Luca & Alberto

Capítulo 1 - De volta ao lar.

   O trem parava na pequena vila em que Luca saiu a 10 anos atrás. Um pouco moderna e com construções novas, mas com o mesmo cheiro de peixes. Era notável que mais criaturas marinhas andavam livremente por ali, sem medo de julgamentos. Algo que, para Luca, era totalmente satisfatório.

   Nos bancos da estação estava Alberto, com seu topete encaracolado e uma regata branca, esperando ansiosamente por Luca e Giulia. Alberto mal dormiu na noite passado. Na verdade, na semana toda. Quando soube da volta de Luca e Giulia, cada dia era um a menos. Luca ao ver seu amado pela janela, pega sua mala e corre para descer do trem e finalmente, depois de anos, ver Alberto.

   -Luca! -Alberto o puxa para um abraço, cheirando fortemente o pescoço de Luca e apertando cada vez mais.-

   -Oh, Alberto... -Os olhos de Luca se encheram de lágrimas, e logo após veio a tempestade de choro.-

   -Ei, eu fazia parte da amizade, lembra de mim?! -Giulia descia do trem, tirando seu cachecol.-

   -Giulietta! -Alberto a abraça também, totalmente emocionado.-

   Era uma mistura de amor, saudade, carinho, tudo de bom. Foram anos sonhando com aquilo, noites sonhando com aquilo.

   -Todos os dias eu dormia vendo as anchovas pensando em você, Luca. -Alberto sorria para Luca, segurando sua mão.-

   -Não são anchovas, bobo. São estrelas.

   -É, mas eu prefiro falar anchovas, me lembra a época que nos conhecemos...

   -POR QUE TODAS AS CASAS ESTÃO CHIQUES E MODERNAS, E A MINHA CONTINUA SENDO SIMPLES E MODESTA?

   -Seu papa é meio vintage, sabe. -O pai de Giulia sorri, passando pela porta da estação de trem.-

   -Papa! -Giulia corre, abraçando o pai.-

   -Ei, e os meus pais, cadê? -Luca não soltava a mão de Alberto, era emoção demais, lindo demais para ele soltar a mão de seu amado.-

   -Estão no oceano, por enquanto. Parece que sua avó está doente... -A feição de Alberto muda rapidamente para tristeza.-

   -E por que ninguém me avisou?! -Luca solta a mão de Alberto e corre para o oceano, deixando suas malas ali mesmo.-

   -Luca! -Alberto o segue, e ambos pulam no oceano.-

   -Papa, olha isso, e agora?! - Giulia solta seu pai e olha para trás, vendo os dois sumindo no oceano.-

   -Eles vão ficar bem, Giulietta. -Ele pega as malas da garota e caminha em direção à sua casa.- Vamos, quero saber de tudo. Foram 10 longos anos.

   Enquanto Giulia contava as mil e uma maravilhas para seu pai de sua viagem com Luca, lá estava Luca com Alberto, nadando rapidamente.

   -POR QUE NÃO ME CONTOU DA NONA? -A aura de Luca era uma mistura de raiva, medo e tristeza.-

   -EU NÃO QUERIA TE PREOCUPAR NA SUA VIAGEM! -Alberto tentava se justificar, mas parecia que entrou por um ouvido de Luca e saiu por outro.-

   Ao chegar na humilde toca da família de Luca, ele percebe que tudo está escuro e quieto; até demais.

   -Cadê o pessoal, você disse que estavam aqui...

   Alberto ficou em silêncio.

   -SURPRESA!!! -Todos os familiares de Luca, incluindo seu tio estranho que vive no abismo, saíram da toca animados, e foram correndo abraçar Luca, inclusive a sua avó que parecia estar super saudável.-

   -Q-Quê? -Os olhos de Luca se encheram de lágrimas, mas era algo imperceptível, já que estavam no oceano.-

   -Me desculpe por fazer você mentir para Luca, querido. -A mãe de Luca diz para Alberto.-

   -Você não sabe como foi difícil, meu coração está apertado até agora, hahahaha -Alberto suspira.-

   -Nona, você parece estar melhor do que eu! -Luca abraça sua avó, que estava cega de um olho.-

   -Ah garoto, se depender de mim eu vivo mais que você. -Ela tossiu logo após dizer aquilo, mas nada fora do comum.-

   Após muitos beijos e abraços de toda a família de Luca, todos resolvem subir à superfície para Luca poder descansar e curtir com os amigos.

   -E aí, como foi ficar aqui com o pai da Giulia? -Luca dizia enquanto saía da água, se tornando um humano; assim como todos que saíram das águas.-

    -Interessante. Pude melhorar as minhas habilidades em muitas coisas, sabe... -Alberto parecia estar sem jeito.-

   -Conheceu novas pessoas? ... -Luca dizia tentando disfarçar a sua curiosidade.-

   -Naah, só o pessoal da cidade mesmo, ninguém de novo... E você?

   -Muitas. A capital é gigante e tem MUITA gente lá. Na escola então, nem se fala! Sério, tem tipo, muito aluno. -Era possível sentir a alegria e o entusiasmo na fala de Luca.-

   -Ah... -O ciúmes de Alberto era bem disfarçado.- Fico feliz.

   Talvez nem tanto.

   -Você tá com ciúmes?

   -O quê? Eu?! -Alberto se toca que está enciumado e se vira na direção contrária de Luca, totalmente vermelho.- É-É que era só a gente e aí você vai embora pra longe, e-eu fiquei com medo de você me esquecer, sei lá... -Alberto suava frio e gaguejava.-

   Luca segura a cintura de Alberto e diz no pé de seu ouvido, sussurrando :

   -Eu nunca iria esquecer você, bobo. Aprendi algumas coisas na capital, mais tarde eu te ensino, hehe...

   Os pelos de Alberto se arrepiaram, sua espinha se arrepiou, e parece que outra coisa lá em baixo se levantou também. Como era possível, depois de todo esse tempo, que esse sentimento ainda esteja tão aceso e vivo?

   -C-Certo... -Alberto engole em seco e segue andando até a praça central.-

   -Olha só quem vem, é Luca! -Duas senhoras criaturas marinhas diziam em dupla, vindo em direção à Luca.- Obrigado por  vocês dois serem mais corajosos que eu e minha querida na nossa adolescência... Vocês mudaram essa vila, agora podemos ser nós mesmas sem medo.

   Luca se sentiu orgulhoso e feliz. Alberto também.

   -EU quem agradeço por vocês serem livres agora, espero que sejam felizes! -Luca sorria.-

   -Já estamos sendo... Aproveite seu dia! Ciao! -As duas senhoras desviam o caminho a andam de mãos dadas até um banco da praça.-

   -Nós fizemos isso. -Alberto dava um sorriso de canto de boca.-

   -Nós. -Luca segura a mão de Alberto.-

   E ali, naquele instante, Luca se sentiu preenchido por uma coisa que ele não sentia a mais de dez anos : amor.