Prólogo

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— Levante-se do chão, Heloísa, eu não a eduquei para desmoronar no primeiro terremoto. 

A máscara de ferro que a mamãe carregava ia muito além da disciplina, ela poderia me torturar e rasgar meus pés em treinos que duravam seis, sete ou até doze horas. 
Mas fingir que não estava abalada com a morte do marido era demais para mim, eu mal conseguia assimilar o que acabara de ouvir. 
Meu pai, meu amor, meu herói. 
A pessoa que guardava as chaves da minha infância, o homem que ainda me acordava de madrugada para comer pipoca com refrigerante escondido da minha mãe. 
Como seria possível manter minha sanidade mental agora que o perdi?

— Senhora, há um carro pronto para levá-las. — Uma das secretárias do estúdio informa e tenho a impressão que a mulher está mais abalada que nós.

— Você pretende ficar estirada no chão até que horas? Sou ocupada demais para seus chiliques, então, por favor, se recomponha que vou te deixar em casa. 

A voz que parece branda é um contraste com a rispidez da pessoa real, Deus me livre que os empregados vejam o quanto Nádia Reis é uma mulher cruel e sem coração quando o assunto são suas filhas. 

Respiro fundo e recolho meus cacos, ela não precisa das minhas condolências, então os sentimentos que trago comigo também não lhe servirão. 

— Minha irmã já foi avisada? — Pergunto preocupada com Isabela, que deve receber a notícia sozinha. 

— Alguém já deve tê-la avisado, é outra que ainda vai me matar de desgosto com essa porcaria de sei lá o que digital. 

Coitada da pobre garota que queria apenas cursar jornalismo e se viu um pouco perdida com o mundo lá fora. Desde que enfrentou a mamãe dizendo que não seria bailarina, sua vida deu uma virada de 180 graus, afinal a matriarca dessa família é osso duro de roer. 

Pelo menos Isa se diverte com seu canal no Youtube e ganha dinheiro para isso, ao contrário de mim, a irmã mais nova que ainda segue ordens e tem vontade de prender a mãe no porão. 

Pena que não temos um. 

— É a minha irmã e, mesmo que você não esteja destruída com a notícia eu estou, quero saber como ela reagiu sem ter ninguém para segurar sua mão. 
Deixo-a para trás com os pés colados ao lugar que foi construído para ela.
Meu pai amou essa família a vida toda, realizou todos os sonhos que mamãe pôde pensar em desejar, multiplicou nossas lembranças felizes e cuidou para que crescêssemos com o melhor que a vida podia oferecer. 
A metade do meu coração estava morta e a partir daqui nada mais em mim seria inteiro. 

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