Capítulo 10

1 0 0
                                    


Hendrie

— Adivinha o que achei para o jantar? - Anúncio, sabendo que a curiosa de plantão se anima sempre que tento a surpreender. 

Espero pela pergunta que não vem e só então percebo o silêncio. 
Talvez esteja no banheiro, seu lugar favorito da casa, preciso questionar se ela é viciada em banhos, mas não a encontro. 

Percorro cada cômodo a sua procura e ela não está, já passam das seis, o céu está sendo pintado de um azul escuro anunciando a chegada da noite, mas Helô não pode estar longe já que a é a pessoa mais medrosa que eu conheço. 
Me ajeito na cadeira de balanço da varanda e espero a danadinha, é óbvio que está se vingando pela noite que caminhei até o vilarejo e enchi a cara por lá. Eu precisava colocar os pensamentos em ordem, não estou à altura de alguém como ela e não quero me dar ao luxo de desejar o que não me pertence. 

Helô é como minha mãe, Pérola era boa até quando o mundo lhe dava as costas, ela procurava justificativas para o mal que fizeram a ela, assim como Heloísa tende a defender uma mãe narcisista e o namorado babaca. 
Tão babaca quanto eu com as mulheres que cruzaram meu caminho, não posso querer algo tão bom quando sou a réplica de seu ex, ela merece mais. Mas eu, como um filho da puta, não consigo fugir. Eu a olho e seu corpo todo grita por mim, os olhares famintos e as risadas sem sentido, cada poro do meu corpo sabe que ela me quer assim como eu a quero, só preciso achar a linha certa e não ultrapassá-la. .

A noite chegou fazendo meu coração começar a acelerar, ela nunca demoraria tanto lá fora; mesmo com toda birra que é capaz de fazer, Helô não se colocaria em perigo apenas por isso. 

Caminho em volta da cabana procurando por sinais e orando para que ela esteja falando com as plantas como costuma fazer, cada lugar que eu olho e ela não está é como sentir gelo espetando minhas veias e trazendo o medo para perto. 

Depois de duas horas à sua procura, eu reconheço o inegável, ela se perdeu e eu preciso de ajuda. 
Busco pelo meu celular, esquecido em um gaveta, e disco o número de Ademar, o sinal é péssimo, mas o universo entende meu desespero e no primeiro toque ele atende. 
O interior tem a característica mais incrível que esse país possui, as pessoas são empáticas, quando alguém está com problemas — não importa qual seja — todos se dispõem a ajudar, sem se importar o quanto isso custe. 
Quinze minutos que levam quase uma vida e a luz dos faróis me ilumina, metade da vila deve estar aqui e, juntos, combinamos por onde começar, explico sobre a tarde e a possível corrida que eu acredito ser o motivo de estar perdida.

Nós começamos por perto enquanto uma outra equipe decide que, por precaução, é melhor olhar o lago, que Deus me ajude e ela não esteja lá.

— Bailarina! 

Grito cada vez mais forte enquanto os outros também chamam pelo seu nome, já são horas infinitas caminhando e nem sinal dela. Os homens carregam rádios que funcionam melhor que celulares por aqui e se comunicam entre eles, mas ainda não há rastros que possam dizer que ela esteve em algum lugar. 

— Sei que não quer ouvir isso, filho, mas talvez seja melhor você voltar daqui, se um de nós encontrar ela, é melhor que esteja na cabana. — Isaque, dono da venda e morador mais antigo da região, sugere.

— Quero continuar, se não se importa, ela deve estar assustada e vai ser bom saber que estou aqui com ela. 

— Menino, me ouça, precisa se preparar para a possibilidade dela não estar mais entre nós, já estamos longe o suficiente para ela encontrar cobras e animais que a machucariam fatalmente. Não me entenda mal, mas você precisa ser forte e voltar. 

Sem pensar, eu o agarro pelo colarinho da camiseta fazendo com que todos a nossa volta se espantem.

— Ela está viva, Isaque, viva, entendeu? Não há como Deus ter a coragem de fazer isso comigo novamente. 

Um Céu para Mil Estrelas Onde histórias criam vida. Descubra agora