"O irreal é mais poderoso do que o real. Porque nada é tão perfeito como você pode imaginar.
Vivemos no mundo do irreal onde tudo o que vemos é somente uma sombra imperfeita de uma realidade mais perfeita.É nisso em que eu acredito, tudo isso ainda me parece estranho e eu não quero perder um só momento, a irrealidade dos meus pensamentos me levará a mundos de alcance ilimitado."
- Pensamento de Misty.
Estávamos na estação mais fria do ano, havia neve fofinha cobrindo o telhado das casas, os carros que ao invés de estarem na garagem estavam para o lado de fora ficaram quase completamente cobertos. A camada de neve também cobria as ruas e calçadas que enquanto eu andava enrijecia meus dedos dos pés devido a ineficiência das minhas botas.Luzes piscantes, bonecos de neve com cachecóis e cartola, bons senhorzinhos de vermelho tentando entrar pelas chaminés das casas e árvores enfeitadas se destacaram como decoração deste ano.
O barulho das crianças que estavam vestidas a caráter para está estação correndo e brincando se misturava com a de seus pais, lhes dando broncas pelas janelas de suas casas. O vento frio trazia até mim o cheiro satisfatório de pães de gengibre e chocolate quente, uma pena que isso abria meu apetite e logo podia escutar a reclamação da minha barriga.
Já deve ter percebido que falava do inverno, estação em que a natureza chora ao ver toda sua cor laranja sendo pintada por um branco sem graça.
Também é a época mais mágica do ano, o Natal. Como quando três espíritos vem lhe fazer uma visita, buscando que reflitam sobre a sua generosidade ou relatam sobre uma criatura verde e peluda que odeia o Natal e por isso tenta roubá-lo.
Desde minha infância sempre busquei pelo místico e misterioso, é daí que vem o Misty, meu nome no caso.
Sou das que acredito em sereias, fadas, bruxas e até seres ainda não descobertos por nós que regem algum mundo por aí nesse gigantesco universo. Mas porque já os vi. Leio muito e vivo submersa a esse tema a anos.
Em Susetville, pequena cidade localizada bem ao longe de todas, acontecer coisas paranormais é comum por aqui.
Moro no orfanato dessa cidade desde que me entendo por gente, claro, somente até atingir a idade adulta.
Durante esses anos ouvi muitas histórias envolvendo avistamento de ovnis, desaparecimentos inexplicáveis pela polícia, cada uma mais interessante aos olhos do povo.
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De repente me vejo em frente a loja do senhor Joaquim, linda por sinal, gosto do azul que reveste toda a loja, por dentro um tom mais claro e por fora um semelhante a cor do céu, me traz paz e tranquilidade mas não consigo ver por completo dessa vez, em meio a toda essa paisagem branca.
Ah! Uma pena - penso.
Como estava frio, pensei em vir aqui comprar sopa e chocolate quente para que me aqueça durante essa noite de inverno e as próximas, os noticiários alertaram sobre uma forte frente fria vindo para nós, o que resultaria em uma tempestade e muitos problemas.
Ainda faltava alguns dias até o intenso frio chegar aqui, todos da cidade estavam se preparando.
Ao entrar na loja, felizmente aquecida pude ouvir o noticiário novamente na mini televisão de tubo que ficava em cima do balcão da loja. Estavam repassando as orientações.
Mas sei, que essas orientações dos repórteres não tem só a ver com o clima. Há uma lenda não muito antiga, ligada aos Natais de Susetville.
Diz a lenda, que a mais ou menos à 10 natais passados, o clima da cidade mudou completamente durante os invernos.
De chuvas leves e neve, á grandes nevascas, ventos fortes e furacões capazes de virar navios cargueiros, junto a desaparecimentos de pessoas.
O que preocupou muita gente, principalmente aquelas famílias com crianças, por isso temos um quase toque de recolher.
Ainda nessa lenda, conta que junto com o clima pesado aparecem criaturas estranhas - E como! - Nunca foram registradas por fotos ou vídeos mas há quem diga seu porte e aparência que por descaso acabara se deparando com eles.
- Ah eu vi um sim, tinha uns olhos grandões brilhantes. - disse um morador anônimo no noticiário.
- No meu caso, eu estava na rua quando fui pega de surpresa. Pareciam cair do céu aos montes. - disse outro.
Dizem ter a aparência muito bela, talvez uma beleza sobrehumana, não possuem altura específica e são silenciosos, as vezes com forma semelhante a homens outras vezes a mulheres, poucos conseguiram chegar perto. Não há horário nem localidade, os infelizes que conseguem se aproximar, são atraídos por sua beleza como as sereias atraem marinheiros para o fundo do mar.
Nós acreditamos nessa lenda, por aqui é quase uma lei. Alguns dos desaparecimento de pessoas a polícia vincula seus casos a essa lenda.
É o que aconteceu com uma conhecida minha, a dona Nina.
Dona Nina morava no apartamento 326 do condomínio em que eu moro atualmente, tínhamos apenas um andar de diferença.
Moravamos no subúrbio em um prédiozinho de tijolos um tanto precário, ao lado tinhas mais alguns prédios e casas antigas. Da minha janela ainda era possível ver de tardezinha as crianças brincando nos balanços e gangorras na praça em frente ao prédio.
De vez em quando Dona Nina aparecia batendo na porta do meu apartamento, dizia que eu era parecida com sua neta mais nova ou até me confundia com ela e me oferecia biscoitos, eu por educação aceitava e ainda convidava ela para entrar e me acompanhar a um chá.
Eu nem sabia que ela tinha filhos, ou família em meus dois anos nos quais eu moro aqui, nunca a vi receber uma visita deles se quer.
Apesar de que ela estava ainda na meia idade tinha alguns problemas de saúde que fazia todos duvidarem da sua sanidade.
Vivia tendo devaneios e contava histórias irrealistas de que cavaleiros a levavam para um local utópico, como a terra de Nárnia, eu, assim como os outros, não acreditava mas não lhe borbardeava com críticas, ao contrário dos outros entendia como histórias criativas que ela gostava de contar.
Certo dia, ela simplesmente desapareceu, todos procuramos ela pelo mesmo caminho que ela sempre fez e os locais que ela visitava mas nenhum sinal dela. Todos concluímos que ele foi levada por uma dessas criaturas, já que o período de seu desaparecimentos batia com o da grande nevasca da lenda.
Mesmo não tendo uma conexão muito profunda com a Dona Nina senti descontentamento com seu sumiço e pelos comentários que ouvi durante um tempo pela cidade e acho que foi apenas eu.
Tive que suportar comentários abomináveis como "pelo menos aquela louca ao invés de nossos filhos" ou então "certeza que essa velha se perdeu por aí na mata e esqueceu-se o caminho de volta". Sou tímida e na minha então não tive coragem para responder de volta quando os ouvi.
Eles ainda se consideram humanos após esses comentários?
Ao me distanciar de meus pensamentos lembrei-me de sair da loja do Seu Joaquim.
Revisei a sacola de compras para ver se não tinha esquecido algo, mas não. Então retornei pela rua que tinha vindo, até minha casa.
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Misty - Ascensão ao Trono(Rascunho)
FantasyMisty é uma jovem adulta, órfã, tímida e desajeitada. Morou em uma cidade pequena, Sunsetville conhecida por acontecer coisas estranhas. Ao ter um encontro inesperado com uma criatura estranha, ela se vê lançada (literalmente) a um mundo novo mágico...