01 - Justiça

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Zonghui colocava folhas de camomila e pitanga sobre a água morna da banheira, preparava o banho com devoção e carinho mesmo que sua mente estivesse tão distante de qualquer coisas que envolvesse aquele palácio.

Se certificou da temperatura e do aroma da água antes de se virar para trás e estender a mão a seu rei. Huaisang segurou a mão estendida com apreço e caminhou até a banheira grande já sem suas vestes, o olhar de Zonghui sobre o rei era repleto de adimiração e desejo, desde o andar gracioso até a ultima curva de seu corpo, tudo o fazia flutuar e tirava de si qualquer arrependimento que tivesse de ter largado toda sua vida antiga.

— O que te aflige tanto ? - Huaisang se questionou assim que o corpo se fez quase que submerso por completo na água — Está tão distante que sequer se lembrou que falei que gostaria que se banhasse comigo hoje.

— Perdão - o lembrete fez com que seus pensamentos voltassem ao momento que estava, então soltou a mão que segurava com carinho para que pudesse tirar as próprias roupas — Acho que já sabe o que me preocupa, não sabe ?

— A guerra te preocupa ? - questionou enquanto o observava se despir.

Zonghui respirou profundamente quando o hanfu que vestia caiu por completo no chão, entrou na banheira morna e se aconchegou ao lado do outro, Huaisang passou o braço por seus ombros e permitiu que o mesmo deitasse a cabeça em seu ombro.

— A guerra não te assusta porque é imortal meu rei - respondeu e colocou a mão aberta sobre o peito do outro — Deuses não precisam temer a morte.

— Eu disse quando te trouxe para esse lado da muralha que nunca mais precisaria se preocupar com nada - acariciou o cabelo longo do criado enquanto sentia as folhas sobre a água acalmar todos os músculos de seu corpo — A morte não é tão assustadora assim.

— Dizem que após a morte Wen Ning devora nossa alma e continuamos sentindo como se nosso corpo estivesse sendo triturado por toda a eternidade.

Huaisang apenas riu, tão alto que poderia ter certeza que os servos o escutavam do lado de fora.

— Não é mentira, mas não é algo que você tenha que se preocupar - explicou e Zonghui desencostou de seu corpo lhe olhando confuso — Todas as coisas vivas no mundo precisam passar por ele no momento certo, se em vida ele julgar que sua passagem por aqui foi boa, ele vai buscar sua alma com um abraço acolhedor e a levará em paz para o plano espiritual para que um dia possa voltar. Mas caso te julgue como ruim, ele vai caça-la e devora-la, o final da caçada é sempre a morte eterna, ele nunca dá a almas ruins a oportunidade de voltar a terra.

— E como ainda existem tantas pessoas ruins se desde que o mundo é mundo ele faz essa limpeza ?

— As pessoas que foram boas em vidas passadas, as vezes se corrompem na vida atual, é um ciclo sem fim - respondeu e ajeitou o corpo na banheira desencostando suas costas da pedra fria — Mas você não precisa se preocupar com o seu momento, eu sei o quanto é bom e a justiça de Wen Ning é absoluta, ela não falha, você não sofrerá.

A conversa não foi o suficiente para acalmar por completo o coração mortal de Zonghui, mas foi o bastante para que ele esquecesse um pouco o que acontecia fora daquele palácio.

Huaisang sorriu e aproveitou que o estava mais calmo para passar sua mão pelo pescoço do outro e puxa-lo para frente até que estivesse próximo o suficiente para que chocasse seus lábios.

Zonghui aproveitou a oportunidade que a tempos não tinha e intensificou o beijo aos poucos, as mãos do deus seguraram em sua bunda e o puxaram até que estivesse em seu colo, alheio a tudo que acontecia fora daquela banheira quente e completamente entregue ao seu rei.

Huaisang levou as mãos até a cintura alheia e o outro instintivamente começou a rebolar em seu colo sobre a ereção semi rija, os lábios pararam de se tocar e Zonghui deitou a cabeça sobre o ombro do rei enquanto de esfregava em seu corpo sem pudor algum.

Foi quando o castelo estremeceu e o barulho alto de chuva pode ser ouvido que Huaisang teve certeza de que algo havia acontecido, abraçou forte o corpo do mortal que começou a tremer sobre si tentando diminuir a presença que havia chegado ao castelo e estava o deixando assim.

— São apenas meus irmãos, se acalme sim ? – murmurou enquanto acariciava suas costas — Eu vou ver o que aconteceu, me espere no quarto, prometo que vou pra lá para terminar o que começamos.

Zonghui assentiu, mas não soltou o corpo alheio, o rei o retirou de cima com delicadeza o deixando na água que começava a esfriar e então levantou para que pudesse sair da banheira.

Vestiu somente a parte de baixo de seu hanfu mesmo com o corpo molhado e andou a passos rápido para fora do cômodo, tentando não transparecer sua preocupação ao outro.

Huaisang sabia muito bem que a presença que amedrontava Zonghui não era de seus irmãos, mas não falaria a verdade para que ele conseguisse se acalmar.

Sentia mais do que qualquer outro um pouco de Wen Ning no castelo, mesmo sabendo que o deus não estaria lá, sentia a atmosfera da morte.

Chegou ao salão principal e sentiu como se cada célula de seu corpo estivesse correndo dentro de si, o coração acelerou de modo que o deus sequer achava der possível.

No chão o dragão grande se debatia, as escamas brancas e azuis estavam sujas de um sangue que Huaisang sabia não ser dele, mas ainda sim, algo estava errado com o irmão.

Xichen tentava acalmar o caçula que parecia não controlar o incomodo, e Xue Yang tentava em vão curá-lo com sua própria energia espiritual.

Só então o quarto irmão notou o que estava errado, a ponta da calda do grande dragão havia adquirido partes vermelhas e pretas, em sua volta estava amarela e parecia escorrer pus da ferida, parte do corpo de seu irmão  estava necrosando.

— O que aconteceu ? – perguntou enquanto se ajoelhava ao lado do corpo grande, mas não obteve resposta.

Xichen, Xue Yang e Huaisang sabiam que só obteriam respostas quando o irmão conseguisse voltar a forma humana, então apenas tentavam usar dos próprios poderes para o acalmar enquanto se questionam o que Wangji havia feito para merecer a punição de outro deus.

Afinal, a justiça de Wen Ning era absoluta, sem falhas e não atingia apenas mortais.




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