┊ 𝟬𝟰. Cores

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A PRAÇA ESTAVA COBERTA DE NEVE EM OSAKA NAQUELE ANO, a região de Kansai, no sul da ilha de Honshu, Japão, comemora o dia dos namorados da forma mais simplista já imaginada. Mesmo que fosse uma das maiores cidades de centros comerciais do país, a ilha resolveu colocar balões biodegradáveis para voar em comemoração à data, os formatos em corações vermelhos eram clichês e não agradaram muitos turistas, mas os nativos de lá adoraram a mudança.

O governo japonês decidiu aquilo alguns meses antes, mas é óbvio que os comércios populares não deixariam de explorar seu charme naquela data tão especial. No dia 12 o cônjuge 1 presentearia o cônjuge 2, mas no dia 14 os papéis se invertem. Ou seja, não bastava o governo dizer na maior cara dura que você tinha que namorar, ele também te obrigava a durar o namoro para com duas datas diferentes.

A vida de solteiro é difícil.

­— Vocês são estranhamente familiares. — O Chapeleiro se permitiu a observação mais uma vez.

— Desculpe chefe, não ouvi. — Rizuna Na, ou Ann para os íntimos. Falou atraindo olhares de Lisa, que franzia as sobrancelhas sem entender porque o homem desconhecido a encarava tão fixamente.

A mulher faz parte dos membros do conselho da praia, é uma das poucas pessoas que o Chapeleiro confia naquele lugar. Ela tem cabelo preto curto, olhos castanhos e uma altura invejável para muitos, seus trajes fazem jus a uma camisa de botões transparente, branca, amarrada e shorts azul marinho. E sua marca registrada, os óculos escuros.

Ann exala inteligência e é uma das mulheres da praia com maior habilidade para assuntos periciais, afinal, a mulher era perita antes de estar na fronteira. Além da mulher, haviam outros membros do conselho na praia, mas agora eles não eram importantes.

— Não é com você que estou falando. — Conclui tentando não parecer grosso, ainda estava anestesiado por encontrar a filha de Márcia bem ali, na sua frente.

Quando o chapeleiro escolheu morar em Kansai com seu amante Aguni, decidiram que não deixariam a marca do homem padecer, principalmente no mês do amor. Portanto, a Chapelaria do casal permaneceu aberta durante todo o feriado naquele ano, recebendo mais casais do que na antiga cidade em que moravam. E foi no segundo dia dos namorados, que o Chapeleiro conheceu os jovens Márcia e Allan.

A mulher de cabelos ondulados e claros estava com um sorriso sapeca no rosto, diferente de seu marido, que claramente queria estar em casa naquela tarde fria de muita neve, mesmo que o chocolate quente custasse o olho da cara.

O homem se lembrava perfeitamente das feições daquele casal, Márcia queria presentear o marido com um chapéu, mas ele odiava chapéus, não seria uma tarefa fácil agradá-lo. Odiar também... Uma palavra muito forte, ele apenas não achava muito agradável nenhum modelo em sua cabeça.

Depois de risadas e boas conversas, o chapeleiro conseguiu achar o complemento perfeito no cabelo do rapaz. Tornaram-se amigos por algum tempo, mas dias depois ambos os jovens foram dados como desaparecidos e o homem nunca mais teve notícias do casal.

— Seus pais, quem são eles? — As memórias dos sorrisos naquela tarde faziam a felicidade do homem crescer gradativamente.

Se recordava bem do amor dos dois e como eles haviam aconselhado o Chapeleiro para com Aguni na época pelas brigas corriqueiras da vida em cônjuge.

Devia sua vida, seu amor a eles.

Mas Aguni não os conhecia, por isso não a reconheceu, eles estavam brigados na tarde que seu amado conheceu o casal.

— Márcia e Allan, por acaso os conheceu? — A expressão confusa de Elisa era notória.

— Podemos dizer que se eu visse seu nascimento seria seu padrinho.

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