Maldivas

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 Acordei às três da manhã para ir para o aeroporto. Estava caindo de sono, tinha trabalhado até meia noite terminando os últimos preparativos antes da viagem. Seriam vinte e quatro horas de viagem de Liberio até Dubai contando com as escalas; de lá, mais quatro horas até Malé, e depois, um hidroavião até meu destino final: um hotel de luxo nas ilhas Maldivas.

Tinha me tornado repórter turística com o objetivo de conhecer o mundo, e ainda por cima, ganhar um bom salário. Dois coelhos com uma cajadada. Eu já havia conhecido muitos lugares ao redor do mundo, e sempre ficava maravilhada com todos eles: suas culturas, seu povo, suas peculiaridades. Sempre eram muito mais impressionantes ao vivo do que por fotos ou vídeos. Sempre que eu tinha a oportunidade, estendia a viagem por mais um ou dois dias, pra poder aproveitar mais, e geralmente, eu conseguia fazer isso. Claro que os dias a mais não eram pagos pela empresa da qual eu trabalhava, mas isso não era problema pra mim. Sempre conseguia me organizar e juntar uma grana pra ocasiões como essa.

Mas dessa vez seria um pouco diferente: eu consegui com meu chefe (depois de chorar MUITO) finalmente tirar minhas férias, e passaria uma semana a mais nas Maldivas depois do período do meu trabalho. Eu sempre quis conhecer esse pequeno pedaço do paraíso esquecido pelos deuses na Terra, mas nunca tive a oportunidade (nem o dinheiro) para isso. Mas passei anos me preparando e juntando grana para isso, e agora que a oportunidade surgiu com esse trabalho, finalmente poderia aproveitar.

Geralmente, meu trabalho era ir para um ponto turístico pré-determinado pela equipe, e falar sobre tudo: história do local, hotéis onde se hospedar, gastronomia, cultura, lugares onde ir, preços, e tudo o mais que pudesse interessar as pessoas que assistissem. Entrevistava donos de estabelecimentos, turistas que estavam lá... era um trabalho que eu realmente amava fazer. O trabalho dessa vez não seria tão diferente. Havia um dos hotéis nas Maldivas que havia estourado nos últimos meses e estava em alta nos assuntos sobre viagem e turismo, e ele era administrado por um homem relativamente jovem, desde que o pai morrera. Meu trabalho era falar sobre tudo sobre esse hotel, e saber como um homem de 26 anos havia conseguido melhorar ainda mais o império do seu falecido pai em tão pouco tempo.

Agradeci por ter conseguido dormir que nem uma pedra durante a viagem até Dubai. Estava num voo meio apertado junto do câmera, Eren, o responsável pelo áudio, Armin, e a diretora de filmagem, Annie. Nós éramos bons amigos, e estávamos praticamente sempre trabalhando juntos. Chegamos em Dubai pela manhã, e chegamos na ilha do hotel de Jean Kirschtein quase á noite. Fomos muito bem recepcionados pela equipe do hotel, e eles nos direcionaram aos bangalôs que ficaríamos.

- O senhor Kirschtein fez questão que ficassem nos melhores bangalôs disponíveis, e com direito a tudo. Todas as despesas serão pagas por ele. – Informou o camareiro do hotel que nos direcionava aos nossos aposentos.

No caminho, comecei a enumerar os pontos na minha cabeça: ia passar duas semanas nas Maldivas, num hotel de luxo, por metade desse tempo o dinheiro não sairia do meu bolso, e eu ainda receberia minha grana.

Isso sim que é um trabalho perfeito.

Eren e Armin dividiram um dos bangalôs, e eu e Annie, o outro. Estávamos marcados de começar o trabalho apenas no outro dia, então eu aproveitei aquela noite para aproveitar o descanso antes do trabalho.

O bangalô era simplesmente divino. Não ficava na praia, mas no mar. Acima dele, pra ser mais específica. Tinha tudo o que era preciso, e tudo com uma mistura de modernidade e tons naturais, bem praianos. O quarto era enorme, cabiam 4 pessoas ali tranquilamente, e haviam duas camas de casal king size. Fui até a varanda, e a vista era de tirar o fôlego. O sol já estava quase se pondo atrás do oceano, e os tons avermelhados estavam dando lugar à escuridão da noite, que não era tão escura assim, visto que era noite de lua cheia. Tinha uma piscina mediana com borda infinita na varanda do quarto, duas cadeiras para tomar sol, uma mesa com quatro cadeiras com um guarda-sol enorme, e almofadas enormes distribuídas no chão em um semicírculo, em tons de laranja e azul. As "paredes" da varanda davam a impressão de que estávamos deliciosamente sozinhos naquela imensidão de mar. E isso era perfeito.

- Pelos deuses, Ester. Isso é realmente o paraíso! – exclamou Annie abrindo os braços, assim que chegamos na varanda. Eu também estava maravilhada. Pessoalmente era mil vezes mais encantador do que ver por fotos. Eu sentia o cheiro do mar, a brisa fria no meu rosto, e isso me trouxe leveza.

- Se já não fosse noite, eu cairia nesse mar abaixo de nós de roupa e tudo. – falei.

- Mas temos a piscina. Podemos pegar um vinho no frigobar, abrirmos, e fazermos um belo brinde!

Uma ideia dessas, eu não poderia recusar e colocar em prática. Abri uma das minhas malas, retirei um biquini verde, e fui para o banheiro vesti-lo. Saí do banheiro e Annie fez o mesmo, e enquanto isso, peguei um vinho branco no frigobar, duas taças, e fui até a varanda novamente. Coloquei as duas taças em cima da mesa, abri o vinho e coloquei nas taças. Depois de um breve período, Annie voltou, vestida no seu biquini laranja. Ela adorava laranja, nunca vi alguém tão obcecada por uma cor como ela era por laranja.

Pegamos cada qual uma taça, e entramos na piscina, que tinha uma escada de degraus dentro dela, direcionando a ponta "infinita", ficando mais funda à medida que chegava mais perto da outra extremidade. Sentamos nela, e brindamos.

- Um brinde, amiga, por esse trabalho maravilhoso que temos!

- Tintin! – Eu disse, e batemos nossos copos levemente.

Ela pegou o celular que havia deixado na beira da piscina, e ficou pesquisando algo na net.

- Você já viu o homem que vamos entrevistar, Ester? – perguntou.

- Vi, mas muito rapidamente. Não prestei muita atenção, pra falar a verdade. Por que?

Ela sorriu maliciosamente, e me entregou o celular.

Ao olhar para a tela, vi um Homem jovem, com cabelo castanho claro e curto até a altura da orelha, com as laterais e as costas mais longas, os olhos castanho-claros, uma barba rala, e um rosto um pouco diferente do habitual, mas não o suficiente para causar algum tipo de estranheza. Era bem alto, deveria ter em torno de 1,90 (Annie iria ficar parecendo um banquinho perto dele, e eu também, admito), e não parecia ser do tipo muito musculoso, mas podia ver os bíceps definidos nos seus braços levemente dobrados. vestia uma camiseta branca, com uma gravata azul celeste, e calça preta social. Era um homem extremamente bonito, e ele tinha meu ponto fraco: cabelo grande. Ok, não era tão grande como de um guitarrista de bandas de rock, mas o suficiente para chamar minha atenção.

- É ele? – perguntei, mesmo já sabendo a resposta.

- Ele é um pedaço de mal caminho, não é?

- Deixa o Armin escutar o que você está falando, que você tá frita!

- Ah, mas eu estou mentindo? Olhar não arranca pedaço, e não há nada de errado em apreciar a beleza de um homem que parece ter sido esculpido por anjos!

- Tenho certeza de que se estivesse solteira, pularia na cama dele, sua pervertida!

- E você não pularia na cama dele?!

Dei de ombros.

- Nah, não faz muito meu tipo... - Mentira. Fazia totalmente o meu tipo. – Fora de que ele tem cara de quem pega o máximo de garotas que conseguir em uma noite. Não gosto desse tipo de cara, você sabe disso.

De repente, a campainha toca.

- Você pediu alguma coisa? – perguntei a Annie, e ela balançou a cabeça negativamente.

- Devem ser Eren e Armin. – Ela disse, enquanto bebia um gole do vinho.

- Tudo bem, eu vou lá abrir. Bom que bebemos todos juntos.

Saí da piscina, peguei a toalha e me sequei o suficiente pra não sair pingando pelo quarto. Sequei os pés no tapete que havia entre a varanda e o quarto, e me dirigi até a porta. Ao abri-la, eu me deparo com um homem de costas. Ele percebe que eu havia aberto a porta, e se vira para mim. E eu quase pulo para trás ao ver quem era.

Era ele, Jean Kirschtein empessoa.

Um Demônio no Paraíso - Jean KirschteinOnde histórias criam vida. Descubra agora