Sensei: Memórias | parte 2

Solidão

Gojo dirige por algumas horas, seguindo reto, sem direção nenhuma, ainda não estava na hora de pegar o voo. Dirige quieto, preso nos próprios pensamentos, nos próprios erros, acertos, na vida que estava levando, na vida miserável e sem vida que levava já fazia um tempo.

Desde que Mia se foi, Gojo não conseguiu se relacionar mais com ninguém, nem mesmo uma ou outra ficada, sentia o peso das palavras dela sempre que tentasse, como se eles estivessem juntos, e ela repetia no ouvido dele "você fará mesmo isso comigo?".
2 anos de pura tortura psicológica contra ele mesmo, por fora parecia bem, restaurado e feliz por vê-la construir sua vida aos poucos. Mas quem ele queria enganar? por dentro estava oco, vazio e seco, de dia o Gojo que adorava brincar com todos, piadas, sarcasmos, o seu ego direcionando todas as suas ações e o narcisismo de se achar superior a qualquer ser existente, a noite, o bebado chorão que soluçava no quarto enquanto se chamava de incompetence, fraco, burro, idiota e entre muitos outros xingamentos.

Ele nem percebe quando dirigia e as suas lágrimas caem, sozinhas e silenciosas, assim como ele estava agora.
" estou grávida" palavras que nunca saíram mais da sua cabeça e ficavam rondando pra lá e para cá.

Gojo decide parar em um bar, um lugar escuro, e escondido, e em plena 4 horas da tarde decide beber, era a única coisa que conseguia fazer naquele momento.

Ele senta no banco em frente ao balcão, pede ao bartender que lhe sirva algo forte, e permanece olhando para a mesa, vagamente, com os olhos molhados e o coração vazio.

— Dia difícil chefe? - ele olha preparando a bebida.
— Vida difícil - ele pega o drink e bebe de uma vez.
— Não está fácil para ninguém, deixa adivinhar, mulher?

Gojo acena que sim com a cabeça.

— Loira ou morena? - ele questiona.
— Ruiva.

O homem ri, um pouco alto demais.

— É mais difícil esquecer não é?
— Ela é impossível de se esquecer.
— É o que todos dizem quando sentam aí. - ele coloca o pano de prato no ombro.
— Você não entende, ela é muito mais do que você possa se quer imaginar.

Ele ri, e prepara uma sequência de drinks, que da para Gojo, esse perdendo a noção de que iria acabar bem mal.

— Ela foi tudo para mim, eu não consigo lembrar de como era a minha vida antes dela, e se eu se quer tentar lembrar, parece uma memória horrível.
— Oh estamos falando de amor então?
— Sim. - ele admite finalmente.
— E qual o problema? não é correspondido?
— Eu.. eu não sei - ele balança a cabeça confuso - a culpa é toda minha, eu sempre estrago tudo, e além do mais, eu nunca seria o que ela precisa de verdade.
— Ela lhe falou isso? - ele arqueia uma sobrancelha.
— Não, ela não precisou. Vai seguir a vida dela com alguém que realmente ela merece, vai ter uma criança - Gojo começa a chorar - ela será a mãe mais linda desse mundo, a mais doce, a mais amável, a mais sincera. É terrível a dor de não poder dizer isso da mãe do seus filhos, pois ela nunca será a dos meus.
— Se ela não lhe disse o que ela mesmo precisa, não tire conclusões precipitadas, você pode estar sofrendo pelo que você acha que ela pensa de você.- ele pergunta.

Gojo olha para um ponto específico do bar, não havia nada, o fundo do poço era um lugar que Gojo foi poucas vezes, mas dessa, parecia que tinha ido além, estava no centro da terra, sozinho e com frio, sem o "fogo" que precisava para lhe aquecer.

— Mas eu a amo, e eu jamais poderia vê-la sofrer, eu causei muito sofrimento a ela, me mataria antes de fazer de novo.
— Sinceramente meu amigo, você está carregando um peso que não é só seu. Parabéns por querer protegê-la, cuidar do coração dela, mas pergunte o que ela quer, por que se a resposta for você, você está perdendo uma grande oportunidade de ultrapassar isso para ficar com o amor da sua vida.

Gojo olha para ele com os olhos vermelhos, cansados de chorar.

— Você é psicólogo nas horas vagas?
— Não - diz rindo - mas aqui, nesse banco que está sentado passam muitas histórias, aprendo com elas.

Gojo bebe o último shot da fileira.

— Eu a perdi, já é muito tarde, eu não posso ser a razão para atrapalhar o futuro dela mais uma vez. - Ele se levanta e abre a carteira - Obrigada pela bebida, e pela conversa.
— Espero que você consiga superar essa.

Gojo acena e joga as notas no balcão, indo embora. Tinha que voltar para o Japão e esquecê-la, se ao menos pudesse a beijar uma última vez, toca la, sentir o seu cheiro. Era tudo que desejava. Estava vendo aos poucos a sua princesa deslizar sobre as suas mãos, pela segunda vez.

E assim acaba nossa história, Gojo sozinho e Mia feliz......... Fim

ou será que não?

Ideias e opiniões sobre o que acham que vai acontecer, e como esse jogo pode virar, Teremos um Gojo voltando se declarando? uma Mia desesperada atrás do verdadeiro amor da sua vida? teremos Mia mamãe feliz com sua família tradicional brasileira? O que será que vem aí. Amanhã, Amanhã, Amanhã.