Capítulo 4 - Um hippie sem teto?

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   -N-Namorar? Tipo, sério mesmo? - Os olhos de Lucas brilhavam como as estrelas.-

   -É óbvio que é sério! Mas fala baixo, geral foi dormir.

   -Eu... Eu aceito, óbvio! -Luca puxa Alberto para um beijo, e olha nos olhos de seu amado.- Eu esperei isso por tanto tempo. Você nem imagina.

   -Ah, eu imagino sim. Você é péssimo disfarçando, meu amor. - Alberto dá um beijinho na testa de Luca e deita na sua cama.-

   -Sério? -Luca estava envergonhado.- Poxa, pelo menos agora não preciso mais esconder meus sentimentos...

   -E então, o que vamos fazer agora? -Alberto também desliga sua luminária e o quarto fica totalmente escuro.-

   -Não sei... Eu considero a ideia da moto e da viagem bem interessante, mas e o dinheiro?

   -E você acha que eu fiquei fazendo oque aqui enquanto você estudava? Eu trabalhei e tenho um bom dinheiro guardado, dá pra comprar uma Vespa de boa.

   -Antes de tudo, sabe o que eu pensei da gente fazer?

   -O quê?

   -Irmos naquela torre que você morava quando te conheci.

   -MEU DEUS! AQUELE LUGAR AINDA EXISTE?

   -Não sei! Mas seria uma boa ideia irmos lá, né?

   -Será que ainda tem as minhas coisas lá?

   -Bom, creio que sim. Fica numa ilha isolada, né. Então não acho que muitas pessoas já foram lá...

   -Então tá combinado. De manhã vamos na torre, depois compramos uma moto novinha, fazemos as malas e vamos embora.

   -Mas e a minha família? Poxa, fiquei tanto tempo fora, queria passar um tempo com eles.

   -Somos adultos, Luca. Uma hora você vai ter que ir embora daqui.

   -Mas não sei se é a hora certa. Eu mal cheguei...

   -Ok, ok. Eu te entendo, não vou pressionar você. Maaas mesmo assim irei comprar a Vespa, tá bom? Quando quiser zarpar é só avisar que eu vou -Alberto se vira e fecha os olhos.- Boa noite, babe.

   -Boa noite, querido. -Luca fecha os olhos e sente toda a felicidade do mundo emergir no seu coração, transbordando amor e carinho. Luca já sonhou com esse pedido de namoro umas 8 vezes; de formas diferentes.-

   Amanhecia no pequeno vilarejo. As gaivotas cantavam no fundo e o som do oceano rugindo nas pedras era reconfortante. Luca se levanta, ainda meio sonolento, e calça seus chinelos; Alberto não estava mais ali e sua cama estava arrumada. O primeiro pensamento do dia de Luca sem dúvidas foi : "Eu estou namorando Alberto". E aquilo ressoou tantas vezes até ele finalmente parar de pensar e começar a andar até a porta.

   -Alberto? Giulia? -Ninguém responde.- Ah, ok.

   Luca vai até o banheiro e escova os dentes, lava seu rosto e arruma seu cabelo

   -É um dia importante, Luca. Não estraga tudo! Você precisa ser corajoso para contar isso pros seus pais! -Ele dizia para si mesmo.-

   -Fato desconhecido : o lado bom de não ter um pai, é não precisar contar nada à ele. -Alberto escora na porta e observa Luca se arrumar com o olhar mais apaixonado do mundo.-

   -Seu bobinho, nem te vi subir

   -Eu percebi, tá se emperiquitando todo aí pros seus pais... Relaxa, eles te amam. -Alberto entra no banheiro e ajeita seu topete se olhando no espelho ao lado de Luca.-

   -Além do mais, o pai de Giulia é como seu pai, você literalmente viveu 10 anos com ele. -Luca terminava de se perfumar.-

   -Eu sei, mas ele sabe o quanto eu te amo. Acho que disse mais de você pra ele do que de mim mesmo -Alberto sai do banheiro e dá um tapinha na bunda de Luca.- Vamos descendo, o café já tá na mesa, temos visita.

   -Visita? -Luca desce as escadas com Alberto.-

   Na mesa, estavam Giulia, o pai de Giulia, os pais de Luca e sua avó. O gato também estava lá, rosnando.

   -OI? -Luca se assusta.-

   -Oi? Essa é a sua reação? Luca, você está vendo sua família, não um bando de estranhos! -A mãe de Luca estranha sua reação.-

   -Não é nada! Me desculpem, apenas me assustei com essa visita repentina... -Luca cochicha para Alberto.- "QUEM CHAMOU ELES AQUI?"

   -"Digamos que eu apenas dei uma ajudinha pra você contar a novidade" -Alberto respondia.-

   Luca se senta na mesa e todos começam a comer.

   -E então querido, pretende dormir aqui na Giulia até quando? Sua cama na nossa toca te espera! -O pai de Luca dizia.-

   Luca se engasga com o leite. 

   -COF COF... Não sei se quero... COF COF... voltar.

   Todos param de comer, exceto Alberto.

   -Como? -O pai indaga.-

   -É... É isso aí... Sabe, eu tenho planos pro meu futuro...

   -Mais planos?! -Ele continua.- Queríamos passar um tempo com o nosso Luca.

   -Acalme-se querido, ele deve ter um motivo. -A mãe de Luca se vira para ele.- Não tem? 

   -Tenho. -Luca finalmente se desengasga.-

   -Eu... Eu... -Luca olha para Alberto, e logo depois para Giulia que entendeu toda a situação num piscar de olhos.- Eu estou namorando Alberto. -Um peso enorme sai das costas de Luca.-

   -Oh... -O pai de Luca arregala os olhos.- Bom... se é isso oque você quer, bom... -Era um conflito de sentimentos de confusão e choque de realidade.-

   -Meus parabéns! -A mãe de Luca sorria.- Não era uma surpresa para mim, afinal,  você e Alberto sempre foram bem grudadinhos

   -Hehehehe, COF COF -A avó de Luca riu e logo após tossiu.- Esse é meu garoto.

   -Então... Tá tudo bem? -Luca estranha a reação de sua família.-

   -Óbvio querido. Sabe, nós sofremos muito por anos por conta de sermos criaturas marinhas. Sabemos como é horrível sofrer por algo que você não escolheu ser. -A mãe de Luca estava radiante.- Isso não é um problema para nós.

   -Isso é tão bom de se ouvir! -Luca se emociona.- Eu amo todos vocês!

   -Te amamos também, filho. -O pai de Luca diz e come seu pão.-

   -E bom, daqui mais ou menos duas semanas eu e Alberto iremos viajar.

   -Uau, essa sim foi inesperada. -Giulia toma sua xícara de café, apenas observando o caos.-

   -Viajar? Pra onde? -A mãe de Luca pergunta.-

   -Essa é a questão, sogrinha. Não tem um destino. A gente pega a moto, sai por aí, dorme em baixo das estrelas e é isso. -Alberto dizia confiante.-

   -Meu filho vai ser um hippie sem-teto? -O pai de Luca estava confuso.-

   -Prefiro um apaixonado morando de baixo das estrelas, faz parecer melhor.

   -Bom, se Luca estiver bem com tudo isso, eu fico bem também.

   -Ah, garoto, eu na sua época vivia na praia. Não em uma casa na praia, na praia mesmo. Vendia minha arte e vivia do que a natureza me dava. Era show. -A vó de Luca devorava os bolinhos de chuva.-

   -Ok, isso foi bem mais hippie sem-teto. -Luca sorria.-

   E naquela mesa, naquela manhã, o destino de Luca tomava outro rumo; o da felicidade.

   

Luca & AlbertoOnde histórias criam vida. Descubra agora