HORA 1
— Você está perfeita! — Dizia minha cunhada Mônica ao dar o último retoque em meu vestido enquanto ainda estávamos em frente ao espelho. Estou acordada desde às seis da manhã, trancada em um quarto de salão de beleza, alugado para um dia de noiva. Mas posso jurar que perfeita não é o meu sentimento em meio a tanto sono. Minha cunhada insistiu que devíamos começar a nos preparar cedo para que tudo ficasse impecável.
O que falar de uma cunhada que adora festas do tipo que envolva a família inteira? Ela ama organizar festas de aniversário, despedida, colação, casamento, ou seja, ela adora correr atrás de cada detalhe chato como; preço, buffer, atrações. Nunca vi nada parecido. Mas não posso reclamar, porque ao contrario dela eu sou um desastre com tudo isso. Tenho um pavor em organizar festas. Então, para minha alegria pude contar com ela para organizar todo o casamento sem me preocupar com absolutamente nada.
— Nossa, já são quatro da tarde! Preciso ligar para a mamãe e ver como anda as coisas com André. Espero que ele tenha dado um jeito naquele cabelo ridículo dele. Entrar na igreja despenteado será um desastre! — Dizia ela ao reclamar do meu noivo e futuro marido. Resumindo; seu irmão. — Alô, mamãe?! Me diz que a senhora conseguiu dar um jeito no cabelo do André?
Mônica é detalhista. Ela gosta de cada coisa programada e em seu devido lugar. Até diria que ela é louca se caso não percebesse que cada festa que ela organiza é simplesmente as melhores da família. Quando entrei para a família, grande família, diga-se de passagem, eu tive que me acostuma com o jeito alegre descontrolado da minha cunhada, e os mimos de minha sogra para com o André, meu noivo. Infelizmente, André já não tinha seu amado pai quando nos conhecemos, então, o que escuto sobre ele são apenas histórias antigas. Mas os tios de André, por parte de pai, sempre foram presentes. Acho que todos consideram André muito mais que um sobrinho. É bonito de ver a amizade entre eles. Sendo assim, churrasco é uma coisa que não falta entre eles. Tomar algumas cervejas, jogar conversa fora, e refrescar a cabeça com um bom banho de piscina na casa da minha sogra, é a programação favorita deles.
— Ele não está comigo, Mônica! — Dizia minha sogra do outro lado da linha.
— Como assim o André não está com a senhora? Que diabos aconteceu? Eu não deixei claro que ele devia estar se preparando para o casamento e não respondendo e—mails da empresa? — Dizia Mônica já com um tom de voz mais alto e talvez puxado ao desespero por algo sair fora do programado.
A família de André são donos de uma grande metalúrgica na capital de belos monte, (nome da capital). Parece ser um negócio antigo de família, mas que atualmente vem ganhando o mercado como nunca antes, com direito até a destaque estadual. Os funcionários são praticamente todos da família. Mônica cuida da burocracia da empresa; papelada, funcionários e demais. Já André, ele é a parte comercial do negócio. Ele lida direto com clientes, vendas. Minha sogra sempre está presente no local. Ela parece sempre estar à espreita para saber se André precisa de algo, se já comeu, coisas de mãe. No chão da empresa, onde as coisas parecem sempre estar a todo vapor, o tio de André, o Sousa, é o gerente. Ele tem anos no negócio da família e conhece todo o processo de fabricação como ninguém.
— Como assim o tio Sousa levou o André para o bar do hotel? Ele pensa que vai fazer o mesmo que fez com o papai que o embebedou antes do casamento com senhora? — Dizia Mônica já gritando e andando de um lado para o outro, enquanto eu a observava sentada de uma poltrona acolchoada. Sendo que ela me mandou ficar em pé para não amassar um centímetro do meu vestido. Imagina se ela me olha agora e ver que não só o André a ousou desafiá-la como eu também ao sentar para descansar minhas pernas já inchadas?
— Eu estou procurando os dois, calma Mônica! — Dizia minha sogra já apavorada com os gritos da filha.
— Eu vou matar o André! Eu vou estrangular o tio Sousa com minhas próprias mãos!
— Calma, encontrei eles.
— Passa o telefone agora para o André. Ele vai ouvir poucas e boas. Mas que garoto inconsequente.
Dessa vez Mônica cruza os braços esperando que do outro lado da linha André seja ameaçado de morte por ela, caso ele ouse colocar o casamento a perder por um copo de bebida.
— O que pensa que estar fazendo? Suba agora para seu quarto, der um jeito nesse seu cabelo desengonçado e cuide para que esse terno caríssimo não tenha uma gota de suor! Eu não vou passar vergonha na frente dos convidados e da família da noiva devido sua cabeça oca. — Ela ordena assim que escuta a voz do irmão.
— Calma, Mônica! Vai ficar tudo bem, eu garanto!
— Como ficar tudo bem? Você não percebe que o tio Sousa que te pregar a mesma peça que fez com o papai no dia do casamento dele e da mamãe? Sai daí agora! Eu estou mandando! Você não vai aparecer na frente da família toda bêbado. Eu mato você!
— Não se preocupe, Mônica! Não coloquei nem uma dose de bebida em minha boca. Estou apenas conversando com o tio Sousa que não para de falar como é a vida de casado. — Fala André do outro lado da linha com a voz mansa ao lidar com seu tio já quase bêbado. — Me deixe falar com ela.
— Ela quem?
— Minha noiva, hora essa? Com quem mais?
— Você não pode falar com ela antes do casamento. Dar azar, você sabia?
— Dar azar vê-la antes, não falar no telefone.
— Tudo bem, vou permitir. Mas não diga eu não te avisei sobre o azar.
Mônica vem em minha direção com o celular na mão, parecendo desaprovar o contato entre mim e meu futuro marido antes do "sim" na frente do pastor.
— Ele quer falar com você. — Ela me estende a mão com o telefone, mas antes que eu possa pegá—lo ela arregala os olhos e me repreende; — Ei, mocinha! O que faz sentada aí amassando o vestido? Pode levantar agora!
Não ouso discutir com ela e pegando o telefone de suas mãos eu levanto e sigo em direção a pequena janela que dar vista para a rua pacata de belos montes.
— Como você está? Deve estar sendo difícil lhe dar com as ordens da Mônica? — Dizia André com a voz suave.
— Estou tentando não ficar louca. — Disse ao abrir um sorriso tímido.
— Eu sei que você não gosta de pensar em um casamento grande, igreja lotada de pessoas que vão te esquadrinhar até alma quando você pisar na igreja linda em um vestido de noiva. Mas você sabe como é a Mônica, ela adora esse tipo de coisa e não ia nos deixar em paz até você aceitar fazer uma grande festa.
— É, eu sei! E ela não me deixou em paz mesmo até eu dizer "sim" a ela. Mas tudo bem, estou quase me acostumando com a ideia, apesar de estar agora com a cara apavorada.
— Você deve estar linda. Na verdade, você é linda! Mas acho que você será a noiva mais linda da família.
— Para! Você está me deixando mais nervosa ainda. É até capaz de tropeçar na entrada se você me encher de elogios agora.
— Mas é a verdade. Acho que em toda minha vida nunca verei uma noiva mais linda que você!
— Espero que não, mesmo! Afinal, você só se casará uma vez. Será hoje e comigo! — Escuto André rir do outro lado da linha quando minha voz passa de apaixonada a ciumenta em questão de segundos.
— Nossa! Isso é ciúmes? É isso mesmo? — Agora quem rir sou eu. Porque mesmo que André fosse um rapaz de cabelos castanhos claros, olhos cor de mel e com um porte alto e saudável, ele nunca me deu motivos para desconfiar de sua fidelidade para comigo. Nosso relacionamento sempre foi maduro, apesar da pouca idade que tínhamos quando nos conhecemos.
— Está na hora de dizer "até! " — Falava Mônica logo atrás de mim parecendo louca para me roubar o telefone.
— Preciso desligar. Sua irmã já estar louca para me bater caso eu não entregue a ela esse telefone.
— Tudo bem. Então... até o sim, certo?
— Sim! Até o sim e para sempre!
Assim que devolvo o telefone, Mônica transmite a André suas ordens claras;
— André, suba agora para o seu quarto e manda o tio Sousa se arrumar também. Aproveita pede para ele tomar um café bem forte para não aparecer com cara de ressaca na igreja. Que coisa, hein?! Você tem ideia de quanto trabalho dar em organizar uma festa de casamento?
— Tchau, Mônica! — Tentava André se despedir da irmã antes que ela começasse a jogar todos os detalhes da festa.
— Não desliga, André! Você não pode desligar na minha cara. Eu sou sua irmã e madrinha de casamento. André? Alô, André? Eu não acredito que ele desligou na minha cara.
YOU ARE READING
O casamento dos tempos
RomanceChegou o grande dia. Foi tudo perfeitamente cronometrado e minuciosamente pensado. Havia flores por toda a pequena igreja. Pessoas apresentáveis para a ocasião. A família ansiosa e com sorriso no rosto. Havia o noivo apaixonado. Mas também havia uma...