Capítulo 6

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Safira.

Por cinco dias inteiros eu fiquei trancada no quarto, não queria sair e muito menos socializar com a minha "família" fingia estar dormindo para não ter que conversar.

Eu queria continuar quieta em meu canto, eu estava sentindo o luto corroer minha alma a cada segundo, eu precisava, precisava visitar minha mãe, eu precisava.

Minhas asas farfalharam como se perguntassem... "Vamos desafiar os ventos? Encrenqueira".

Todos os dias eu recebia bilhetes, do... Cassian.

Ele mandava constantemente eles.

Eu li o último de hoje.

Há dias bons e dias ruins, não esqueça que depois de uma tempestade sempre há o Sol que nasce para todos.

Nós a amamos, não esqueça disso.

Eu pus o bilhete no móvel, e me encaminhei até a sacada, estava torcendo para que ninguém estivesse me vigiando, e não hesitei quando saltei lá de cima, o vento me abraçou como um antigo amigo.

Como minha mãe dizia.

"A mãe lhe abençoou com essas asas, e o vento e o céu te abraçaram como afilhada deles."

Eu fechei os olhos, sentindo aquela sensação de liberdade, e então abri meus olhos, um olhar determinado, minhas asas se abriram e eu me lancei para cima, pintando aquele céu que parecia suspirar com o meu retorno.

O vento a cada uivo parecia gritar "bem vinda de volta".

Bati minhas asas, dando guinadas e rasantes no céu, o vento beijando meu rosto, abraçando meu corpo e acariciando os meus cabelos, pude apreciar a bela cidade de cima, bela, Jef sempre me dizia que velaris era como o paraíso, que a terra de leite e mel para onde vamos quando partimos é semelhante, com belas estrelas que mal podemos contar.

Apesar de ser dia, a cidade continua sendo bela.

Eu me envolvi como o meu poder, me preparando, e então atravessei os escudos da cidade com uma rajada, me levando para as nuvens, eu não arriscaria ser vista de novo.

Eu devo ter voado por algumas horas, quando cheguei a caverna uma forte chuva caía lá fora, como se o mundo estivesse para desabar.

Um trovão soou me arrancando de meu devaneios, eu caminhei para dentro, minha magia iluminando a caverna, e... Ela.

Continuava como a deixei, tão pacífica, tão serena.

Eu caí de joelhos diante dela, as asas baixas, soluçando.

— Mãe. —minha voz saiu um choramingo— eu os encontrei, encontrei os meus pais como você havia dito que eu encontraria, mas... Mas eu não consigo aceitar bem.

Eu funguei, as lágrimas inundando meu rosto.

— Eu sinto que se eu aceitá-los, eu vou esquecer de você pra sempre, e isso eu não quero. -sussurrei.

Eu olhei para cima.

— Sei que também vou esquecer do meu pai se fizer isso. —sussurrei— lembra? Somos eu e você contra tudo?? E agora terei de esquecer isso??

Eu deitei naquele chão duro e frio, me aconchegando do lado daquele caixão de cristal.

— Enquanto eles olhavam para as estrelas e desejavam... Eu sangrava pela a minha liberdade.  -sussurrei.

Eu chorei, e eu mesma me acalmei, sequei minhas lágrimas, e ali dormi, aconchegada e encolhida, as minhas asas formando um casulo.

Corte de Asas e LiberdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora