HORA 5
— Então, o que pretende fazer quando terminar a faculdade? Residência? — Perguntou Elisa ao me passar o primeiro prato recém lavado para minhas mãos.
Minha mãe sempre me disse que é falta de educação jantar na casa de alguém e não ajudar lavar a louça no final. Então, existem certos costumes que ainda levo comigo.
— Eu penso muito na área de patologia. Estou examinado direitinho minhas opções, mas a princípio está sempre vem a minha mente.
— Claro, faz apenas alguns meses que iniciou a faculdade. É normal ainda ter uma dúvida sobre o que fazer depois. Mas espero que consiga se identificar e focar nos seus sonhos. Meu marido, que Deus o tenha, sempre dizia que o foco era o que alimentava sonhos.
— Pensando bem, ele tem razão. Foco. Talvez essa seja a palavra que eu preciso repensar ao escolher o que vou fazer. Preciso que seja algo que me faça levantar da cama todos os dias com o sentimento de felicidade por ir fazer algo que amo.
— Era exatamente isso que meu marido sentia! Ele acordava disposto a ir para a empresa, nosso pequeno negócio, até então, e tinha um sorriso no rosto todas as manhãs tão bonito. Ele sentia orgulho do que ele fazia. Amava cuidar dos protocolos da empresa e tudo isso que parece tão complicado para mim. A Mônica aprendeu tudo isso com ele e acho que o amor ao trabalho, dedicação, tudo isso ela aprendeu com o pai. E seu pai, sua mãe? O que eles fazem? André nos contou pouco sobre eles.
— Meus pais são os típicos de um interior. Meu pai é mecânico a bastante tempo e já minha mãe é dona de casa. Sou a filha mais velha e tenho uma irmã de três anos de idade. Sou de família pequena. Da parte da minha mãe eu só tenho uma tia com duas filhas, no caso, minhas primas. Já do meu pai, eu tenho apenas minha avó. Ele é filho único.
— Bem pequena mesmo! Deve ser fácil organizar festas de natal, fim de ano.
— Bem, não somos muito do tipo de comemorações. Acho que é por isso que eu sou pacata e adoro um silêncio. Acho que deve ter sido por isso que acabei caindo na piscina. Quando vejo muitas pessoas reunidas em um só lugar fico nervosa. Quando dei de cara com os tios do André, a senhora, a Mônica, toda a criançada correndo de um lado para o outro, eu Puff, caí na piscina. Bem constrangedor, não?
— Não mais do que encontrar seu marido bêbado no altar da igreja.
— Como assim?
— O Sousa, um dos irmãos do meu marido, o embriagou. E quando eu cheguei no altar, eu corri o risco de não casar. Você não sabe a vergonha que passei. Foi quase de casamento a divórcio. Fora que dancei a noite inteira com o meu pai, porque o pai do André capotou de sono em cima de nossa mesa de jantar. Então, quem venceu na vergonha?
Ri da forma como dona Elisa me olhou ao me entregar o último prato recém lavado em minhas mãos. Mas o clima logo mudou para um assunto sério. Papo de mãe.
— Sabe Alice, eu não sei se você percebeu, mas eu sou do tipo mãe coruja, e até a Mônica diz que eu mimo demais o André e que ele é meu preferido. Mas não é verdade. A verdade é que eu amo os dois por igual. Mas cada um tem uma ligação diferente comigo. A Mônica é mais independe, ela sempre foi assim desde criança, e já o André, ele sempre foi mais carinhoso para comigo. É isso que torna, às vezes, uma relação diferente da outra. Mas não significa menos amor.
— É, eu entendo. Eu não sei dizer se tenho uma relação diferente com a minha mãe. Ela é do tipo durona e também parece manter distância de emoções. Já o meu pai você ver as emoções florirem no olhar. O que é bem estranho, já que ele é do tipo caladão. Acho que a timidez força o olhar ser carente e meigo. Não sei explicar. – Disse isso parecendo refletir nas minhas próprias palavras. Acho que foi a primeira vez em minha vida que fiz uma observação profunda sobre meu velho pai.
— Tudo bem? – Perguntou Elisa ao reparar que estava pensativa.
— Ah, Sim! Tudo bem! – Respondi ao pegar o último copo das mãos dela.
— Alice, sabe onde quero chegar com toda essa conversa? Sobre o André e eu termos uma ligação forte?
Arregalei os olhos quando percebi o tom de voz de Elisa mudar para sério.
— Não quero que pense que estou dando uma de mãe coruja até o extremo. Do tipo que persegue a nora e que fica se metendo na relação do filho. Não quero ser sua sogra, talvez eu deseje ser sua amiga e quem sabe ser como uma segunda mãe para você, já que agora você está bem longe da sua. Mas para isso, eu preciso ter certeza que você será uma companheira que meu filho merece. Ele é um rapaz doce, que tem princípios que parecem inquebrantáveis. Eu já vi ele se envolver com meninas que o deixaram de coração partido e não que ele tenha me dito; mas a bendita ligação entre mim e ele me avisa sempre quando as coisas não estão legais. Preciso de alguém que o zele da mesma forma que eu tenho certeza que ele zelará por sua companheira. Espero que você seja essa companheira.
— Está tudo bem por aqui, mãe? — Disse André ao entrar na cozinha.
— Claro, que sim! Sua mãe estava apenas me contando algumas histórias sobre você quando criança. – Falei em um sobressalto ainda pensando nas últimas palavras de Elisa.
— Bem, está tudo certinho por aqui. Acho que agora eu preciso ir dormir. Amanhã nos vemos, certo Alice? – Disse Elisa com um sorriso acolhedor nos lábios e olhos. Não penso que o sorriso seja remoço por achar que está pegando pesado comigo ao dizer o quão especial seu filho é. Porque ela não precisa se sentir assim. Já percebi que o filho dela merece uma companheira a sua altura. E eu sou sim, a companheira a altura.
— Boa noite, Dona Elisa. Eu gostei muito da nossa conversa. Espero que possamos nos conhecer mais.
— Eu estou ansiosa para isso.
O clima pareceu de disfarce, mas não era disfarce. Era apenas o recado de que a entendi e que a preocupação de Elisa será levada em consideração.
Elisa sai da cozinha e André, que não é nada bobo e conhece muito bem a mãe, logo me indaga:
— O que ela te disse?
— Nada demais!
— Vamos, me conta! – Disse ele ao me encurralar próximo a bancada da pia e me tirar das mãos o pano de prato úmido.
— Nada, já disse!
— Você está mentindo! – Ele agora recostou seu rosto ao meu me encarando a boca.
— Ela me disse que te amava e que você merecia uma companheira.
— E você? O que disse? – Ele ainda está tão próximo de minha boca que parece hipnotizado com meus pequenos traços.
— O que acha que disse?
— Espero que tenha dito que você é essa companheira. – Ele me beija logo em seguida com um beijo quente e saboroso.
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O casamento dos tempos
RomanceChegou o grande dia. Foi tudo perfeitamente cronometrado e minuciosamente pensado. Havia flores por toda a pequena igreja. Pessoas apresentáveis para a ocasião. A família ansiosa e com sorriso no rosto. Havia o noivo apaixonado. Mas também havia uma...