Capítulo 18 - Miau.

1.1K 100 86
                                    

   Luca abria os olhos lentamente. Era de se esperar que Alberto não estaria ali, já que ele dormiu mega cedo na noite passada. Ele se levanta e olha pela janela: céu limpo. Tempos como este lembra a época em que todos eram imaturos e inocentes, Luca sente falta desse sentimento.

   Ele caminha até o banheiro, um pouco incomodado com o silêncio absurdo que estava naquela casa. Fazia semanas que ele não via o pai de Giulia. Ele estava em uma caravana de pescaria esportiva, algo do tipo. Logo após fazer suas higienes matinais, Luca desce para a cozinha e vê um bilhete em cima da mesa.

"Querido Luca, fui comprar pães para o nosso café da manhã. Acabei de passar um cafézinho, está no bule em cima do fogão. De seu futuro esposo, Alberto."

   -Bobo. -Luca diz baixinho e sorri.-

   Ele pega o bule, serve seu café em uma xícara de porcelana e se acomoda na mesa. O gato de Giulia sobe na mesa e mia, olhando para Luca.

   -Quanto tempo, ein? -Luca acaricia o gato, e ele deita na mesa, nitidamente gostando do carinho.-

   O barulho da moto de Alberto fica cada vez mais alto, até o barulho parar e começar o som do tilintar das chaves. Alberto abre a porta e se depara com o gato gostando do carinho de Luca.

   -Olha só, depois de dez anos esse gato finalmente deixou de ser homofóbico! -Alberto ri enquanto coloca os pães na mesa, ele dá um selinho em Luca e vai até o fogão servir um café.-

   -Ei, não fala assim dele! Ele é apenas um gato. -Luca continua acariciando o bichano, que ronronava.-

   -Olha que assim eu fico com ciúmes -Alberto se senta ao lado de Luca e tenta acariciar o gato, mas ele foge.-

   -Quê?! O problema era eu esse tempo todo? -Alberto fica boquiaberto.-

   -A homofobia dele é seletiva -Luca cai na gargalhada, e Alberto faz bico.-

   -Mas enfim, contou para Giulia sobre a Donatella voltar pra cá no natal?

   -Ainda não, nem me encontrei com ela ainda... Sabe onde ela foi? Acordei sozinho. -Luca dá seu último gole de café e coloca a xícara vazia em cima do pires.-

   -Também acordei sem ver ela aqui. -Alberto pigarreia com o café quente na boca.- Espero que ela esteja bem. Parecia abalada.

   -Você não acha que foi algo rápido demais? -Luca suspira.-

   -Como assim?

   -Ah, você sabe, todo esse romance. Em menos de dois dias Giulia já queria beijar ela.

   -Acho super válido.

   -Eu também,  quando se é um beijo. Mas ela parece apaixonada, sabe? Isso é praticamente impossível de acontecer em tão pouco tempo.

   -Você não está querendo me dizer que...

   -Não quero dizer nem especular nada, mas é meio bizarro.

   -Só vamos seguir a nossa vida, elas seguem a delas... Aliás, acho que você está esquecendo de algo.

   -E o que é?! -Luca se examina por completo, pensando que esqueceu de vestir o shorts ou a camiseta.-

   -Da nossa viagem sem destino.

   -Meu deus, é mesmo!

   -E aí, desistiu ou ainda tá de pé?

   -E se formos hoje mesmo? -Luca está com os olhos brilhantes.-

   -SÉRIO? -Alberto pula da cadeira, totalmente animado.-

   -Claro! Eu enrolei tanto que acho que te devo essa. Podemos procurar a localização da cachoeira que você queria me mostrar naquele dia que dormimos na pousada.

   -Ok, confesso, não foi inteligente sair por ai sem saber pra onde ir... Mas veja pelo lado bom, eu vi Donatella de novo depois de anos, me acertei com o meu passado e arrumei um amor para Giulia. Foi um serviço para a sociedade Italiana!

   -Meu deus, como você tem uma imaginação fértil. -Luca se levanta, pegando a xícara dele e de Alberto e levando para a pia, começando a lavar a louça do café da manhã.-

   -Partimos que horas? -Alberto olha no relógio.- São 7:20 da manhã.

   -Depois do almoço, pode ser? Depois de lavar a louça eu desço para a casa dos meus pais e me despeço.

   -Pode ser, eu vou subir arrumar minhas coisas, te amo! -Alberto zarpa para o quarto, correndo tão rápido que quase tropeça nos degraus da escada. Ele parecia uma criança, a mesma de dez anos atrás.-

   A campainha toca.

   -Já vai! -Luca seca suas mãos em um pano de prato, caminha até a porta e a abre.-

   -E aí, como vai meu garotão? -O pai de Giulia chega com um mochila nas costas, abraçando Luca.-

   -Quanto tempo!!! -Luca retribui o abraço.- Giulia vai amar souber que você voltou!

   -E cadê ela? Estou com saudades da minha Giulietta!

   -Na verdade, não sei. Acordei sozinho.

   -Essa voz... -Alberto dizia em cima da escada.- PAPA! -Ele desce correndo as escadas, pula e enche de beijos o homem alto e cansado.-

   -Nossa, como meu filho está enorme! Sou amado nessa casa. Se soubesse, eu teria ficado aqui!

   -Aconteceu tanta coisa enquanto esteve fora! Precisamos te contar tantas coisas!

   -Podem me contar, mas depois que eu tomar um banho e descansar na minha cama, tá legal? Essa viagem me cansou de um jeito...

   -Certo, certo. Mais que merecido. -Alberto diz e o solta.- Pode ir subindo, quando a Giulia chegar te aviso.

   -Ok. -Ele sobe as escadas em direção ao banheiro e tranca a porta.-

   Luca e Alberto se olham.

   -Eu amo essa sua cara. -Alberto diz.-

   -Que cara? É a única que eu tenho.

   -Essa cara de quem claramente tá afim de sair de moto comigo procurando a Giulia pela cidade.

   -Mas eu nem disse isso.

   -Mas eu disse, vamos lá.

   Alberto segura Luca pelos braço e o arrasta até a moto, dá um capacete para ele e diz:

   -Operação resgate G.I.U.L.I.A.

   -Pelo amor de deus, você tem 23 anos, Alberto.

   -Mas meu coração tem 12. -Ele sorri e monta na moto. Luca também, e ambos saem em busca de Giulia.-


Luca & AlbertoOnde histórias criam vida. Descubra agora