Thirteen

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Eu tava com medo, morrendo de medo, mas Castiel disse que se eu não fizesse, ele iria parar de falar comigo. Criança. Mas, claro, eu, toda trouxa, acabei indo. Demos um jeito de escapar do pessoal e andamos até o parque, onde havia um telefone público.

- Se tu não ligar, eu te dou um peteleco,

Mostrei a língua pra ele e, respirando fundo, disquei o número. Alguns segundos depois fui atendida, reuni forças pra conseguir falar tudo o que sabia, e eles tentaram me tranquilizar dizendo que resolveriam isso o mais rápido possível. Quando coloquei o telefone de volta no gancho, me agarrei ao meu melhor amigo, tremendo.

- Aí, garotinha, vai dar tudo certo.

- Tu acha mesmo?

- Me olha – ergui o rosto para vê-lo. – Depois de ouvir tudo o que você disse aí, pra pessoa que te atendeu, entendi sua preocupação. Você fez o certo, nem o McCullen merece passar por isso. – Ele me deu um peteleco.

- Te levo pra casa. Bora.

Como dito, Castiel me levou até a porta da minha casa e foi embora. A preocupação ficou estampada na minha cara e eu fiquei assim até o dia seguinte. Mal pisei na escola e já fui abordada por um Nathaniel com cara de cu. Ele segurou meu braço sem usar nenhuma força.

- N-Nath...

- Gabe – suspirou, e deu alguns passos, me fazendo ir pra trás até encostar numa parede, no vão entre dois armários – eu disse que não era pra se meter nisso. Gabe, por quê?

- Porque eu não aguento te ver sofrer, Nath. Eu fiz o que senti que devia fazer, entenda isso, por favor.

- Entender? Eu tinha tudo sob controle – não, não tinha –, mas do nada a policia bate na minha porta com uma denúncia anônima. A única pessoa que sabia era você, e mesmo comigo te pedindo pra manter em segredo até eu arrumar um jeito melhor, você fez o contrário.

- Eu não queria decepcionar você – abaixo o olhar que até então mantinha fixado no dele – mas eu queria fazer alguma coisa quanto a isso.

Ele larga o meu braço, erguendo meu rosto com o indicador. Sem expressão, Nathaniel prende seu olhar no meu.

- Se eu prometer falar com meu pai sobre isso ainda hoje, você se sentirá melhor?

- Eu… – interrompi a mim mesma – Você quer isso também, certo? – ele afirma meio hesitante – Se você estiver bem, eu estarei bem. Converse com ele, isso não pode continuar.

Nathaniel apenas balança a cabeça, confirmado.

- Ele está aqui… o meu pai. Parece que não vou ficar hoje, então se cuida, tá bom?

- Você também.

Antes de ir, ele deu um beijo no topo da minha cabeça. Fiquei ali por algum tempo, os alunos passavam sem me notar. O que não me fazia diferença nenhuma. Quando eu decidi sair, arregalei os olhos ao ver quem estava vindo da sala da diretora. O senhor McCullen.

Tentei fingir que estava mexendo em alguma coisa na minha mochila, mas ele me viu. Não disse nada, só me olhou de cima a baixo com desprezo e foi embora.

Soltei o ar devagar, com as mãos tremendo.

Vai tudo ficar bem, tudo vai ficar bem…

- O que vai ficar bem?

- Ai, Armin! – levei a mão ao peito. Armin me encarava com confusão, e Kentin, do lado dele, com preocupação. Ah, eu não havia dito mais nada a ele depois de ter ido pra casa dos McCullen, prevejo perguntas.

- Eu falei em voz alta?

- É, falou. Tá fazendo o que aí?

- Procurando minha disposição.

- Compreensível – Armin balança a cabeça olhando pra algum lugar.

- Vocês sabem quem era aquele homem que passou aqui? – Alexy brota atrás do Kentin, já fazendo perguntas.

- Pai da Ambre e do engomadinho.

Eu já devia ter me acostumado com esse povo brotando assim. Agora quem apareceu foi o Castiel, Ari e Rosa.

- Sei lá, não fui com a cara dele – Rosa fez um bico, pensativa.

- Nem eu… – Ari concorda – Mas, enfim, a aula tá pra começar.

Com isso, nos dirigimos pra sala, mas antes de eu entrar, Kentin pôs a mão no meu ombro, me fazendo parar de andar.

- Como foi na casa da Ambre? Você acabou nem me dizendo ontem, parecia nervosa. Ainda parece, na verdade.

- Foi… não sei. Um pouco estranho. A mãe dela é legal, mas não posso dizer o mesmo do pai. Vamos entrar?

Ele balança a cabeça, dizendo que sim.

O resto do dia foi um tédio misturado com preocupação. Nathaniel não mandou mensagem, a Ambre sumiu também, meu peito ficava apertado sempre que eu lembrava do olhar do senhor McCullen e imaginava o tipo de conversa que o Nath iria ter com ele.

Queria que chegasse logo o outro dia, mas estava demorando mais do que aula de física. As meninas ficavam me perturbando que "porrinhas" eu tinha – sim, palavras da Rosalya –, porém não contei a ninguém, por mais que estivesse explodindo por dentro. Castiel tentava me animar de alguma maneira com aquelas piadinhas ridículas. E, confesso, até que funcionou.

E finalmente, o outro dia chega.

Passei pelo portão da escola ouvindo alguns murmúrios vindo dos alunos, não dei muita importância depois de ver que eles conversavam entre si apenas. Cocei os olhos seguindo para o meu armário, foi quando alguém apareceu na minha frente. Era Kim, e atrás dela, Melody.

- Oi, meninas – digo, contendo um bocejo.

- Você viu?

Franzi o cenho, negando com a cabeça, dizendo que tinha acabado de chegar. Melody abriu a boca para responder, mas nem precisou. Vi Ambre sair da sala do grêmio correndo, chamando atenção de todo mundo. Charlotte e Li saíram atrás dela, provavelmente pro vestiário.

Meu coração bateu descontrolado quando vi apenas as mãos de Nathaniel fecharem a porta.

Nem me despedi, nem nada, só ouvi Melody chamar por mim enquanto minhas pernas automaticamente me levavam pra sala do grêmio. Bati na porta, e entrei.

Meus olhos se arregalaram quando olhei para o rosto do Nath. Ele estava… machucado. O olho roxo, cortes na boca e sobrancelha.

- Gabe, eu…

Balanço a cabeça em negação, o impedindo de dizer seja lá o que fosse, não sei como me movi tão rápido, só sei que o abracei, apertando os olhos para não deixar cair as lágrimas. Nathaniel largou os papéis que tinha nas mãos, me abraçando de volta.

O silêncio que ficou ali me doía, ver Nathaniel naquele estado doía. Eu queria lhe passar segurança, mas não sei se estava conseguindo fazer isso quando estou com os músculos tremendo.

- Eu tentei falar com ele… – Nath quebrou o silêncio – então aconteceu isso. Ambre não suporta olhar em meu rosto, porque se culpa por isso.

- Mas ela não tem culpa – falo num sussurro –, nem você.

- Não… – suspira – Me desculpa, Gabe. Eu fui tão idiota com você.

- Foi mesmo.

Me afasto de Nathaniel, virando pra porta da sala. Castiel tinha acabado de entrar e estava com uma cara séria. Franzi o cenho, sem entender absolutamente nada.

- Preciso conversar com você, Nathaniel. E bem sério.

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