Capítulo 16 - A filha rebelde.

1.3K 101 55
                                    

   Todos estavam na cozinha, ainda na mesma posição, sem dizer uma palavra. Giulia cogitava a chorar, mas parecia algo bobo a se fazer, já que mal conhece Donatella e esse era um sentimento confuso. Alberto estava feliz pela felicidade de Donatella e por ter conseguido se redimir. Luca estava abatido pela amiga, que sofre com a partida de sua amada. Até que Alberto quebra o gelo.

   -E se a gente for atrás dela?

   -Mas agora ela deve estar no aeroporto, não? -Luca questiona-

   -Sim, mas nada nos impede de irmos lá. Até porque, eu sempre quis recriar aquelas cenas de filme de comédia romântica dos anos 2000.

   -Suas ideias são geniais, Alberto. -Giulia suspira-

   -Sério? Eu também acho!

   -Foi ironia, idiota. -Luca dá um peteleco na testa de Alberto-

   -Mas é uma boa ideia! 

   -E vamos fazer o quê? Pedir pra ela ficar? Deixar seu sonho da sua faculdade em Recife?

   -É não pensei nessa parte...

   -É melhor deixar ela ir, é preciso.

   -Então é assim que tudo acaba? -Giulia reproduzia alguns tiques de nervoso que ela tinha quando ficava ansiosa : pernas trêmulas, roer unhas, estralar dedos... Eram inúmeras formas de se aliviar da tensão.-

   -Não acabou nada, Dona Giulietta. -Luca se levanta e caminha até Giulia.- Quando algo é para acontecer, essa coisa acontece. Não vê como eu e Alberto ficamos juntos depois de anos?

   -MAS EU NÃO SOU VOCÊS! EU NUNCA VIVI UM AMOR, UM ROMANCE! -Giulia aumenta o tom de voz, mas não ao ponto de gritar. Alberto engole em seco e observa tudo, sem dizer nada.- EU TENHO A PORRA DE 22 ANOS E EU NUNCA AMEI NINGUÉM, NINGUÉM NUNCA ME AMOU.

   Luca fica quieto.

   -NÃO TEM A MERDA DE UM FINAL FELIZ AQUI, TÁ LEGAL? EU NÃO VIVO NA DESGRAÇA DE UM LIVRO INFANTIL. -Giulia bufa e puxa uma cadeira para se sentar.-

   -Olha, tá tudo bem... -Luca aperta o ombro da amiga.-

   -Foi mal... Por isso agora... -Ela suspira.- Mas tá tudo tão confuso... Eu mal conheço ela, sabe? É bizarro.

   -Eu acredito que você a ame, ou goste dela. -Alberto começa a falar novamente.- Mas se deixar isso passar, pode se arrepender futuramente.

   -Irei me arrepender mais ainda se ela desistir do sonho dela por um caso bobo.

   Giulia olha para a porta em que Donatella passou. Ela ainda estava aberta, com a luz do poste iluminando a calçada. Nada mais parecia ter sentido naquele momento, nada era agradável o suficiente. Era Donatella quem aparecia em seus pensamentos. Era apenas a Donatella.

   -Vamos superar isso, sempre superamos. Não? -Luca olha para Alberto.-

   -Estaremos aqui, juntos. Somos uma família. -Alberto se levanta e anda até Giulia e Luca; Eles se abraçam.-

   Giulia não diz nada, apenas respira fundo, fechando os olhos e repetindo para si mesma que tudo isso irá passar. Uma hora vai passar. Tem que passar. 

   É manhã. Luca e Alberto estão em cima da casa da árvore no quintal de Giulia, eles estão abraçados. Luca acorda e olha em volta, estava cedo demais : nenhum carro andando, nenhuma loja aberta e sem pessoas na rua. Alberto, por sua vez, dormia como uma pedra e roncava como um trator. Essa era a coisa que Luca mais invejava de seu namorado, o sono pesado e tranquilo. 

   Ele desce da árvore, caminhando para dentro da casa. A cozinha estava limpa e organizada, com o piso encerado e janelas brilhando. Subindo, a mesma coisa. Corredor cheiroso e brilhante, com a porta do banheiro entreaberta. Ele vai até ela e abre a porta.

   -Opa, estou entrando. -Entrando ele se depara com Giulia dormindo encostada na privada, com luvas de borracha e um balde com alguma mistura de produto de limpeza dentro que fedia muito.- Ah dona Giulietta, essas terapias de limpeza que você faz vão acabar te matando intoxicada, o que colocou neste balde?

   Ele pega a amiga pelos braços e a retira do banheiro, colocando ela no corredor. Ele abana com as mãos para acordá-la, dando leves tapas em seu rosto. 

   -Eu tenho orgulho de você, viu? -Ele sussurra, enquanto alternava entre carícias e tapas.-

   -Eu posso te ouvir, idiota. -Ela diz com a voz fraca e rouca, mas com um sorriso de canto de boca. Uma lágrima cai do rosto de Luca, e Giulia retribui com outra lágrima.

   -Obrigado por cuidar da sua filha rebelde. -Giulia abre os olhos fracos, olhando para o cabelo de Luca que estava todo amassado.-

   -Capitão Paguro está apenas fazendo seu trabalho. -Ele sorri e seca as lágrimas.- Bom, hora de banho. Vamos tirar esse fedor de água sanitária de você.

   -Quê?! "Vamos"? O que quer dizer com isso?

   -Que eu vou dar banho em você, ora.

   -Tá maluco? Sei muito bem me virar -A voz ainda estava fraca.-

   -Você mal consegue falar, quem dirá se banhar. Fica quietinha que eu tenho que cuidar da minha filha rebelde.

   Ele pega Giulia em seus braços e a leva para o banheiro; Talvez, em outro mundo, eles sejam pai e filha. 

Luca & AlbertoOnde histórias criam vida. Descubra agora