos e boina com alguns papéis na mão passar por ela. Logo entendi que aquele sim, era o famoso senhor Park. O observei atender os outros clientes e fiquei parada ali sem saber muito bem o que fazer. Em um misto de dúvida se deveria ou não me aproximar e falar com ele.

Eu sabia que depois que pegasse a fita, não teria outros motivos lógicos para voltar e me incomodava pensar que não veria Jimin por uma última vez antes de voltar a Seul.

Sabe, graças a ele eu vivi um momento incrível no dia anterior e eu queria agradecer e me despedir decentemente.

Era só por isso mesmo.

É sério.

O rapaz alto dos livros que já havia sido atendido, me sorriu quadrado como quem pedia licença e eu desviei da frente da porta para ele poder sair. Olhei na direção do senhor novamente e ele me olhava com expressão curiosa. Sorri sem jeito e me aproximei, então ele ajeitou os óculos e me perguntou se eu precisava de ajuda.

— Eu fiquei de vir buscar uma fita cassete. Meu nome é Kang Sora.

— Ah... a Sora — ele repetiu, com a voz um pouquinho rouca. Ele sorriu sozinho parecendo pensar. — O Jimin disse querer te atender. Na verdade, ele praticamente exigiu isso — o senhorzinho riu, e eu acabei acompanhando meio sem jeito — Mas ele saiu para levar uns brinquedos que consertei para umas crianças do abrigo tem um tempo. Não sei que horas volta.

Apertei os lábios. Aff.

— Não tem problema, eu espero. — Daquela vez nem me importei de ser cara de pau, porque passar vergonha é comigo mesma. Ele me encarou por alguns segundos, meio risonho, mas acabou balançando a cabeça. Voltou a mexer em algum objeto sobre o balcão, que me pareceu ser um despertador, daqueles mecânicos.

Tic, Tac. Tic, Tac.

— Você não é daqui, certo? Suas roupas, o sotaque... — o senhor falou, concentrado em mexer no objeto com uma daquelas ferramentas que eu não sabia o nome.

— Eu nasci aqui, mas me mudei para Seul quando criança — expliquei. Ele assentiu, tirando os parafusos e colocando sobre o balcão. — O orfanato que o Jimin foi é muito longe?

Fofoqueira.

— No centro... pela hora que foi, já deve estar voltando — o senhor respondeu.

Abri a boca, surpresa, ligando os pontos e entendendo que se tratava do mesmo orfanato que eu passei parte da minha infância. Jimin era o rapaz da bicicleta que o diretor do orfanato disse quando eu estava lá? E ele o chamou de Peter? Meu Deus.

Pane do sistema, alguém me desconfigurou.

— Nós recebemos muitas coisas aqui e sempre vêm brinquedos também. Eu tentava os devolver porque não era exatamente o meu trabalho restaurar esse tipo de coisa, mas as pessoas não queriam de volta, diziam para jogar fora. Mas jogar brinquedos fora me parece muito cruel ao ter tanta criança com a cabecinha cheia de imaginação para gastar, não? — ele me fitou por cima dos óculos e eu sorri concordando. — Passei a consertar também, mas não para vender, e desde então doamos para o orfanato.

Abri um poucos os olhos, surpresa. Putz. Aquilo bateu em mim.

— É... eu meio que já fui uma delas... — resmunguei comigo mesma. Mas o senhor Park pareceu me ouvir, já que me encarou curioso — É uma longa história... — sorri envergonhada.

— Nunca é tarde para uma boa história, Kang Sora.


yesterday. today. • Park JiminOnde histórias criam vida. Descubra agora