MOULIN ROUGE

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Observação: este capítulo é longo pra cacete 😅  mas é importante para a trama. E tem muitas informações interessantes sobre  a vida de Anna, de Blue e de André na França. Em breve teremos outro capítulo para finalizar as lembranças deste. Boa leitura!

Paris, 2009

Quando a licença maternidade terminou e Blue estava com seis meses, obedeci às preleções de Toni e fui lavar pratos no restaurante onde André, ainda hoje, é chef – o que significa que morei em Marselha por um tempo. Tranquei a minha matrícula na Sorbonne e fiquei trabalhando quase que exclusivamente para pagar as despesas com o bebê, e as minhas.

Foi a coisa mais horrorosa e dolorida deixar o meu pacotinho chorando e ir trabalhar fungando, mal conseguindo segurar o meu próprio choro. Me separar do pequeno Denny doía demais, e me fazia questionar os caminhos que estava tomando. Mas chegar em casa e poder abraçá-lo, mesmo que já estivesse dormindo, acabava me dando mais energia para superar os dias seguintes.

A rotina era pesada e, ainda assim, sentia meus olhos arderem de cansaço e continuava me deleitando com a visão que era vê-lo dormindo, tão inocente, e sentindo tanta confiança em mim...

Eu tirava os absorventes dos seios e o sentia sugar o leite que ainda saía farto, quase esguichando. E adormecia com ele junto a mim, e no dia seguinte, começava tudo de novo.

***

Não tinha tempo para diversão, ou para namoros. Ligava para Munir, dizendo para não se preocupar e que tudo estava dando certo, apesar de nada ter sido fácil.

Fui contar a ele sobre Denny ( e sobre tudo mais... a agência de prostituição, a perda do emprego, a universidade trancada...) depois de uns dois anos. Apesar de furioso pela minha omissão, ele entendeu.

Àquela altura, até onde podia saber, o pai do garotinho estava firme em seu relacionamento com Louise – mas, óbvio, ele também precisava ter posse dessa informação.

***

- Amanhã vai ser seu dia de folga. – diz André.

- Sim.

- Por que você não sai um pouco? Vá encontrar suas amigas, jogar conversa fora...

- Não tenho amigas aqui, André... A não ser Edith. E quero passar meu tempo livre com Blue.

- Mas você ficará com ele durante o dia! Saia à noite. Você só tem trabalhado, Anna. Está com o rosto cansado e triste. Não gosto de vê-la assim. Tampouco Blue se sentirá feliz em ver a mãe dele nesse estado...

Continuei ensaboando e esfregando as imensas panelas sujas de molho – pela primeira vez, considerando a proposta.

- Tudo bem. Você acha que Arnaud deixa eu sair um pouco mais cedo, hoje? Quero passar uma parte da noite com Blue acordado. Talvez, assistir a um filme com ele...

Era o meu modo de compensar, de alguma forma, a Grande Culpa – sentimento onipresente que me acompanha desde que pari.

- Mami! – diz o garotinho, correndo pelo corredor da escola arrastando a pequena mochila de rodinhas – Veio buscar bebê!

Me aperto contra ele, abraçando e respirando em seus cabelos macios, o cheirinho de xampu se misturando à expectativa de seus desejos. Seu sorriso, seus olhos, os dentinhos emoldurando aquele sorrisinho charmoso, o faziam ser ainda mais parecido com o pai dele.

- Eu te amo, filho. Te amo do tamanho do mundo...

- Eu "qué" sorvete, maman. Me dá? – ele pergunta, a mãozinha segurando forte na minha ao atravessarmos a rua.

MISS MADEMOISELLEOnde histórias criam vida. Descubra agora