O Acidente - Parte 6

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A notícia apenas fez com que minha mãe se pusesse a orar com mais intensidade. Em condições normais, ela me obrigaria a seguir seus passos, mas em meu aparente estado de saúde, fui poupada do ritual. Enquanto isso, ela continuou ali ajoelhada em frente a imagem do Sagrado Coração de Jesus. Nunca a vi tão preocupada assim comigo, se não fosse pelo atual momento, eu me sentiria muito paparicada.

Os médicos disseram que se meu status continuasse o mesmo, poderia receber alta no dia seguinte, o que tranquilizou minha mãe, e me amedrontou. Sair significava voltar a vida comum, ter que relembrar dos acontecimentos, encarar aquela escola amaldiçoada e olhar nos olhos daqueles que perderam seus familiares. Ainda não me sentia preparada. Ainda tinha esperanças de acordar daquele pesadelo e rir muito com Aline no dia seguinte...

Na noite daquele dia, tive coragem de perguntar a mãe qual era a repercussão daquilo tudo pela cidade, como estavam as outras vítimas, e o que ela dissera para TV numa entrevista que ocorrera há poucas horas na entrada do hospital.

- Você não precisa saber disso agora, Ayla. Vá descansar. - Sua voz não saiu tão firme quanto gostaria.
- Eu quero saber, mãe. Tinha gente que eu gostava ali também. - Insisti com a famosa birra adolescente. Meus instintos queriam me impedir mais uma vez, mas pretendia aproveitar o efeito dos analgésicos.
- A única coisa que sei, é que foram apenas cinco trazidos com vida do ônibus. Gabriela, você e mais três meninos. - Então, Aline não sobrevivera mesmo... - Mas até então, apenas você despertou, o restante está em inconsciente como Gabriela.
- Entendi... - disse seca - Tive sorte então.
- Sorte não! Pode ir agradecendo Deus de joelhos quando você puder! - Encarei-a profundamente. Meu olhar arregalado se fixou nela como daquela fera.
- Mãe... Eu vi coisas hoje...
- Que coisas, menina?!
- Acho que... Demônios... Eu vi um demônio. Foi como uma experiência de quase morte. Tinha um demônio e várias pessoas semimortas agonizando.

Se pudesse, minha mãe me daria um tabefe no rosto. Mas se conteve apenas com um "Shiu!" Disse que foi por causa dos ferimentos, que tinha ficado muito nervosa por tudo, então me mandou dormir. Não quis discutir, aquilo poderia ser verdade, talvez tivesse sido uma alucinação qualquer. Afinal, não seria a primeira vez que alucinara na vida e pensei ter visto monstros.

A noite demorara mais que a tarde. Para meu azar, fui atingida por uma febre alta de dar calafrios e acesso de vômitos escarrados. Me levaram para uma tomografia de urgência, mas não encontraram nada chamativo. De volta ao apartamento, perdi totalmente o sono. Fechei os olhos e tentei controlar a respiração, mas aquela sensação arrepiante continuava. Tive medo de contar para minha mãe e ela se preocupar ainda mais. Tive medo daquilo ser uma alucinação e eu precisar de um psiquiatra. Mas também, tive medo daquilo ser real.

Deveria ser meia-noite ou perto disso quando eu vi um vulto sobre a cama de Gabriela. Estava escuro, mas havia uma luminosidade esverdeada emanando pela janela e pelo piso. O vulto tinha forma humanoide, porém, pouco discernível. Só consegui enxergar sua aura alaranjada, como a chama de uma vela, se aproximar do busto de Gabriela e parecer quere-la engolir. A criatura também emita um sonido que me lembrava o coaxar de um sapo, porém, muito mais abafado, como se estivesse submerso em algo.

A sombra de sua face se esgueirou até o centro do peito da garota, um pouco abaixo da raiz do pescoço, pude notar um semblante de dentes afiados prontos para abocanhar. De relance, voltei o olhar até minha mãe. Dona Diana parecia estar no sono mais profundo da vida que chegava roncar. Onde estava toda aquela preocupação de antes?! Chamei-a. Entretanto, não reconheci minha voz. Ela saiu abafada e bastante anasalada. Fiz de novo. DE NOVO. Nada aconteceu. Era como se eu estivesse gritando para dentro da minha cabeça.

A RESSONÂNCIAOnde histórias criam vida. Descubra agora