Capítulo 12

1 0 0
                                    

— Eu já sei o que preciso fazer, e sua ignorância não está me ajudando a encontrar uma solução concreta, caralho. 

Os gritos de Hendrie me fazem acordar assustada, quem diabos esse homem está querendo matar agora? Tento prestar atenção quando percebo que ele está na varanda próximo à janela, o único lugar bom para um sinal decente de celular. 

Ainda me sinto anestesiada com a conversa de ontem, meu cérebro burro se nega a entender que são a mesma pessoa, aqui dentro é como se o meu Rambo nunca fosse capaz de coisas cruéis assim com mulheres indefesas, não ele, que passou todo o nosso mês me dizendo que ninguém tem o direito de mudar algo em mim. 

Levanto, querendo esclarecer tudo, vamos resolver isso como bons adultos e retomar a vida para consertar as burradas. Abro a porta sorrindo, pronta para dizer que tudo bem ser um idiota, ninguém nasce desconstruído, mas ele precisa arrumar a bagunça que fez o mais rápido possível. 

Mal abro a boca quando seu olhar afiado me atravessa como uma lâmina. Esse não é o homem com quem passei os últimos dias, e o semblante que ele carrega é de dar medo. 

— Você não sabe cuidar da porra da sua vida não, menina? Fecha essa merda de porta e me deixa em paz! 

Sem questionar eu cumpro a ordem, mas não sem antes contemplar a realidade dar as caras e escancarar a dor que ele sente, há algo muito errado, mas não sou eu quem vai resolver, não assim.

São necessários apenas alguns minutos para que Hendrie perceba a merda que fez. A porta da sala não está trancada, não de fato, mas ele não abre, pelo contrário, eu consigo ouvir sua respiração forte atrás dela como se estivesse escolhendo o que dizer para colar os cacos que acabou de quebrar. 

— Sou um miserável, você já notou isso e tem todo o direito de me repelir, eu entendo. Só me perdoe por gritar, não era a melhor das ligações e eu descontei em você, e isso não é justo. 

Abro a porta para encarar aqueles olhos pequenos como os de uma criança, seria comovente se ele não fosse tão grande e tivesse me ensinado a não ter pena de quem me fere. 

— Só tente manter os seus problemas em você, ok? Não tenho que escutar seus desaforos sem sentido. 

Me viro e, antes que meus pés completem o passo, sinto braços fortes me rodearem, Hendrie me aperta aliviando a tensão que habita em mim e me faz querer chorar por estar tão perto. 

O que sentimos é tão intenso que nem mesmo os dias parecem significativos daqui.

— Por favor, bailarina, eu vou dar um jeito de provar que não sou mais a pessoa que fez essas atrocidades, só não me afasta. 

Meu corpo se derrete com a voz sussurrada, é cedo demais para besteiras quando ainda estou magoada com seu rompante e chocada demais com as revelações que fui obrigada a engolir. 

— Precisa me soltar, Rambo. 

— Eu nunca mais vou soltá-la, bailarina, até mesmo quando não estiver por perto, saiba que ainda serei o seu chão e não vou deixá-la cair nunca mais. 

Em um giro rápido, seus olhos encontram os meus e toda a vida que se perde em mim pode ser encontrada na imensidão que esse homem traz. 
Jogo as dúvidas para o fundo da minha alma e o beijo, eu preciso disso mesmo sabendo que ele não merece nada bom que eu tenha a oferecer. 

Hendrie me suspende e minhas pernas se agarram em sua cintura, o movimento faz com que o beijo vá de suave a frenético em poucos segundos. Meu corpo está quente, dolorido e, ao mesmo tempo, ansiando pelo que está por vir. 

— Você está machucada, não podemos. — declina o bom sujeito. 

— Podemos. Pelo amor de Deus, não me deixe querendo você em pleno raiar do dia. 

Hendrie caminha e me senta no balcão da cozinha, a típica cena de filme quente onde a garota é derramada na mesa e saboreada pelo mocinho. 

— Vamos alimentar você e cuidar dos seus machucados, depois vou gastar o resto do dia me desculpando por gritar.
Se não sentir dores durante todo o dia eu prometo que vou te foder de frente para aquela janela de vidro enquanto a lua nos assiste, ok?

Quente, estou quente como um vulcão à beira da erupção e esse desgraçado quer cozinhar? Que raios tenho feito para receber castigo tão impiedoso? 

— Eu odeio você, sabia? — declaro, fazendo o melhor bico que consigo. 

— Por ora, mais tarde vai estar gritando que eu sou uma delícia e implorando por mais. 

Me recuso a continuar a brincadeira. 
Ele quebra os ovos como se eu não estivesse ali e decido não estar, pulo da bancada para fugir da sua cara lavada, mas ao tocar no chão, meus pés doem e o joelho falha. A queda não vem, Hendrie me ampara a tempo e evita que eu caia. Ainda nos braços, ele me leva até o sofá e estica minhas pernas maltratadas pela mata. 

— Nunca vou me perdoar por ter te deixado sozinha tanto tempo. 

— Não foi sua culpa, eu me descuidei do caminho e não estou mal com isso, foi apenas um susto. — Tento tranquilizá-lo 

— Começamos as buscas pelo lago, por um momento eu pensei que estivesse morta e nada vai me fazer superar o medo que passei, a noite mais longa da minha vida. 

— Foi a mais longa da minha, também, os barulhos eram horríveis e as horas pareciam não ter fim, os barulhos eram altos demais e me fizeram ter medo dos meus passos. Quando finalmente percebi que não tinha mais forças, eu me sentei no chão e orei para que você me encontrasse, não me lembro de nada depois disso. 

Ele me beija e acalenta meu pobre coração acelerado querendo algo mais safado. 

— Eu prometo que vou ser alguém digno de você, bailarina, nem que para isso eu precise nascer de novo. 

— Arrume a sua bagunça, é o que um bom homem faria. 

Hendrie beija minha testa e se levanta, deitada eu o observo cozinhar vestido com um avental de flores. Quem o vê assim não acreditaria que ele fosse capaz de fazer mal a alguém. 
Mas ninguém precisa acreditar além dele mesmo, é ele quem precisa enxergar os próprios erros. 

Não mudamos por amor alguém, o amor não cura ou transforma pessoas, ele na verdade pode ser o caminho que vai levá-lo a entender o que precisa ser mudado
Hendrie necessita de algo que vai além do que amor pode dar, ele precisa encontrar a própria alma aprisionada no rancor e permitir que ela encontre a uma paz chamada perdão. 
 

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Oct 28, 2021 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Um Céu para Mil Estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora