Capítulo 5

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-Flora fica! - Lucia vocifera, determinando que aquela conversa havia chegado ao fim. Hulkru acaba saindo da sala que estamos enfurecido.

Ele mandou que alguém me buscasse exatamente uma hora depois dele ter saído, sei porque recitei os feitiços que mais gosto enquanto contava os segundo que demorar para falar cada um. Até mesmo o movimento da varinha imaginária eu fiz, estava nervosa pela possibilidade de vê-lo mais uma vez.

Quando a porta abriu revelando outro regnar eu não sabia se respirava aliviada ou chorava, o fato dele não ter vindo me buscar prova que ele realmente não se importa tanto assim comigo. Krivel é o nome do regnar que me buscou, ele parece ser simpático e até tentou me tranquilizar, mas não consegui manter minha atenção no que ele dizia. Minha cabeça dava voltas e mais voltas.

Ao chegar na sala onde as mulheres haviam sido colocadas enquanto estavam apagadas, todos me olham, mas não falaram nada. Os regnaris precisam ativa o tradutor individualmente, então até terminar de recitar as palavras de ativação ninguém questiona minha presença. Mesmo Lucia não parece surpresa em me ver ali.

-Precisamos decidir o que fazer com ela - Hulkru fala saindo do canto da sala, eu já havia sentido sua presença a muito tempo. Sabia exatamente onde ele estava, mantive minha dignidade e postura no lugar ignorando fortemente a vontade de buscar ele com os olhos.

Hulkru falou o que quer fazer comigo, ele parece confiante suficiente de que aceitariam sua ideia. Contudo eu não cheguei até aqui para permitir que tomem uma decisão dessa magnitude sobre mim sem que eu diga alguma coisa. Foi ai que tomei a frente e disse exatamente porque estava ali, lembrei a elas o quão apta eu sou para a tarefa e meu coração de encheu de alegria quando todas elas concordaram que eu deveria ter sido colocada no time desde o inicio.

Lucia foi a primeira a dizer isso, na verdade, ela disse que pediu para nossa mãe me colocar na equipe e ela negou. Nossa mãe deixou claro que não queria arriscar a vida de outra filha, não importando o quão boa eu fosse para função. Lucia sabe melhor do que ninguém como a Dona Viola pode ser protetora conosco, em todas as missões que eu participei ela sempre da um jeito de que eu fique longe do perigo. Chega a ser irritante. Essas mulheres que estão aqui me conhecem a anos, a maioria delas tem mais experiência em campo do que muitos homens da velha guarda e ainda assim aceitaram que eu ficasse.

Minha alegria não durou muito, porque segundos depois a força da fúria de Hulkru me atingiu tão fortemente, que por pouco não cai no chão me contorcendo de agonia. Foi tão avassalador que todos parecem ter sentido também. Porque a sala ficou em silencio mortal enquanto ele se movia para gritar o absurdo que seria me manter na missão.

Eu teria peitado ele de volta, mas não conseguia me mover. Se Lucia não houvesse intervindo ele provavelmente teria me colocado a força em uma dessas capsulas e acabado com tudo.

 -Vamos fazer a cena do caminho até as celas e depois podemos nos reunir para explorar mais algum ponto da missão - Lucia fala assumindo o comando - Flora, comigo.

Aceno e sigo atrás dela, assim como as outras mulheres em uma fila guiada pelo Krivel e outros regnaris fazendo a escolta, algumas mulheres simularam tentar escapar e foram colocadas na fila novamente. Quando chegamos nas celas somos colocadas aos pares e em seguida trancadas no espaço.

-Obrigada, por me defender lá atrás... - Falo enquanto me sento na cama que está presa na parede, tento focar no ambiente, mas me sinto tão cansada que só registro onde deve ser o vaso e a falta de paredes em volta dele.

-Flora, - Lucia fala se sentando na cama de frente para mim - Eu disse a verdade lá atrás, a mãe deveria ter colocado você desde o inicio. Mas foi errado você ter entrado escondida. Das loucuras que você já fez essa está no topo da lista. 

-Você faria o mesmo se fosse deixada de fora - Digo erguendo uma sobrancelha sugestivamente.

-Eu teria entrado pela porta da frente pelo menos, - Ela responde respirando pesadamente - Até imaginei que você poderia fazer algo assim, me admira que a mãe e o pai não tenham antecipado isso. Agora, você já está aqui e querendo ou não faz parte disso. Além disso não gostei da ideia de Hulkru, você estar aqui é um problema, mas não a ponto de joga-la no espaço rezando para que a encontrem ainda nas coordenadas que ele enviaria... Sinceramente isso seria pior. 

-Ele tem um jeito particular de ver as coisas... - Falo tentando parecer desinteressada quando Lucia fala de Hulkru, mas falho. Ela já está com aquele olhar interrogativo que enxerga no fundo da minha alma. 

Lucia sempre foi assim comigo, Daisy e Camila são minhas melhores amigas e sabem de tudo ao meu respeito, mas Lucia... Eu não preciso dizer nada, ela sempre sabe. Minha mãe também tem esse dom, mas Lucia consegue ser mais perspicaz. Consegui esconder o que sentia pelo regnar misterioso porque talvez até hoje nunca tenha dado nome aos bois. Sempre pareceu uma ilusão da minha cabeça. Mas agora não tem como fugir ela sabe que tem algo por trás do que eu falei.

-Como você sabe que ele tem um jeito particular de ver as coisas? - Ela fala sugestivamente e não espera uma resposta - Até onde eu sei, Hulkru esteve em missão durante todo o tempo que trabalhamos com eles. Se não fosse na Terra era no espaço... Também tenho certeza que não esteve em nenhuma missão com ele, porque eram todas nível Exterminador do Futuro e você sabe que nem eu sou autorizada a ir nessas missões. O que você não está me dizendo?

-Por que os níveis das missões são nome de filmes? - Pergunto desconversando, mesmo que eu saiba o porque.

-Sem essa Pinóquio - Lucia diz enquanto se ergue e cruza os braços - Você sabe que a mãe é a maior nerd e escolhe os nomes de acordo com o contexto da situação. Agora desembucha ou então vou perguntar diretamente a ele o que está acontecendo.

-Não tem nada acontecendo! - Digo mais alto do que deveria - Eu juro!

-Não é o que parece... - Lucia tem a cara de pau de me olhar de cima para baixo sugerindo que minha reação diz o contrário do que eu falei.

-Eu juro, - Tento mais uma vez tentando não parecer desesperada - Olha a dois anos eu vi ele na Triskle, foi de relance e muito rápido, mas eu senti alguma coisa... Não sabia explicar e nem sabia se realmente tinha visto alguém. Porque no segundo seguinte ele tinha sumido...

-Mas... - Lucia exige depois que fico segundos demais calada - Continua Florzinha não temos todo o tempo do mundo!

-Eu o vi novamente na reunião, - Continua com cuidado, sem conseguir olhar para ela meu olhos estão fixos no canto direito da cela como se lá estivesse a coisa mais importante do mundo - Ele estava com a aparência diferente, mas eu sabia que era ele. O regnar que eu vi a dois anos atrás... 

-Como você pode ter tanta certeza disso? - Lucia pergunta parecendo pensativa.

-Esse é o problema eu só sabia... - Digo depois de puxar uma respiração profunda e pesada - Não só isso eu sempre consigo sentir quando ele está perto, não sei qual a distancia máxima para que eu sinta... Eu só sinto.

-Não faz sentido você sentir ele assim... - Lucia fala e vejo pela conto do olho que ela mudou de posição, ela subiu as pernas e as cruzou como índio enquanto falava.

-Lucia eu sinto até mesmo os sentimentos dele... - Desabafo com ela, é bom enfim falar com alguém sobre isso, mesmo sabendo que ela pode sair da cela e tentar soca-lo pelo que estou prestes a dizer, mas eu preciso terminar de falar agora que comecei - Ele parece sempre estar com raiva... Ódio puro... Sempre que ele se aproxima eu sinto tanta negatividade que é como se um soco me atingisse no estomago. Sinto tanta dor que as vezes me falta o ar... Droga eu já chorei por causa disso... Porque estou chorando de novo?

Retruco secando as lagrimas que estão escapando uma atrás da outra dos meus olhos, Lucia rapidamente me abraça me confortando, mas eu sei que nem mesmo ela sabe o que fazer agora. 

-Eu acho que ele despertou aquela coisa de instinto ancestral... - Digo baixo entre as lagrimas e os soluços. Me sinto uma idiota por chorar assim, nunca na minha vida me permitir ficar tão vulnerável por alguém que não fosse da família e agora olha para mim. Totalmente desarmada.

-Aquilo que aconteceu com a Camila e os trigêmeos? - Ela pergunta e se afasta o suficiente para me olhar nos olhos e eu não consigo dizer com palavras só aceno confirmando com a cabeça.

No instante seguinte Lucia está gritando a plenos pulmões chamando pelo nome de Hulkru. 

(DEGUSTAÇÃO) Companheiro Involuntário 3.0Onde histórias criam vida. Descubra agora