Vinte e cinco

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Depois de ajuda-lo com os braços e ele reclamar de dor, Harry e eu fomos até a clínica. Liam e Zayn disseram que iriam ficar para preparar algo comestível quando eu voltasse.

 O clima parecia se adaptar ao meu humor e eu sentia frio então Harry me emprestou sua blusa, era maior que o meu corpo e eu tive que segurar a manga com as mãos.

Ao chegar não precisei dizer nada e Eleanor me encaminhou para a sala de Des que me aguardava com uma pilha de papéis, por um segundo seu olhar desviou de mim e foi direcionado a Harry.

— Filho, você por aqui? – O homem perguntou espantado com a presença do mesmo em sua sala.

— Não sei se devo te chamar de pai, mas para todos os efeitos da boa convivência e respeito, olá Des. – Harry disse firme ao sentar-se do meu lado.

O homem olhou um pouco surpreso para Harry e se recompôs, desviando seu olhar de Harry para mim.

— Meus pêsames Louis. Sua mãe no tempo que passou conosco deixou marcas maravilhosas. Você quer tratar do assunto ou prefere apenas ler os papéis?

— Eu... Eu prefiro apenas ler. – Senti um nó formando na minha garganta e a mão de Harry pousou sob a minha fazendo movimentos circulares com o polegar. Peguei os papéis da mesa e chequei onde havia de ter minha assinatura. Respirei fundo e me levantei sendo seguido por Harry abrindo a porta.

— Vamos Louis? - Harry perguntou em tom duvidoso encarando a porta.

— Vamos. Obrigado por tudo Des, essas duas semanas da minha mãe aqui foram boas para ela, até breve. – Acenei e sai me lembrando que teria de voltar para resolver pendencias financeiras.

Eu e Harry começamos a andar para fora da sala de Des e Harry abriu a porta para mim passar e ele também passou, fechando a porta sem olhar para dentro, enquanto eu o esperava. Começamos a andar pelo corredor em silêncio e Harry batucava seus dedos na sua coxa.

— Harry? - Eu perguntei para Harry que parou o movimento com seus dedos e olhou para mim.

— Sim?

— Isso com seu pai foi por aquilo que você me disse?

— Exato! Depois do que ele me disse eu não faço a mínima questão de chamá-lo de pai.

— Entendo. Você vai para minha casa? – Perguntei ao vê-lo me acompanhando para o caminho da minha.

— Se você não se importar, sim. – Ele disse e sorriu mostrando suas covinhas.

— Tudo bem. Os meninos ficaram para fazer o almoço, não tem problema você ficar. – Eu disse e acariciei seu ombro.

— Obrigado... Louis?

— Sim?

— Será que... – Respirou fundo como se buscasse as palavras certas para dizer.

— Será que?

— Será que eu posso te beijar? – Ele perguntou e desviou o olhar do meu.

Eu não dei resposta e andei mais rápido parando em sua frente, fiquei na ponta dos meus pés e segurei seu rosto com minhas mãos logo depois depositando um selinho rápido em seus lábios. Mordi de leve seu lábio inferior que o mesmo lambeu logo após. Eu não sei sobre o sentimento contido naquele gesto, apenas garanto que foi bom.

Voltei ao seu lado e o olhei de canto reparando no seu sorriso estampado, parecia minha irmã quando ganhava uma nova boneca, era a coisa mais linda de se ver, as covinhas fundas desenhando seu rosto envolto por cachos.

— L-Louis eu não sei... eu... obrigado.

— Você não precisa agradecer, nós prometemos que iriamos tentar, certo?

— Nós vamos tentar, mas eu já tenho certeza.

— Eu tenho certeza de que você perde uma corrida comigo. – Comecei a correr mesmo que minhas pequenas pernas não ajudassem. Virei a esquina e o ouvi me chamar.

— LOUEH!

Ouvi a voz de Harry gritar soando dolorosa e corri de volta para onde eu estava antes de correr.

— OI OI!

— ME AJUDA AQUI! – Ele estava caído e passava a mão nos joelhos, eu não consegui me conter e acabei gargalhando.

— Harry como você conseguiu fazer isso? – Tentei dizer em meio a minha risada.

— Eu tenho problemas pra andar, ok? Eu acabo tropeçando nos meus próprios pés e caindo, já se tornou normal, me desculpa se eu te fiz passar vergonha.

— Sem problemas. Eu não ligo, também sou meio atrapalhado. Você se machucou? – Perguntei passando a mão sobre o rasgo que havia sido aberto na sua calça em cima do joelho.

— Não, eu estou bem, podemos ir. – Ele se apoiou no chão tentando levantar.

— Vem, eu te ajudo. – Me abaixei e o ajudei com ele se apoiando em meus ombros.

— Estou me sentindo uma princesa sendo resgatada.

— Harry, menos, por favor.

Após tudo estabilizado continuamos o caminho de casa, vez ou outra ele passava a mão pela minha cintura em busca de conforto e calor.

Durante todo o percurso eu fui pensando na minha mãe, às vezes as pessoas boas se vão tão rápido e muitas que deveriam ir ficam, não é justo, mas nada nesse mundo é totalmente justo.

Chegando na esquina eu pude ver a fachada da minha casa e segurei as lágrimas para que não caíssem, comecei a lembrar de quando eu era criança e nós estávamos no parque, eu cai do balanço ralando os joelhos, chorava alto de dor, mas então tudo passou com um assopro e o acariciar da mão dela na minha bochecha dizendo que tudo iria ficar bem. Cada minuto com ela foi indispensável mesmo nas horas difíceis, eu queria ter sido um filho diferente e menos problemático, que desse orgulho, eu tentei o meu melhor e vou continuar tentando, sei que eu chego lá e de onde ela estiver verá meu esforço.

— Mãe, eu te amo. – Sussurrei baixo como se ela me ouvisse.

— Eu tenho certeza que ela te ama e você sabe pois pode sentir. – Harry disse, limpou uma lágrima que desceu e beijou minha testa.

Cheguei a frente da porta e abri lentamente vendo Zayn sentado no sofá e Liam vindo da cozinha com um recipiente cheio de sopa.

— Aqui Louis, coma tudo. – Liam disse em tom autoritário e Zayn riu um pouco. Comi sem pestanejar pois estava com muita fome, e eu sabia que teria de encarar diversas pessoas no velório da minha mãe, inclusive Lottie.

— Louis, eu vou pra casa tomar um banho depois eu volto de carro para irmos, certo? – Harry foi saindo pela porta e eu acenei como aprovação não tirando atenção da sopa.

Assim que terminei de comer, subi para o quarto e sentei-me na cama, comecei a olhar uma foto que havia da nossa família e ler a carta que mamãe havia me deixado dias atrás... Bem que ela dizia que tinha outros planos.

Entrei no banheiro, liguei o chuveiro e sentei encostado na parede deixando a água cair. Chorei um pouco enquanto murmurei algumas coisas que eu queria ter dito a tempo para ela. Sai do banho e me troquei lentamente, nada de escolhas, qualquer coisa estava bom. Fui até o quarto dela e encarei todos os móveis e a velha cama, abracei o seu travesseiro que ainda tinha seu cheiro e acabei deixando-o molhado. Sai e fechei a porta, dei dois leves tapas na madeira fria e deixei escapar confiante:

— É mãe, daqui eu sigo sozinho.

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