CONSCIENTIZAÇÃO

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Depois da tentativa frustrada de castigar o Rodrigo, ficamos ali deitados, conversamos sobre algumas coisas e decidimos ir para casa para esperar notícias e saber se o Rodrigo teria que ir mesmo.
Ele estava lá em silêncio de novo, no caminho para casa o sinal da rede de celular voltou e ele recebeu a notícia do irmão avisando que a mãe já iria operar. Não iria dar tempo do Rodrigo voltar a tempo, então o irmão dele disse que não precisava se preocupar em voltar logo, pois a cirurgia seria rápida e seria de baixo risco, mas que antes de entrar para operar ela estava perguntando dele.

Enquanto o Rodrigo me falava da notícia que o irmão dele deu, dava pra sentir na voz dele a aflição, dava para perceber que ele estava inquieto com aquilo. Chegamos em casa e demos a notícia para os meus pais, ficamos todos sentidos por ele talvez ter que partir. Os Teixeiras estavam indo la para casa com o Gabriel, disseram que tinha surpresa para o Rodrigo, eles ainda não sabiam que o Rodrigo talvez iria embora, como tínhamos acabado de chegar, o Rodrigo quis ir tomar um banho, fui tomar banho com ele e ficamos deitados um pouco até os Teixeiras chegarem. Enquanto estávamos lá deitados o Rodrigo me falou mais um pouco sobre a luta dele pelo bairro dele, pela infra estrutura, acessibilidade, ele me explicou um pouco das coisas que ele faz, quase nunca tínhamos falado disso; ele me contou uns planos dele e que eu acho que é um ótimo plano, meu pai iria gostar de saber, acho que até apoiaria e investiria nisso.
Os Teixeiras chegaram e fomos para a sala, chegando lá a gente se cumprimentou e logo ja perguntei da surpresa, eu estava mais curiosa do que o Rodrigo rsrs.
O Sr.Teixeira foi no carro e voltou:

Sr.Teixeira - Descobrimos que você é músico, então compramos esse violão para a gente tocar hoje, vamos assar uma carne, chamar uns amigos, queremos que você conheça o pessoal daqui.

Roberto - Boa idéia em, eu tenho um violão também que esta faz tempo guardado, vamos tirar a poeira dele hoje. Mas antes Teixeira, vamos ter que esperar um pouco, não sei se o Rodrigo está no clima.

Sr.Teixeira - Como assim? Está tudo bem por aqui?

Rodrigo - Por aqui tá tudo bem sim! Minha mãe que está ruim, teve um problema de saúde e estou esperando notícia para saber se correu tudo bem na cirurgia, ou se preciso me preocupar.

Sr.Teixeira - Poxa, me desculpa rapaz! Vamos guardar isso então e deixar essa carne pra outro dia.

Rodrigo - Que nada Sr.Teixeira, vamos tocar aqui, de qualquer forma, não vai ser hoje que vou ter que ir embora mesmo.  E muito obrigado pelo violão, ele muito bonito, vamos ver se o som é do bom rsrs.

Sr.Teixeira - Então toca ai, vamos ver o que você sabe.

Enquanto o Rodrigo ia afinando o violão o Gabriel pediu pada ir ao banheiro e a Dona Márcia começou a contar uma coisa que aconteceu.

Dona Márcia - O tadinho do Gabriel está faz horas querendo ir ao banheiro, desde a hora que fomos comprar o violão.

Rodrigo - Por que ele não foi no banheiro antes?

Dona Márcia - Seria a primeira vez que usariamos banheiro fora de casa, que não seja preparado pra ele. Era o banheiro do Shopping, o shopping é pequeno, então não tinha tanto banheiro, mas o único banheiro adaptado que tinha estava ocupado. Esperamos por um tempo e nada da pessoa sair, fui bater na porta mas o Gabriel quis ir embora, estava com vergonha por eu estar batendo na porta, quando a gente estava saindo a pessoa saiu, nem era um cadeirante. Depois o Gabriel ja não quis mais ir ao banheiro.

Rodrigo - É realmente assim, infelizmente! As pessoas acham que pode ir rapidinho, que pode ir porque quase não tem cadeirante para usar o banheiro. Eles sempre arrumam uma desculpa, porque eles não têm consciência da diferença e dificuldade que um cadeirante tem pra ir ao banheiro, nem todos, mas muitos necessitam de cateterismo, todo o processo, todo o espaço necessário, o cateterismo é invasivo e incômodo. Pode ir se acostumando, quando isso acontece comigo eu chamo atenção da pessoa, explico, e vocês devem começar a fazer o mesmo, pois nós não conseguimos segurar por tanto tempo.

Dona Márcia - O Gabriel não segura muito tempo mesmo, você também não?

Rodrigo - Eu até consigo segurar um pouco, mas logo que sinto vontade já tenho que ir. Ai imagina só, da vontade, tem que ir, ai quando chega no banheiro ele está ocupado por um folgado. Eles não percebem que eles conseguem usar qualquer banheiro, mas nós só conseguimos usar o que está exclusivo para o nosso uso. Brasileiro tem mania de achar que vagas e lugares exclusivos para deficiente é privilégio, mas nenhum deles estão dispostos a pagar o preço para usufruir do tal "privilégio".

Dona Márcia  - Óbvio que não é privilégio, isso é necessidade, é humanidade, é respeito, é acessibilidade, não privilégio.

Rodrigo - Exatamente Dona Márcia! Quando isso acontecer de novo, chama a pessoa, conversa, explica. Não adianta xingar, apesar de dar vontade as vezes rsrs pois muitos nem sabem do quão importante é para um cadeirante ter o banheiro livre quando ele precisa. Até porque eu mesmo antes de ficar na cadeira de rodas, usava o banheiro exclusivo para cadeirantes sem ter conhecimento de toda essa necessidade.

Dona Márcia - Pra ser bem sincera, eu usava esses banheiros e nem me tocava que era exclusivo para cadeirantes. Só dói quando é na nossa pele né.

Rodrigo - Só assim mesmo. Vocês ainda vão aprender muita coisa com isso.

O Rodrigo terminou de afinar o violão, meu pai começou a cantar, os dois ficaram lá um tempo viajando nas músicas, o Rodrigo parecia até outra pessoa, com o violão na mão ele abriu mais o sorriso, os olhos brilhavam, deu até um certo ciume rsrs, Não demorou muito para que decidissem chamar o pessoal para assar a carne.

O Rodrigo ligou para o irmão dele perguntando se a mãe dele já tinha feito a cirurgia, o irmão disse que ainda não tinha notícia, mas assim que ele tivesse notícias ele avisaria.

Fomos para o fundo de casa, meu pai ja foi acendendo a churrasqueira e começamos a chamar alguns amigos, no meio desses convites alguém chamou um ex rolo meu, eu só fui ver na hora que chegaram e eu não fazia idéia de quem convidou, já que todos tinham contato pessoal com ele e ele era uma pessoa próxima da família. Sempre tivemos uma relação de amigos, mas sempre que dava a gente se pegava, era um rolo fixo e sem cobranças; eu nem me lembrava mais dele, mas na hora me veio tudo a cabeça e me veio a cabeça também o quanto ele era problemático e que nunca conseguiu lidar tão bem com o fato de não haver cobranças, ele não podia me ver com outro que vinha com comentários íntimos no meio dos outros, só para fazer eu brigar com a pessoa que eu estava.
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Moças, me perdoem pela demora desse capítulo, espero ter a compreensão de todas. escrevi e reescrevi umas 3 vezes, a cabeça ta cheia, estou sem tempo e não estava saindo como eu queria, eu não ia postar uma coisa de qualquer jeito para vocês, quero sempre conseguir deixar uma mensagem ou emoção positiva pra vocês.
Não vou conseguir deixar mais um dia definido para postar, mas nunca vou desistir do livro, ele vai ter um final e será um ótimo final, garanto. não sei quando vamos chegar nesse final. Não abandonem o livro, acompanhem, pois vai ter continuação e quando for o final vocês vão saber que é o final.
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Uma Cadeira De Rodas, Mil E Um Desejos.Onde histórias criam vida. Descubra agora