JEFFREY

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Mischief Farm, 27 de dezembro de 2022

Hil já passou aqui para levar as crianças. Gus e George passaram os últimos trinta dias comigo, conforme o acordo que fizemos considerando as festividades de fim de ano. Parece mentira, mas já faz oito meses desde o divórcio.

Gus se tornou um adolescente, e cresceu depressa demais nesses últimos meses. Prevejo que irá ultrapassar minha altura em pouco tempo – ele está com treze anos, e quase já me encara, olhos nos olhos. George já vai fazer cinco anos, e é uma mocinha esperta e que sabe muito bem sobre o que quer. Ambos são inteligentes, e assimilaram a situação toda melhor do que eu imaginava que o fariam.

Como já devem ter percebido, não me casei com Louise. Tivemos um relacionamento extremamente conturbado, com muitas idas e vindas, e que durou até bastante em vista do tanto que foi tóxico para nós dois. Ela então me deu um pé na bunda na véspera do nosso casamento. Conheci Hil logo depois... Ela era uma jovem atriz em ascensão, e eu estava alcançando um sucesso estrondoso a tal ponto de terem ressuscitado Denny Duquette três anos depois. Estávamos na crista da onda, como se diz. Ficamos juntos. Não gosto de dizer que nosso relacionamento não deu certo; ele funcionou perfeitamente por treze anos.

Detesto ter que dizer isso, mas grande parte da culpa por esses relacionamentos terem acabado foi minha. Primeiramente, fiquei envolvido demais em buscar coisas para mim e me esqueci de que quem estava por perto também buscava coisas. E, segundamente... Primeiramente.

Fui egoísta com todas elas. Acho que acabei sendo isso a minha vida toda. Todo homem carrega em si esse ranço patriarcal da pretensão de ter uma mulher pra segurar a barra enquanto ele escala suas hierarquias sociais e profissionais – e isso não é uma desculpa, apenas estou comprovando um fato, e assumindo uma falha.

Antes de me separar de Hilarie, nunca havia pensado em fazer terapia... Mas meus filhos tiveram que fazer, e por tabela, acabei me envolvendo nas sessões e enxergando muitas coisas em mim que não conseguia ver antes; posteriormente, acabei me rendendo à rotina semanal de encontros com um psicólogo.

Portanto, se for fazer um balanço dos últimos meses, posso afirmar que, aos 56 anos, eu tenho sucesso, dinheiro, uma fazenda, imóveis, filhos maravilhosos (e a mãe deles é uma grande mulher e eu estou satisfeito dela estar alçando novos voos), posso me orgulhar de não guardar rancor de ninguém (e pretendo me manter assim). Conquistei grandes amizades, realizei sonhos, aprendi a lidar com frustrações. Acho que o fracasso, agora, está muitas milhas longe do meu calcanhar.

Acordei hoje refletindo que estou pleno e preparado o suficiente para corrigir e superar algumas falhas do passado, seja ele longínquo ou recente.

Está frio pra cacete, e estou sozinho; então saio da cama sem me preocupar em parecer ridículo em minhas meias e gorro, e me enrolo no cobertor, arrastando uma de suas pontas soltas pelo tapete da sala enquanto pego sobre a mesa de centro a correspondência que Hil havia pegado em meu escritório em Nova Iorque, dias antes de vir buscar as crianças.

São algumas faturas de cartões de crédito, correspondências que os fãs enviam ao estúdio, roteiros, propostas, prestações de contas de empresas sobre uso de imagem... Mas uma das correspondências me chama a atenção especialmente... eu a abro e leio detidamente cada linha, e o que está escrito ali me joga violentamente de volta ao passado que acordei evocando.

"Você já deve ter percebido que a minha carta tem um tom diferente, primeiro por ser uma carta (quem manda cartas hoje em dia?), e segundo pelos assuntos que trago aqui e que dizem respeito diretamente aos documentos que envio anexos"

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"Você já deve ter percebido que a minha carta tem um tom diferente, primeiro por ser uma carta (quem manda cartas hoje em dia?), e segundo pelos assuntos que trago aqui e que dizem respeito diretamente aos documentos que envio anexos"...

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