Vida Perfeita

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Nova York - 21:53

Já faltavam poucos minutos para as 10 horas, quando finalmente o último cliente sai, Mia se pergunta quem raios bebia café tão tarde da noite? incrivelmente havia pessoas que sim. Era paga para isso então tinha que permanecer ali até esse horário. Estava cansada, o dia foi muito exaustivo e barulhento, os pés doíam assim como as costas também.
Termina de limpar tudo, troca de roupa, e decide caminhar até em casa. Não se sentia muito confortável com essa ideia já que estava muito tarde e qualquer mulher sabe o medo que isso representava.

Mia tem a estranha sensação de estar sendo seguida, na verdade essa sensação a acompanhava sempre, quase todos os dias, ela tinha esse arrepio na espinha como se avisasse que alguém estava por perto, mas a maioria das vezes por ser algo constante, ela não se incomoda, pelo contrário, se acostuma com aquela presença, o que quer que aquilo fosse.

Mia abre a porta do seu apartamento e encontra tudo silencioso e escuro, encosta na parede e tira os sapatos. Ela ouve então barulhos vindo da cozinha, de colheres e panelas se.

— Ei! o que você está fazendo aqui? não era pra chegar só às 10? - diz ele todo atrapalhado enquanto mexia alguma coisa na panela.
— Já são 10 horas. - Mia diz rindo e estranhando.

Ela olha para o lado e na sua pequena mesa de jantar na cozinha estavam velas acesas e flores, assim como os pratos e talheres pra dois.

— O que é isso? - ela olha confusa.
— Era pra ser surpresa - ele se aproxima tirando o pano de prato do ombro.

Ele aproxima-se atrás dela, era alto, por isso a cabeça de Mia ia até só o seu peito. Ele após encaixá-la junto a ele beija seu ombro.

— Feliz 2 anos juntos - ele beija sua bochecha.
— Erwin! - ela leva as mãos a boca assustada. - Como eu fui capaz de esquecer meu deus me desculpe.
— Tudo bem Mia, eu não ligo para isso.
— Mas eu deveria lembrar, e preparar uma surpresa pra você também - ela leva as mãos cobrindo o rosto.
— Mia - ele pega as mãos dela - tudo bem, você estando aqui é o que importa.

Ela sorri e lhe puxa para um selinho demorado. Erwin sente o cheiro de queimado vindo da panela e logo sai do beijo rapidamente correndo até fogão.
Mia ri e se senta na mesa.
Eles se servem e estavam prontos, um na frente do outro sentados como se estivessem em um restaurante, a luz de velas, com um bom vinho.

— Dois anos hm... - Mia diz pousando os talheres.
— O tempo voa.
— Sabe o que eu acho engraçado? pode não fazer sentido pra você mas, para mim esses últimos dois anos são os únicos que lembro perfeitamente de tudo que aconteceu. Como se tudo antes disso fosse só um vulto rápido, não sei explicar - ela diz pensativa - Não acha que deveria ir ao médico? talvez é uma daquelas doenças de perda de memória.
— Acho impossível, você tem a memória incrível, quer ver? - ele diz juntando as duas mãos com os cotovelos apoiados na mesa - O que eu estava usando no nosso terceiro encontro?
— Camiseta azul, calça azul escura e um sapato preto, ah e aquele relógio que você gosta de usar sempre. Mas isso não que dizer nada.
— Hmm e o que nós pedimos quando fomos aquele restaurante no centro na semana passada?
— Você pediu um arroz de mariscos, com polvo e um pouco de agridoce, e mais um vinho tinto. Eu um risotto, com um rose - ela diz rapidamente.
— Viu! deve ser só coisa da sua cabeça.
— Talvez...

Eles continuam jantando e Mia parece ficar um pouco mais deprimida aos poucos, não que tenha chegado muito animada, mas hoje estava se sentindo mal, se perguntou diversas vezes no seu dia se era aquilo mesmo que ela deveria estar vivendo. Uma vida tão... normal.
Com o seu próprio emprego, no último ano da universidade, com um namorado bem mais velho, comandante militar, importante para o país, rico e bem resolvido, educado, com uma oratória impecável e um poder de persuasão muito forte. Erwin era perfeito, tudo que ela poderia pedir em alguém, mas por que ainda sentia como se algo estivesse faltando? algo simplesmente não estivesse ali.

Sensei: Memórias | parte 2 Onde histórias criam vida. Descubra agora