IRMÃOS

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POV: Anna

Blue vai conhecer os irmãos hoje. Está animado... Ele é um poço de animação, e sempre refleti comigo mesma que gostaria imenso de ter esse otimismo e essa alegria genuína, como se o mundo fosse um mar de sarcasmo e certezas, e apenas flutuasse sobre suas águas.

- Você está preocupada? – pergunta Felipe.

- Não.

- Está sim. Conheço essa cara.

- Estou apreensiva.

- Posso saber por quê?

- Tenho medo que os meninos, de certa forma, o rejeitem. Sei que isso parece não ter fundamento... Talvez por eu ter tido medo de ser rejeitada a minha vida toda, acabo projetando isso nos outros.

- Fique calma, mulher! – rebate, me abraçando.

- Mãe! – grita Blue, do seu quarto – meu pai enviou mensagem... Chega em dez minutos.

- Já terminou de organizar suas coisas todas?

- Sim.

Meu filho é independente em muitas coisas desde criança... Eu, na essência uma mãe latina, demorei a me adaptar ao jeitinho francês de se levar a maternidade: lá, eles são ensinados a dormir sozinhos desde recém nascidos (não tive coragem, então Blue dormiu na cama comigo até os oito anos, quando resolveu que não queria mais), e fazem excursões de quinze dias a partir dos seis anos de idade – sem a companhia dos pais, apenas com professoras e monitoras (quase arranquei os cabelos, mas acabei me acostumando). Ele aprendeu a cozinhar, a comer sem fazer bagunça, e a conversar sem interromper. É um rapaz muito debochado e simpático, mas tudo ali, dentro do seu cadre.

- Chegou! – ele diz, passando por nós igual uma ventania.

- Uau – diz Felipe – nem acredito que vou conhecer Jeffrey Dean Morgan!

Olhei para ele com a perspectiva de que estivesse brincando. Não estava.

POV: Jeffrey

- Sobe, pai!... O Felipe quer conhecer você! – diz Blue, quando ligo em seu celular para avisá-lo de minha chegada.

- Felipe?

Não faço ideia de quem seja Felipe, mas Blue não me dá tempo de justificar minha negativa adequadamente, e, antes que possa me defender e dizer que é melhor ele descer e me encontrar no lounge, sou convencido a pegar o elevador para a cobertura. "Cacete", penso. Se eu tiver um pouco de sorte, talvez a mãe dele ainda esteja trabalhando (e não seja obrigado a ser simpático quando ainda estou meio puto).

Assim que chego lá, Blue me recebe com um abraço demorado. Meu Deus, como uma pessoa que não conhecia até alguns dias atrás me deixa assim, tão desarmado e cheio de amor? Ele poderia me convencer de qualquer coisa...

- Como você está, Blue?

- Estou ótimo! Não está com pressa, certo? – pergunta, me puxando pela mão em direção à sala de estar.

- Er... eu...

- Felipe! Vem conhecer meu pai!

Parece feliz e orgulhoso de me apresentar ao amigo, e eu, curioso para saber de quem se trata. Não tarda a aparecer um moreno alto no esplendor de seus trinta anos, porte atlético. Não sei se tenho muito jeito para dizer isso sem parecer estranho, mas o cara realmente é atraente. Fiquei olhando para ele e pensando na afronta que é ser bonito assim. Jovem, aparentemente bem sucedido e bem nascido – uma vida inteira pela frente, e todo um conjunto de coisas a seu favor.

MISS MADEMOISELLEOnde histórias criam vida. Descubra agora