PRÓLOGO

62 1 0
                                    


Ainda lembro, como se fosse hoje, o cheiro das flores camélia que ornamentavam o pequeno espaço da igreja principal da graciosa cidade de belos montes. A igreja era pequena, mas tinha um aconchego e transmitia a sensação de paz para quem a visitava. Sempre sonhei casar nesse lugar. Afinal de contas; foi aqui que nasci e cresci. E ainda me lembro muito bem que foi atrás dessa igreja, em uma noite de comemoração religiosa, que dei o meu primeiro beijo na boca.
Quando pisei os pés na entrada da igreja, no dia do meu casamento, o lugar pareceu ficar vibrante e cheio de cores. Parecia haver anjos por toda a parte tocando suas harpas, enquanto meu olhar percorria todo o espaço decorado. As pessoas me olhavam como se reparassem em cada detalhe do vestido branco rendado com uma calda longa discreta. Na verdade; nenhuma noiva é discreta em seu dia. A noiva é o centro das atenções com seu vestido robusto, seu buquê de flores favoritas que é desejado pelas primas encalhadas, seu semblante reluzente, cheio de pó, blush, e demais acessórios que parecem ao fim da noite serem tão pesados quanto o vestido caríssimo encomendado. Parecia que aquele dia seria o meu dia, mesmo que o meu gosto fosse bem modesto, ao contrário de tudo aquilo. Mas as coisas não ocorreram como a minha cerimonialista programou.
O meu passado estava sentado na última fila de cadeiras da igreja. O meu suposto presente e futuro me aguardava sorridente próximo ao altar. Eu lembro que olhei para ambos e meu mundo pareceu girar. Mas antes que eu pudesse dar o primeiro em direção a minha vida, o mundo escureceu. A única coisa que me lembro foi a voz de um senhor me chamar e ao recobrar os sentidos percebi que conhecia aquele senhor, mas apenas por foto. Isso foi assustador.
— Olá, Alice? Como vai? Você está linda nesse vestido. Preparada para voltar ao passado e decidir o seu futuro?

O casamento dos tempos Where stories live. Discover now