Nós saímos do banheiro, obviamente ninguém percebeu, mas dava uma sensação de que todo mundo que olhava para a gente sabia o que tínhamos acabado de fazer. Eu olhava para o Rodrigo e ele parecia se divertir com a situação.
Chegou a hora do nosso voo, estávamos tão cansados que dormimos no voo e só acordamos quando o desembarque estava terminado.
Logo que chegamos, pedimos um Uber, fomos para a casa do Rodrigo de mala e cúia.
O Rodrigo queria muito ir direto para o hospital, mas o irmão dele disse que não ia adiantar, porquê a cirurgia já tinha acabado, ela estava bem, e que só podia ficar um acompanhante e que logo depois ela já ia poder ir para casa. Com muito custo o Rodrigo aceitou ir pra casa descansar e esperar por lá.Ao chegar na casa do Rodrigo, ele recebeu uma ligação da Pam, dizendo que estava indo pra lá e que queria ver a ele e a Dona Selma também.
O Rodrigo chegou, tomou um banho e dormiu. Ele estava tão cansado, eu também estava cansada mas tomei um banho, fiquei deitada um pouco com o Rodrigo e fui arrumar a casa, que sabendo como era a Dona Selma, era capaz dela chegar e querer começar a arrumar a casa mesmo precisando de repouso.Enquanto eu arrumava a casa, a Pam chegou. Como ela já era muito íntima e era da casa, ela chegou entrando. Enquanto eu arrumava o sofá na sala.
Pam - Ooooii! Cheguei
Ana - aaai... Oiii! Que susto kk
Pam - Desculpa! Kkk como você está? Foi tudo bem por lá? Cadê o Rodrigo?
Ana - Eu estou bem! Foi tudo maravilhoso por lá, meus pais amaram o Rodrigo. E ele está dormindo. Chegou muito cansado.
Pam - Que maravilha. Eu já imagina que ia dar tudo certo. O Rodrigo consegue conquistar qualquer pessoa kkk
Ana - Depois de ver o que ele fez com o meu pai, eu acredito nisso kkk
Ela deixou a bolsa na mesa e logo já começou a me ajudar a arrumar a casa também.
Deixamos a casa toda arrumada, e enquanto a gente arrumava conversamos bastante.
Quando acabamos, fomos para a cozinha pra fazer alguma coisa pra comer.Entre um assunto e outro, nem percebi quando o Rodrigo passou a ser o principal tema dos assuntos.
Eu comecei a falar das qualidades dele e do quanto ele é sensível mesmo tendo aquela cara de bravo, do quanto ele consegue ser forte e sensível ao mesmo tempo. E foi aí que a Pam me revelou um segredo e o dia começou a ficar pesado.Pam - Ele é muito forte mesmo. Mas algumas coisas mexem muito com o coração dele, ele tem muita fragilidade em alguns assuntos.
Ana - Eu já percebi que ele fica muito emotivo quando fala da família, e mais ainda quando fala sobre ele ser pai um dia. Os olhos dele enchem de lágrima quando ele começa a falar sobre como ele vai educar, brincar e cuidar dos filhos.
Pam - Falar sobre o futuro dele como pai deixa ele com os olhos brilhando. É muito lindo
Nesse momento eu vi a Pam ficando com os olhos baixos, uma expressão de tristeza. E eu decidi perguntar se estava tudo bem.
Ana - Os olhos dele brilham mesmo. Mas o que foi? Você parece ter ficado triste. Tá tudo bem?
Pam - Está tudo bem sim... Só fico pensando que talvez ele não possa realizar esse sonho.
Ana - Eu tenho certeza que ele vai conseguir. Nós dois vamos conseguir! Eu sempre pensei em ser mãe, mas nunca pensei em detalhes, nunca senti meu coração acelerar ao imaginar isso. Ele fez o sonho dele se tornar o meu também e juntos nós vamos conseguir.
Pam - Você sabe que ele vai precisar fazer tratamento pra isso né? Vai ter que ser de forma artificial e cada tentativa é um valor muito alto.
Ana - Graças a Deus, quando chegar a hora, valor não será problema.
Eu fiquei com medo de ter sido arrogante, mas também percebi que ela continuou com olhar baixo, ficou em silêncio um tempo e eu fiquei quieta também. Eu não ia ficar insistindo pra ela falar algo que ela não queria.
Eu estava levando a comida para a mesa quando ela quebrou o silêncio e perguntou:
Pam - Posso te contar uma coisa que me atormenta e eu nunca consegui contar pra ninguém?
Ana - Pode! Mas só se quiser falar mesmo
Pam - Eu preciso! Isso já me sufoca há muitos anos.
Me sentei ao lado dela e esperei...
Pam - Você sabe que eu e o Rodrigo namoramos né! Mas nós namoramos quando ele ainda andava, eu perdi a virgindade com ele. Eu era inexperiente, não sabia nem como me cuidar, nós éramos muito novos.
Pam - O Rodrigo desde sempre falou do sonho de ser pai. Ele se dava tão bem com criança, eu via e ficava encantada, as crianças amavam ele.
Eu imaginava que com a idade que eu estou hoje, eu daria um filho para ele.
Ele sempre disse: "A mulher que me der um filho vai ser a mulher mais feliz do mundo, porquê eu daria a vida pra fazer feliz a mulher que realizou o meu sonho".Ana - Ele fala isso mesmo, e dá pra sentir que é verdade.
Pam - Da pra sentir que é verdade porque é verdade! Quando ele vê que você pode ser a futura mãe dos filhos dele, ele já faz de você a mulher mais feliz do mundo mesmo sem você ter realizado o sonho dele.
Ana - E aonde você quer chegar?
Pam - O que você acha que ele faria com a mulher que perdeu um filho dele?
Ana - Como assim? Você perdeu um filho dele?
Ela disse já chorando:
Pam - Perdi! Eu perdi mas não foi culpa minha. Eu tenho problema no rim, tive uma crise, minha mãe me levou para o hospital, achando que eu ainda era virgem e eu não sabia que estava grávida. Os médicos acabaram aplicando um remédio muito forte, e na hora comecei a sofrer um aborto espontâneo. Foi ali que eu descobri que estava grávida e minha mãe descobriu que eu não era mais virgem.
Ana - Meus Deus Pam! Eu sinto muito! Mas não fica assim, não foi culpa sua.
Pam - As vezes quando olho pra ele eu sinto que sou culpada sim. Eu poderia ter falado para o médico que eu tinha relações sexuais sem proteção. Ele teria feito o exame antes de aplicar o remédio, mas eu fiquei com medo da minha mãe descobrir. Eu só tinha 15 anos, ele tinha 16, minha mãe nem sonhava.
Ana - Não é culpa sua! Se você soubesse você não teria feito isso. Você não deixaria aplicar o remédio.
Pam - Mas eu fiz! Eu deixei! E hoje para ele ser pai vai ser tão difícil, hoje é tão mais complicado. E não precisaria ser, porquê ele já poderia ter um filho. Eu nunca tive coragem de contar para ele.
Pam - Você acha que ele perdoaria isso? Como você acha que ele iria viver hoje em dia sabendo que o sonho dele já podia ter sido realizado, pensando que o sonho dele poderia ter 8 anos hoje, que a vida dele poderia ter um sentido muito diferente. Eu acho que ele nunca me perdoaria...
Eu fiquei segurando a mão dela, em choque, chorando, até que nós duas olhamos para trás ao ouvir o bagulho da vassoura caindo.
Era o Rodrigo parado e chorando na porta, ele estava ouvindo toda a conversa.
Rodrigo - Eu nunca perdoaria mesmo!
Ele deu as costas eu voltou para o quarto.
A Pam foi atrás dele e eu fiquei na cozinha, eu não poderia me meter naquilo. Eles tinham que se resolver.
Me desculpem a demora, mas foi o capítulo mais difícil de escrever até hoje. Lembrar disso ainda mexe muito comigo e evitei escrever pra evitar de lembrar, mas o livro precisa continuar. Espero que gostem!!
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Uma Cadeira De Rodas, Mil E Um Desejos.
Short StoryDescubra como pode ser a vida de um cadeirante lendo um livro de um cadeirante. Essa é uma história baseada em fatos reais. Um cadeirante não convive apenas com a família e com seus cuidadores, cuidadores esses que na grande maioria nem existem. Des...