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Eram três e meia da madrugada e não pude mais dormir mais. Paralisada de medo, fiquei deitada em meio ao meu próprio suor – mesmo fazendo doze graus do lado de fora -, elucubrando os caminhos que tomei até naquele momento, que por hora me pareciam confusos, pois lembrava-me do almoço e de um tenra conversa familiar pela tarde, após isso, não recordei de modo algum sobre jantar, tomar banho, ou ao menos sentir o decorrer de tantas horas da minha ausência. Uma parte da memória havia sido apagada, bloqueada, quem sabe até, nunca existido, porém, não tive êxito em explicar hipótese alguma que elaborara.Às quatro, levantei forçosamente, indo até o banheiro esvaziar minha dolorosa e inchada bexiga. Pensei que poderia estar faminta, mas o único desejo em mente era por água, o próprio barulho da urina se escorrendo pelo vaso fazia com que a garganta raspasse a cada engolida. Eu não queria ir até a cozinha buscar água, nem mesmo queria ter saído da cama, então, contentei-me em matar a sede na torneira da pia do banheiro. Peguei o copo, com qual minha mãe me acostumara a gargarejar durante a escovação, e o enchi com aquela água gelada da torneira, mandando à goela abaixo.
Desde a alta hospitalar, tinha me esquecido completamente de Yosaka e nossa conversa nada convencional. Enquanto anestesiava minha garganta dolorida com goladas vigorosas, lá estava a caixa de medicamentos sobre uma das prateleiras do armário que supostamente eu deveria tomar. Haviam duas cartelas com comprimidos, ao lado, um frasco de ansiolítico. Pelo meu pouco conhecimento médico, mas bom conhecimento de ansiedade e depressão, sabia que aquele remédio não era recomendado em estados de luto. Se bem que aquele médico era todo estranho com aquele papo de médiuns e espíritos.
Peguei um comprimido de cada e os coloquei na língua. Coloquei o copo para encher, dando um olhada em meu reflexo exausto por puro acaso, ou talvez porque ele queria que eu o vesse. Lá estava aquilo novamente, dessa vez usava meu próprio reflexo para tomar forma, que em meu rosto, fez rasgos pelos olhos e os encheu de sangue vivo; minha boca babava terra em um sorriso obscuro de dentes perfurantes; e meu cabelo um novelo desforme como galhos mortos embolados em lama.
Eu poderia ter dado um pulo e gritado na hora, mas enquanto me encarava, eu abria a torneira para encher o copo, quando a água despejada e escorrida por minha mão estava escaldante a ponto de esfumaçar. Grunhi feito um ratinho assustado e deixei o copo cair e se despedaçar no piso, o barulho do impacto pareceu ressoar trovejante, me fazendo tampar os ouvidos em reflexo. Enquanto isso, ele sorria satisfeito pelo espelho.
— Por que não se mata de uma vez? — disse ele forçando a expressão de dúvida em meu rosto distorcido. — Não seria a primeira vez que teria esse desejo, correto?
Aquilo abriu a boca e dentro dela, vermes rastejavam por entre as gengivas, desciam pela garganta engasgando aquele ser inebriante... De repente, foi como se sentisse os vermes enchendo minha boca e querendo descer. Tossi! Algo estava preso, me impedindo de falar e respirar. Tossi, mais intensamente dessa vez! Dezenas de comprimidos foram cuspidos, se espalhando pelo chão do banheiro junto com saliva. Fui recuperando o fôlego até olhar mais uma vez ao espelho. Havia desaparecido. Meu reflexo se normalizou.
Cai de braços sobre a pia, o suor piorara, acompanhados vieram náuseas e dor de cabeça. Esperei até recompor melhor as ideias, então tive coragem de encarar com mais cuidado o cenário soturno. Pela prateleira, estavam as cartelas de medicamentos vazia, todos os comprimidos delas se espalharam pelo ambiente. Merda! Esbravejei em meus pensamentos repetitivamente enquanto me ajoelhara para catar os comprimidos.
— Ayla?!
A voz súbita e grave de seu Jairo me estremeceu os nervos, fazendo mexer descuidadamente a mão e me cortando com um dos cacos de vidro. Nada de preocupante, apenas um corte superficial na metade da palma, mas doloroso, com aquela dor enjoativa que está pronta para te perturbar por horas.
— Que barulho foi esse? Tá tudo bem?! — Continuou ele.
— Tá! — respondi por impulso, elaborando algo para leva-lo de volta à cama. — É que eu vim no banheiro com a luz apagada e derrubei o copo aqui sem ver... — Esperei alguns segundos, torcendo pelo consentimento dele.
— Hum... Tá bom. Mas não fica aí no banheiro, que pode se cortar com os cacos. Vai dormir, amanhã, alguém limpa tudo.
— Tudo bem, pai. — disse aliviada. — Já estou voltando a dormir.
— Beleza. Boa noite.Atenta como um ladrão pego no fraga, dessa vez, pude ouvir seus passos se afastarem até o quarto e desaparecendo com o corpo esmagando o colchão, ao lado de minha mãe lhe cochichando alguma coisa. Fiquei um pouco tranquila por impedi-lo de ver aquilo, porém, agora teria que recolher todos os comprimidos e os tentar colocar de volta nas cartelas antes que ele desconfie de algo. Imagine eles encontrarem as cartelas vazias, o que pensarão? Nada de bom, tenho certeza!
Tomei cuidado para não me cortar outra vez com algum caco e me dispus a catar cada um dos sessenta comprimidos dispersos. Não sei quanto tempo demorei com aquilo, ainda mais, fazendo tudo devagar, pelo menos, não abri outra crise ou vi qualquer aparição indesejada. Mas não podia negar que havia algo de diferente por dentro, as minhas mãos por vezes não pareciam minhas e o corpo relutava em obedecer os comandos. Sem saber mais o que fazer, rezei. Rezei discretamente enquanto catava, um por um, até finalizar a tarefa.
Após minha sessão religiosa, já me sentiamelhor. Engoli dois comprimidos conforme a prescrição e tomei dez gotas doansiolítico, conforme orientação. Queria voltar a dormir, mas o cérebro se agitaradepois de tanta loucura acontecida. Parecia uma péssima hora para fazer qualquercoisa, principalmente ficar acordada mesmo depois de ver o que vi. Porém, quemsabe por extrema curiosidade ou vício no rabo, me aprontei em frente ao computadorcom fins de pesquisa.
Já passava das cinco e o céu tão negro antes, agora clareava num tom cinzento calmo. Entrei em vários sites com intuito de descobrir mais sobre médiuns e fantasmas, mas toda pesquisa desorientada leva a informações pouco conexas, impedindo-nos de chegar a conclusões definitivas acerca de qualquer coisa. Contudo, continuei. Médiuns, xamãs, macumbeiros, caboclos, pai de santo, pajés, espíritos, exus, assombrações, demônios... Cada achado tão superficial e supersticioso que fizeram minha pesquisa parecer um trabalho escolar de quinta série, ou alguns de ensino médio.
Recordei-me da sombra com máscara de boi e me aventurei a pesquisar sobre. Encontrei alguns seres mitológicos com cabeça de boi/touro além do Minotauro. Entre os egípcios havia o deus Ápis, entre religiões onde hoje é o oriente médio, encontrei Baal, que em algumas imagens vinha a aparecer com cabeça de touro ou com certos aspectos bovinos. Povos chegavam a sacrificar crianças, praticar mutilações e prostituição em rituais ao deus, o qual é citado várias vezes em Jeremias e Reis na Bíblia. Também havia um demônio de nome Balam com três cabeças, uma de boi.
Tudo que eu imaginava não passava de meras conjecturas, minhas pesquisas se revelaram mais um manual para ter pesadelos do que um feito proveitoso. Uma claridade contornava a janela, irritando meus olhos secos insones. Dessa vez, a visão de minha cama era mais tentadora que tudo, enquanto a que a luz do computador azedava as vistas. Desliguei-o e partir para debaixo da coberta.
Talvez não haja um simples limite àcuriosidade humana, mas a natureza impõe suas próprias barreiras físicas.Exausta, os pensamentos não iam muito longe, a preocupação com fantasmas emortes desparecera como se arrancadas por outrem, o conforto daquele colchão meafundava em nada além de sono. Eu não sabia, mas eram quase sete da manhã, àsoito minha mãe me acordaria por causa de uma conversa com a polícia que haviamarcado. Também não sabia, mas aqueles poucos minutos restantes de sono, seriammeus melhores por um bom tempo.
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A RESSONÂNCIA
Misterio / SuspensoDeixe seu voto e comente o que achar interessante sobre a história! Capítulos novos às sextas-feiras... Ayla é uma adolescente com receios sobre a morte, que teve sua vida transformada de uma hora para outra por conta de um Acidente sobrenatural. Ap...