01: Quartzo

118 20 53
                                    

𝐓𝐨𝐝𝐚𝐬 𝐚𝐬 𝐦𝐚𝐧𝐡𝐚̃𝐬 𝐬𝐚̃𝐨 registradas pelos sinos das bicicletas dos entregadores de jornal, em um vilarejo humilde, é a única forma de alguns cidadões saberem o que está acontecendo no reino, ou o que eles deixem que saíbam. Quando o entregador chega a porta de uma pequena casa de madeira, com um jardim muito bem cuidado a frente, já se depara com uma moradora sentada na escada o esperando. O vento batia em seus cabelos castanhos claros, que ficavam com os fios nervosos passando em seu rosto, a cor de seu cabelo cabia perfeitamente a de seus olhos cor de café, fixos ao chão enquanto estava entretida com uma flor, como uma criança quando ganha um brinquedo novo; ela toma um susto ao ser alertada pelo entregador.

— Anda muito destraída, Ávilla! - O entregador fala em um tom brincalhão.

Ela se levanta entediada e se dirige até ele tomando o jornal - Odeio quando é meu dia de pegar jornal.

Ela joga uma moedinha para o alto quando entra pela porta da casa, fazendo o entregador se esforçar para pegar a mesma no ar, depois lançando um sorriso sínico pelo ombro.

— Está aqui vó, seu jornal. - Ávilla fala colocando o objeto a mesa cuidadosamente, e logo se pondo a ela também.

A senhora folheou o jornal e logo teve reações de revolta em sua face - Está cada vez mais difícil de se viver aqui, filha.

— Deve haver um lugar melhor - Ávilla fala pegando uma maça em uma tijela de argila no centro da mesa de madeira.

— Existem muitos filha, mas estamos condenados a ter essa vida ruim para sempre. É o preço pelos nossos erros.

— Quais erros? Me polpe vó, a vida só continuará ruim se nós quisermos. Tudo depende de nós mesmos, como a senhora sempre diz - Ávilla rebate boqueando a maça.

— Não podemos ir a qualquer lugar tão facilmente Ávilla, nossa família é diferente. É como se fossemos vigiados a todo momento e...

Ávilla se assustou com o comentário que a avó soltou em uma voz tensa e trêmula nunca vista antes - O que a senhora quer dizer?

— A culpa de tudo isso é da sua mãe, não estaríamos nessa situação se ela não tivesse sido fraca. - A avó de Ávilla leva a mão ao rosto, decepcionada.

— O que? Minha mãe? A senhora mal fala dela e quando diz algo fica falando em códigos, isso é ridículo, eu já tenho idade o suficiente para que tenha uma conversa a altura comigo. - Ávilla se levanta estressada, batendo a mão a mesa

A avó de Ávilla se retira aos poucos, indo para o quarto no fim do corredor. - Não sou eu quem irei te explicar. Desculpe, filha.

Pelo ao menos, alguém vai.

Ávilla calçou suas botas marrons sem cadarço e saiu da casa, desaforada, batendo a porta da casa.

[...]

O vilarejo era grande, mas uma pequena fração do tamanho do reino. Apesar de ser uma região com pessoas de classe baixa, tinha vários estabelecimentos e até estações de trem que cortavam as nações vizinhas, dando um acesso maior aos moradores. As estradas eram desproporcionais, umas maiores e outras menores, de pedra, terra ou asfaltadas - o trabalho incompleto do rei, que mal aparecia - Ávilla já tinha acabado a escola, e seu dia era totalmente vago, nunca conseguiu arrumar um trabalho e nunca se prestou devido seu repulso ao rei.

Andando por uma estrada calçada e vazia, reclamando da vida, Ávilla nota um brilho que reluzia com o sol da manhã, foi vagarosamente conferir o que era. Quando agachou se deparou com uma pedrinha, deveria ter uns cinco centímetros, era roxa e parecia ter um conteúdo estranho dentro, que estava fora da compreenção dela, era semelhante a um céu estrelado em uma noite de verão, algo no interior da pedra se movia, como um frasco que guardava um lugar misterioso. Atraiu a atenção da jovem, que colocou a joia no bolso da calça e seguiu caminho rumo a qualquer lugar que estivesse longe de sua casa.

Last Woman Onde histórias criam vida. Descubra agora